sexta-feira, 15 de março de 2013

Nossa Senhora Desatadora dos Nós


Virgem Maria, Mãe do belo amor, 
Mãe que jamais deixa de vir 
em socorro a um filho aflito, 
Mãe cujas mãos não param nunca 
de servir seus amados filhos, 
pois são movidas pelo amor divino 
e a imensa misericórdia 
que existem em teu coração, 
volta o teu olhar compassivo sobre mim 
e vê o emaranhado de nós 
que há em minha vida. 
Tu bem conheces o meu desespero, 
a minha dor e o quanto estou amarrado 
por causa destes nós. 
Maria, Mãe que Deus 
encarregou de desatar os nós 
da vida dos seus filhos, 
confio hoje a fita da minha vida em tuas mãos. 
Ninguém, nem mesmo o maligno 
poderá tirá-la do teu precioso amparo. 
Em tuas mãos não há nó 
que não poderá ser desfeito. 
Mãe poderosa, por tua graça 
e teu poder intercessor 
junto a Teu Filho e Meu Libertador, Jesus, 
recebe hoje em tuas mãos este nó......... 
Peço-te que o desates para a glória de Deus, 
e por todo o sempre. 
Vós sois a minha esperança. 
Ó Senhora minha, 
sois a minha única consolação dada por Deus, 
a fortaleza das minhas débeis forças, 
a riqueza das minhas misérias, a liberdade, 
com Cristo, das minhas cadeias. 
Ouve minha súplica. 
Guarda-me, guia-me, 
protege-me, ó seguro refúgio!
Maria, Desatadora dos Nós, roga por mim!

Um meio ou uma desculpa


Ensaios de separação


Quem bate boca todos os dias está se preparando para virar a página

IVAN MARTINS

Detesto brigar de manhã. Quando se briga à noite, ainda há chance de reconciliação antes do sono. Talvez as pazes possam vir pela manhã, na mesa do café. Mas, quando se briga logo cedo, não tem jeito. A gente sai de casa irritado, às vezes até batendo a porta, e passa o dia com aquela sensação opressiva no peito. Pura infelicidade. Acho que faz um mal danado à saúde. Certamente faz mal para a relação. 
Nem todo mundo percebe, mas o pesar que a gente carrega depois de uma briga é uma forma severa de luto. Ele deixa na boca o mesmo gosto da separação. É uma sensação dolorosa de perda, recoberta por uma camada de fúria e indignação. O nosso cérebro viaja cento e cinquenta vezes por segundo entre o mais completo desalento e a mais lúcida justificação. Enquanto isso, os hormônios da tristeza tomam conta. Mesmo que alguma forma de reconciliação nos resgate ao longo do dia, o dano está feito. Fizemos mais um ensaio de separação. 

Nem todo mundo se dá conta, mas essas brigas diárias são os caquinhos com que a gente faz um caminho. Num dia você briga, sofre um pouquinho e aguenta. No outro, dói um tantinho mais e, novamente, supera. Multiplique isso por semanas e meses e você tem a perfeita preparação para o desenlace: quem lida com a discórdia todos os dias acaba vivendo em luto. Antecipa o pesar da ruptura, na verdade. É uma espécie de adiantamento. Um belo dia, depois de mais um arranca rabo, percebe que está pronto para virar a página e seguir sozinho. Já sofreu em conta gotas o que tinha de sofrer. 
Dizem que há gente que adora discussões e curte relacionamentos que funcionam aos berros. Eu não duvido, mas que tipo de gente? Todo mundo que eu conheço que vivia em conflagração acabou se cansando. Como boxeadores exaustos, jogaram a toalha com a cara ensanguentada. Gente normal. Os que gostam de armar barracos, aqueles que amam trepar como bichos depois de sair aos tapas, pessoas que apenas se sentem vivas quando a adrenalina de uma briga faz o coração bater mais rápido – para esses eu não tenho nada a dizer. 
Há também as brigas por princípios. Claro, é impossível viver muito perto de alguém sem brigar de vez em quando. O convívio acumula alguma forma de energia negativa que tem de ser descarregada. Seres humanos não são inteiramente destinados à intimidade. Uma parte de nós se rebela com o excesso do convívio. Então brigamos, para demarcar um espaço psicológico bem claro – eu acabo aqui, você começa aí, não invada! É necessário impor limites e estabelecer fronteiras o tempo inteiro, mas a gente faz isso com suavidade. Em geral, basta um rosnado para que o outro perceba onde tem de parar. 
Se o sujeito chega em casa celebrando a morte do Hugo Chávez e você acha que o presidente da Venezuela era um herói latino-americano – eis um bom motivo para uma discussão. Se você está transtornada com o cara que atropelou o ciclista na Avenida Paulista e jogou o braço dele no rio, enquanto o seu namorado acha que todo ciclista tem mesmo de se danar – eis um excelente motivo para uma briga definitiva. Se você acredita que tem o direito de almoçar com uma amiga e a sua namorada acha que não, arregace as mangas e comece a falar sério com ela. Se ele insiste em conviver com a família ou os amigos dele o tempo todo, e você não se sente feliz com eles, ponha suas cartas na mesa. As brigas por motivos relevantes são como as guerras justas – mais que explicáveis, necessárias. 
O que não se pode, o que não se deve, é brigar por besteiras diariamente. Assim os relacionamentos se desgastam. A nossa natural inclinação à ternura vai sendo embotada pela raiva até que o coração paralise. Até que a voz do carinho emudeça. Até que os olhares se percam um do outro. Melhor não. Muito melhor é tomar as mãos delas nas suas e dizer coisas baixinho. Lembre: não fomos feitos para o atrito. Na intimidade, somos afáveis e macios. No nosso interior jazem sentimentos de infindável doçura. A raiva é apenas uma parte do que nos reveste. Vira e mexe temos de exibi-la, mas, lá dentro, nossa real substância é outra. Internamente, somos feitos com o material intangível do sorriso dos bebês. Não queremos brigar e muito menos chorar. 
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras) 

