quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Reflexão do dia


Amar não é para todos

Tem gente que ainda não aprendeu como se faz

O filósofo e escritor francês Albert Camus disse uma vez que o único tema filosófico que valia a pena era o suicídio. Às vezes, por outras razões, me ocorre que o único tema relevante sobre os relacionamentos cabe numa única pergunta: você é capaz de amar alguém que retribua os seus sentimentos?

A resposta automática a essa pergunta, em quase 100% dos casos, é afirmativa. “Claro que sim”. Mas, espere um pouco. Aproveite o momento solitário em frente desta tela e considere, sem risco de ser descoberto: você já gostou de alguém a ponto de deixar algo de lado por ele ou por ela? Já se percebeu duradouramente conectado a outro ser humano, de forma que ele deixasse de ser um estranho? Já sentiu que vida de alguém o preocupava – e o atingia - quase como se fosse a sua própria vida?

Quem consegue dizer sim a isso tudo e não está numa relação imaginária – ou platônica – com a pessoa do andar de cima, parabéns. Ao contrário do que diz a lenda, esse negócio de amor não é para todo mundo.

Se houvesse um teste emocional capaz de medir nossas emoções, acredito que ele mostraria que boa parte da humanidade não consegue estabelecer relações românticas profundas e duradouras.

Penso no sentimento geral de que é bom estar na companhia da sua pessoa, em vez de estar com qualquer outra. Penso em passar um dia, uma semana, um mês, sem cogitar em cair fora. Imagino um período, qualquer que ele seja, sem que os sentimentos e as sensações se voltem para fora da relação, em busca de horizontes que não estão lá. Quando eu falo em amor, penso em satisfação, ainda que temporária.

Quem passa no teste? Não muitos, imagino. O que nos leva de volta ao primeiro parágrafo e à capacidade de amar, que raramente é confrontada.

Por alguma razão inexplicável, estamos acostumados a atribuir o sucesso ou fracasso dos nossos relacionamentos apenas aos outros. Ela não me quer, não corresponde meus sentimentos, não é constante. Ou talvez seja algo na atitude dele, na maneira como fala, toma sopa ou ganha a vida que fez com que eu me afastasse. Em poucas palavras, nossos sentimentos parecem depender apenas do que o outro faz ou é, não de nós.

Isso acontece desde o início.

Aos 13 ou 14 anos, quando nos apaixonamos pela primeira vez, a “causa” da paixão é o outro. Sua beleza, seu comportamento, seu sorriso. Achamos que vem tudo de fora. Nem reparamos na elaboração interna do nosso sentimento. Não perguntamos o quê, na nossa personalidade, faz o outro tão atraente. Damos de barato que aquela pessoa é responsável pelo que sentimos, embora os sentimentos emanem de nós.

Essa exteriorização prossegue pelo resto da vida.

Quando as coisas não dão certo – no casamento, no namoro, no caso – rapidamente culpamos o outro e partimos para a reposição, sem investigar nossos sentimentos. Trata-se apenas de procurar com afinco até encontrar a pessoa certa. Mas existe pessoa certa para quem não consegue transpor a barreira de si mesmo e criar uma conexão duradoura com o outro?

Temo que não.

Minha impressão é que aprender a amar é trabalho para a vida inteira. Exige abrir mão do egoísmo, que é imenso. Supõe a capacidade de se encantar com aquilo que não é apenas um reflexo de nós. É essencial, sobretudo nos homens, superar o fascínio boçal pela aparência, que em muitos casos funciona como um sinal de trânsito indicando o caminho para a pessoa errada.

Ao final, como tantas outras coisas na vida, também essa precisa de tempo e de atenção. Tempo para se conhecer e perceber suas próprias dificuldades. Atenção para não se perder em falsas questões. No frigir dos bolinhos, o problema não deve ser apenas a imperfeição do outro, que existe e é imensa. O problema talvez seja a sua, a minha, a nossa incapacidade de superá-la. De amar, apesar dela.

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras Revista Época)

Espiritualidade - o dom sagrado da vida

Espiriualidade - o dom sagrado da vida 

por Marcos Porto


Muitas vezes, esquecemos de que a vida é um dom precioso, isso porque ela nos parece tão simples.

No entanto, os dons mais preciosos e profundos são os mais simples. Nossas mentes imediatistas muitas vezes nos colocam em tais circunstâncias quando estamos à espera de algo extraordinário acontecer e, na ansiedade, deixamos de ficar animados sobre a vida.

Vamos, então, refletir sobre o tema?

A vida é um dom sagrado, em cada segundo que nela vivermos.

O fato de só respirarmos é dom Divino do Ser Maior Criador Deus, e isso é motivo suficiente de nossa imensa gratidão.

Cada dia de vida que o Ser Maior Criador Deus nos dá é um presente sagrado e precioso.