Verdade


O Papa Francisco, chamado a restaurar a Igreja


Nas redes sociais havia anunciado que o futuro Papa iria se chamar Francisco. E não me enganei. Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer:”Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruinas”(S.Boaventura, Legenda Maior II,1).
Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruíu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”(op.cit). Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.
É bom que se saiba que Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.
Por que o Card. Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? A meu ver foi exatamente porque se deu conta de que a Igreja, está em ruinas pela desmoralização dos vários escândalos  que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.
Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ”O não de Francisco àquele tipo de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético”(em Zeit Jesu, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo.
Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas e Ratizinger principalmente punham sobre os ombros a mozeta aquela capinha, cheia de brocados e ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Três pontos são de ressaltar em sua fala e são de grande significação simbólica.
O primeiro: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era cobrado. O Papa não deve presidir com como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como o prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.
O segundo: deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos não se reconhecem como irmãos e irmãs mas reféns dos mecanismos da economia.
Por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.
Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Terra e onde vivem 60% dos católicos. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.
Leonardo Boff é autor de São Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 1999

sexta-feira, 8 de março de 2013

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

Em memória da Eliza


RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
É um tapa na cara das mulheres a punição de mentirinha imposta ao goleiro Bruno. Antes capitão adorado do Flamengo, hoje Bruno é mais um ídolo dos assassinos covardes e cínicos. A condenação esperada para o homicídio, sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio era de 28 a 30 anos de prisão. A sentença final, de 22 anos e três meses, seria condizente com o crime hediondo se fosse toda cumprida. Mas a lei brasileira – ah, a lei... – pode deixar Bruno livre, leve e solto para churrascos e peladas daqui a menos de três anos. Quem sabe um contrato com um clube?

A confissão tardia reduziu a pena. O trabalho e o bom comportamento na cela livrarão Bruno do cárcere com pouco mais de 30 anos de idade. Ele, que deu festão no dia seguinte ao homicídio, posou de triste e acabrunhado para o país no julgamento desta semana. Durante anos, repetiu que não havia crime: “Torço para que ela possa aparecer viva”. Agora, orientado pela defesa, confirmou que sabia de tudo: “Eu sabia e imaginava”. Bruno “imaginava” que a ex-amante e mãe de seu filho Bruninho seria sequestrada, enforcada, esquartejada e jogada aos cães?

A sentença foi proferida na madrugada do Dia Internacional da Mulher. Não sou fã de datas especiais para “minorias” – ainda mais porque somos maioria. Mas admito que o 8 de março seja um bom pretexto para examinar estatísticas globais de emprego, salário, jornada dupla e violência contra a mulher, como agressões, espancamentos, estupros e assassinatos.
O goleiro, a namorada, o bebê e o Flamengo

Segundo a ONU, sete em cada dez mulheres no mundo sofrerão algum tipo de violência física ou sexual ao longo da vida. É um número espantoso, amedrontador. Eliza, ao engravidar de Bruno e exigir reconhecimento e pensão, candidatou-se a engrossar as estatísticas da ONU. O Brasil é, no ranking mundial, o sétimo país em assassinatos de mulheres. E ainda há quem ache que garota de programa merece castigos assim: “Ela estava pedindo”.

Bruno, hoje com 28 anos, tem uma conexão estranha com o Dia Internacional da Mulher. Na véspera do 8 de março de 2010, o então supergoleiro do Flamengo, ídolo do time com 33 milhões de torcedores, cotado para a Seleção, defendeu desastradamente seu colega Adriano, que batera na namorada: “Qual de vocês nunca saiu na mão com a mulher? Não tem jeito: em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Depois, pressionado pela família e pelo clube, voltou atrás: “Peço desculpas a todos pelo que foi dito. Tenho filhas e as amo muito. Todas as mulheres merecem carinho”.
Aos 31 anos, Bruno poderá estar livre. Sua punição de mentirinha é um tapa na cara das mulheres 
O “carinho” que o goleiro de 1,91 metro dispensou a Eliza teve vários capítulos. Primeiro, ele tentou obrigá-la a abortar. Ameaçou-a. Eliza, grávida de cinco meses, foi à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher no Rio, denunciou Bruno, pediu proteção e foi gravada pelo jornal carioca Extra. “Ele me deu dois bofetões... Enfiou uma arma na minha cabeça... E me disse: ‘Sou frio e calculista. Vou deixar a poeira baixar e vou atrás de você. Se eu te matar e te jogar em qualquer lugar, as pessoas nunca vão descobrir que fui eu’.”
Quase um ano depois, Eliza foi levada para o sítio de Bruno, ficou em cativeiro e foi morta com requintes de crueldade – o bebê escapou do mesmo fim por sorte ou compaixão. Bruno foi para o campo do clube treinar e deu entrevista, riu. Disse que Eliza sumira “para resolver questões pessoais”. Ainda se mostrou religioso: “Deixei nas mãos de Deus, Deus sabe o que faz”.

Bruno tinha certeza da impunidade. Estava errado. Não contava que seria traído por primos e pelo amigo e cúmplice Macarrão. O comentário nas ruas era: “Como um cara pode ser tão burro como o Bruno e jogar a vida no lixo?”. Burro é pouco, muito pouco, para defini-lo. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues considera Bruno “frio, violento e dissimulado”. Para ela, o crime foi “uma trama diabólica meticulosamente calculada”. O maior exemplo disso foi o sumiço do corpo: “A supressão do corpo humano é a verdadeira violência (...), um ato de desprezo e vilipêndio”.

A mãe de Eliza, dona Sônia, que hoje cuida do neto Bruninho, teme por sua vida e pela do garoto, quando Bruno sair da prisão. Insiste em perguntar algo que ninguém respondeu: “Onde está o que restou do corpo da minha filha? Meu neto vai crescer e também vai querer saber”. Ela não acredita que os pedaços do corpo de Eliza tenham sido consumidos por cães sem deixar vestígios. Ela quer ver e enterrar o que sobrou da filha. Dona Sônia e Bruninho têm o direito de saber.

A sociedade tem o direito de não gostar de que Bruno seja solto após sete anos de prisão, como aconteceu com o ator Guilherme de Pádua. Ele matou a golpes de tesoura a atriz Daniella Perez, filha de Gloria Perez, em 1992. Consolou a família no enterro, mas saiu livre em 1999. Tudo de acordo com a nossa branda lei para crimes tão perversos.

sábado, 2 de março de 2013

Cinco quilos a mais, meia hora a menos

Estar pouco acima do peso ideal rouba 30 minutos de vida diária. O conceito de microvida e o impacto de nossas escolhas