"Sabei que o Senhor é Deus, Ele que nos fez, e não nós mesmos; somos o seu povo e ovelhas do seu pasto", nos diz o Salmo 100:3.

A vida é um dom concedido livremente a nós pelo Amor Divino.

A vida humana é, portanto, para ser recebida e acolhida com atitude de alegria e ação de graças.

É para ser valorizada, preservada e protegida como a expressão mais sublime da sagrada atividade Criadora, que nos trouxe "do não-ser para o ser", mais do que mera existência biológica. Faz sentido?

Para nós, seres humanos, o dom sagrado da vida não é algo que adquirimos, passando por certos padrões de desenvolvimento ou ganhando por alcançar determinados objetivos: não é um prêmio de graduação.

Também não é algo que jamais poderá ser perdido.

A vida de um bebê antes de nascer ou recém-nascido, e quando adulto se tornando em um ser com integridade espiritual, é sagrada, não na forma como olhamos, ou no que podemos fazer, mas em função de quem somos.

Somos sagrados - cada ser humano é sagrado - porque todos nós fomos criados à imagem de Deus, de acordo com o que nos diz as Sagradas Escrituras - Gênesis 1:27.

Nossa convicção no dom sagrado da vida humana não é atributo peculiar de alguma religião.

Pessoas de diferentes religiões ou de nenhuma acreditam no sagrado da vida e na dignidade inerente à pessoa humana.

No entanto, o respeito ao dom sagrado da vida humana torna-se frágil se rejeitada e esquecida a importância da 'mão' do Ser Maior Criador Deus na nossa criação.

Com muita frequência, nós não consideramos a vida como dom Divino.

A vida se torna então mero objeto, reivindicada como nossa propriedade, totalmente sujeita ao nosso controle e manipulação.

A capacidade de tornarmos nossa vida sagrada depende muito do despertar do nosso coração ao nível de nos sentirmos gratos por todos os encontros com outras pessoas que cruzam nosso caminho.

A gratidão pode ser vista como sinal de abertura dos nossos corações, e indicação de que não estamos mais dispostos a agir na inconsciência, na indiferença ou por motivos que sejam menores do que o respeito à vida sagrada dos outros.

Nossas vivências de aprofundamento espiritual nas reuniões do Grupo de Reflexão já no décimo ano com os mesmos participantes têm sido muito relevantes e significativas.

No início das reuniões, costumamos canalizar mensagens ou trazer as que foram recebidas em outras situações, e são compartilhadas e refletidas por todos.

Especificamente na reunião de 14/09/13 nossa amiga participante Alaíde de Castro Fernandes nos trouxe o poema inspirado no nascimento do seu netinho Otto, motivando o tema desta reflexão:
"POEMA AO OTTO"
"Bem-vindo menino querido...
Tão amado, tão esperado
Nos teus três quilos sustentas o peso maior
A Vida como prêmio, a Vida como dádiva
Corpinho frágil, pele alva
Que ganha nuance rosa ao pequeno esforço
Choro forte como apelos ainda indecifráveis
Olhos grandes que buscam perceber, conhecer, reconhecer talvez!
Boquinha bem feita que em movimentos ritmados buscam sensações que agradem que acalmem
Mãos e dedinhos longos que se agitam e em momentos espalmadas parecem comandar
Toda a descrição que meus sentidos sejam capazes de captar
Passam longe da beleza e nobreza, da Essência, que anima teu Ser
Este és tu Otto!
Um Ser de Luz enviado pelo Pai Maior
Criador de tudo e de todas as criaturas
Que tu sejas muito feliz!
Ilumine-nos com tua pureza e graça,
E receba todo amor e carinho de todos que ansiosamente te aguardavam,
Obrigada por tua escolha...
Obrigada por tua Vida, na nossa Vida, na Vida da Eternidade".
Vovó Alaíde 04-09-2013.

Vidas sagradas na interação mútua das pessoas são como troca entre Almas. Está claro?

Sentimento de gratidão no entendimento de que, em cada encontro, prevalece o mérito de reconhecermos o outro que, é como nós, parte igual do grande mistério Divino da Criação.

O dom sagrado da vida requer responsabilidade em percebermos como estamos pensando, sentindo e agindo nas nossas interações com os outros.

Encontros com os outros, quando vistos como função da vida sagrada, será sempre recebida com gratidão, onde o amor é desejado e expressado por um coração que tem a alegria de recebê-lo, como na inspiração carinhosa da Alaíde no "POEMA AO OTTO". Correto?

Sempre que for oportuno o reconhecimento ao nosso irmão ou irmã de Alma, reverenciando o respeito ao Divino.

Quando somos gratos por tudo o que recebemos na vida, seja grande, pequeno, fácil, difícil, seremos capazes de enxergar cada ser vivo como preenchido com idêntica vida da Alma que possuímos.