 Não conheço uma só pessoa que tenha sido convencida a adotar uma vida mais saudável graças a mensagens impositivas e moralistas do tipo: “Faça isso, não faça aquilo”; “Seja assim, não seja assado”. O tom adotado para propagar grande parte dos conselhos de saúde é inadequado e ineficaz. Em vez de promover mudança, cria rejeição.
Está certo quem diz que os maus hábitos de hoje vão roubar qualidade e anos de vida no futuro, mas esse discurso não faz o sedentário sair do sofá nem o glutão parar no primeiro hambúrguer.
A mudança só acontece se a pessoa tomar consciência genuína dos riscos que corre ou se tiver alguma outra grande motivação. Um susto provocado por uma doença grave, um comentário marcante feito por uma pessoa querida, o desconforto cotidiano provocado por um hábito que se tornou estorvo.
A transformação nasce de um processo individual, silencioso e, muitas vezes, sem explicação fácil. Pergunte a um ex-fumante ou a um ex-gordinho por que ele resolveu mudar de vida e, possivelmente, ouvirá algo assim: “De repente, caiu a ficha”.
Caiu a ficha de que ele gostaria de viver bem hoje, agora mesmo. O futuro, essa coisa intangível, complica a equação. Dizer para uma pessoa “se economizar” para ter um futuro melhor é, quase sempre, pregar no deserto.
 Incomodado com essa constatação, um professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, resolveu criar uma forma de demonstrar o impacto dos maus hábitos sobre a vida diária. Em vez de falar sobre o futuro, fala sobre o presente.
David Spiegelhalter é bioestatístico. Ele reuniu os estudos populacionais mais confiáveis sobre o impacto dos hábitos diários sobre a expectativa de vida. Fumar encurta a vida em quantos anos? E estar acima do peso? E beber? E ser sedentário?
A partir desses dados, o professor estimou o impacto dos danos sobre cada dia de vida. O trabalho foi publicado nesta semana no British Medical Journal. Os cálculos se basearam nas escolhas de homens e mulheres de 35 anos que continuassem com os mesmos hábitos ao longo do resto da vida.
Para expressar os resultados, ele criou uma unidade, chamada de microvida. Cada microvida indica a perda ou ganho de 30 minutos diários de vida. Alguns exemplos: 
Perda de vida diária
• Estar cinco quilos acima do peso: menos 30 minutos
• Fumar dois cigarros por dia: menos 30 minutos
• Beber três doses de bebida alcoólica: menos 30 minutos
• Comer carne vermelha todos os dias: menos 30 minutos
• Passar duas horas diárias no sofá: menos 30 minutos
Ganho diário de vida
• Fazer pelo menos 20 minutos de atividade física diariamente: ganho de 60 minutos
• Comer frutas frescas e vegetais diariamente: ganho de 120 minutos
• Beber duas ou três xícaras de café por dia: ganho de 30 minutos
• Controlar o colesterol com remédios, quando isso é necessário: ganho de 30 minutos 
O conceito de microvida exige alguma abstração. OK, os dias têm apenas 24 horas, mas pensar na velocidade do envelhecimento como Spiegelhalter propõe é estimulante. Fica mais fácil entender que quanto mais uma pessoa acumula maus hábitos, mais rapidamente ela “queima” seu estoque de horas de vida a cada dia que passa.O professor também usou a unidade microvida para expressar o resultado de determinados dados demográficos sobre as condições de saúde. Na comparação com os homens, as mulheres têm uma vantagem de 120 minutos diários de vida. Um homem que nasce e vive na Suécia tem uma vantagem de 630 horas diárias em relação a um russo. Viver em 2010 representa um ganho de 450 horas diárias em relação às condições sanitárias, sociais e econômicas de 1910.
“Quem fuma 20 cigarros diariamente corre em direção à morte 29 horas por dia, em vez de 24”, diz Spiegelhalter.
A nova ferramenta é interessante, mas têm limitações. Os cálculos são baseados em hábitos adotados ao longo de uma vida inteira. Não é possível usá-los para apontar, por exemplo, os malefícios de poucos cigarros tragados em um momento específico da vida.
Além disso, as perdas e ganhos de vida são médias calculadas de acordo com os dados obtidos em estudos populacionais. Esses dados ignoram a variabilidade existente entre as pessoas e a forma como o organismo de cada um reage a estímulos benéficos ou maléficos.
Bons hábitos prolongam a vida. Ajudam a viver mais e melhor. As boas escolhas ajudam a explicar porque alguns idosos chegam saudáveis e bem dispostos aos 80 anos, enquanto a maioria envelhece mal. O estilo de vida saudável, no entanto, não é suficiente para explicar a existência de superidosos como o arquiteto Oscar Niemeyer, morto recentemente aos 104 anos.
Só uma genética rara e caprichosa é capaz de fazer alguém chegar a essa idade, apesar de ter fumado, bebido e comido muita carne vermelha ao longo de toda a vida. 
Como ninguém sabe se terá a sorte de ser um Niemeyer, só nos resta assumir que o presente e o futuro decorrem de nossas escolhas. Neste Natal e em 2013, cuide-se bem. Um pouquinho por dia, com convicção e prazer.
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras Revista Época)
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