Não seremos mais capazes de viver sem gratidão, porque iremos nos tornar parte de um coração que descobriu o Amor Universal. 

Tal coração gera para si uma vida sagrada, com amorosidade infinita de coração e Alma na intimidade com o Amor Divino do Ser Maior Criador Deus

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O bonitão que não se apega.

Será que ele vai mudar aos 40 anos? Bem...

Certas coisas não melhoram com a passagem do tempo. A dificuldade em manter relacionamentos, por exemplo. Alguém que ache difícil namorar aos 20 anos dificilmente chegará aos 30 ou aos 40 como a pessoa mais apegada do planeta. O tempo diminuiu a curiosidade afetiva e a inquietude. Diminui também a compulsão sexual. Mas a relutância em criar laços só aumenta.
Tenho uma amiga cujo irmão de 40 anos ilustra o caso. Médico bonito e bem sucedido, ele troca de mulher com as estações do calendário. São sempre garotas bonitas, diz a minha amiga. Muitas delas são interessantes, ela me explica. Mas nenhuma dura no posto. Antes, o irmão levava algumas dessas garotas para conhecer a família. Nos últimos anos, envergonhado com o rodízio, só visita os pais e a irmã sozinho. Os filhos dela, com aquela ingenuidade perversa das crianças, costumavam perguntar pela namorada anterior... 
Casada há 10 anos, mãe duas vezes, minha amiga acha o irmão um caso perdido. “Ele não sabe o que quer”, ela resume, sacudindo a cabeça. Sente que ele sofre e gostaria de vê-lo maduro e emocionalmente amparado. Eu, que só conheço o cara superficialmente, duvido que seja possível essa transformação. Mas, ao contrário dela, não acho que seja um drama. 
Esse negócio de receber os outros na nossa vida não é simples. Só gente muito jovem acredita que é fácil dividir o corpo, os sentimentos e o cotidiano com alguém que acabamos de conhecer. Em geral as pessoas fazem sexo, encantam-se umas pelas outras por uns dias e logo depois se afastam. Encontros duradouros são infrequentes. Relacionamentos verdadeiros são raros. Para alguns, como o irmão da minha amiga, eles são quase impossíveis. 
Acho que a palavra-chave nesses casos é intimidade. Há pessoas com facilidade de abrir a sua intimidade para os outros e de penetrar na intimidade alheia. Outros avançam com dificuldade nesse terreno: são tímidos na hora de revelar e relutantes no momento de descobrir. Por alguma razão, a troca de sentimento lhes parece incômoda e inadequada. Ou incompatível com o desejo. Quanto mais sabem sobre o outro, menos atração sentem por ele. É uma recusa visceral de intimidade: só me relaciono enquanto o outro for uma fantasia. No momento em que se torna real e humano, no momento em que exige a minha humanidade, perco o interesse. 
As pessoas acham que essas atitudes são premeditadas. Imaginam que o sujeito que age assim está tirando proveito das pessoas e deixando-as de lado. Eu discordo. Minha impressão é que pessoas que vivem trocando de parceiros – como o irmão da minha amiga – apenas não conseguem se vincular. É mais uma dificuldade do que uma escolha. O discurso cafajeste ou libertino vem depois, para encobrir o buraco emocional e justificar uma forma de existência. Vira ideologia. Por trás dela, tem alguma espécie de sofrimento. 
Posto isso, não acho que seja um drama. Todos nós temos dificuldades. Alguns com sexo, outros com sentimentos, muitos com as chatices burocráticas da vida, como tirar diploma, pagar as contas e ganhar a vida. Quando a gente é jovem quer ser perfeito em tudo. Depois relaxa. 
Talvez o irmão da amiga seja assim. 
Ele provavelmente gostaria de se apaixonar perdidamente, casar e ter filhos. Como isso não acontece, vive e troca de mulher. Deve estar atrás de alguma coisa que provavelmente não existe e que ele não sabe o que é, mas que o ilude. Aos 20 anos, provavelmente achava que encontraria fácil. Aos 30, percebeu que a procura poderia ser longa. Agora, aos 40, talvez já tenha desistido. A pressão da família e dos amigos arrefeceu e ele está cada dia mais confortável com seu próprio jeito de viver.
Minha amiga se preocupa sinceramente com o irmão, mas isso talvez oculte algo inadmissível.
Quem vive fora dos trilhos, cheio de parceiros, provoca sentimentos ambíguos nos que têm vidas convencionais. Causam preocupação e mesmo pena, mas também inveja. Trocar de namorada todo mês pode ser um insulto para quem dorme há 10 anos como o mesmo parceiro e nem se lembra mais da sensação de despir um corpo desconhecido ou se deixar tocar por uma pessoa estranha. O inferno da vida dos outros está cheio de passagens que os virtuosos adorariam experimentar. 
 (Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
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