quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Todo mundo tem um conselho

A vontade de ajudar, pelo que percebo escutando as histórias das pessoas que conheço e nos relatos que recebo por email, pode atrapalhar demais. Pode, inclusive, ser motivo de briga em família, de separação de amigos… uma guerra.
Todo mundo quer ajudar. Todo mundo quer contar, a partir de sua própria vivência, o que faria se estivesse em nossos lugares. Sempre dizia isso aos meus estudantes quando eles falavam assim: “Se eu fosse você, faria de outra forma”… Eu dizia que, se eles fossem eu, fariam exatamente como havia feito, pois eles não seriam mais eles, e sim eu.
Já escutei diversas táticas para passar por cima daquelas dicas que querem cutucar, que querem dar um recadinho. Respirar fundo, contar até dez, cantarolar, rir, gritar no travesseiro, comer, engasgar, espirrar e soltar um palavrão. Nós já começamos, mesmo antes do Enrique nascer, a receber diversas diquinhas de horários de sono, de alimentação, de birra, de chupeta, de banho… de dormir no quarto. Aceitamos tudo agora, pois ainda não o conhecemos. Mas não sei como será quando, em um momento mais delicado, alguém quiser dar uma diquinha. Estávamos no aeroporto outro dia e, na sala de embarque, estavam uma avó, um avô, um pai, a mãe e a criança que esperneava. Ela batia no pai, se jogava no chão, mordia a mão da mãe, jogava tudo pelos ares. A avó só olhava. Não sei se era mãe do pai ou da mãe. O pai segurou a criança no colo, numa tentativa de controlá-la, e acabou tomando uma mordida no nariz. Ele deu um grito de dor. Então, lá de longe, sentadinha na cadeira da sala de espera, a avó disse: “Não se descontrole, não demonstre a dor, ele não pode ver isso de você!”.
O sangue subiu a minha cabeça, ferveu! O coitado do pai estava sem a ponta do nariz, sangrando muito e ainda teve de escutar da avó do menino essa diquinha! Lembrei que o filho não era meu, acalmei-me e entramos no avião. O pai, coitado, estava com uma faixa no nariz! E a criança entrou dormindo.
Veja, a questão não é se o pai fez certo ou errado em gritar de dor. A questão é que estava tentando fazer alguma coisa sozinho e recebeu uma diquinha de quem estava longe da situação e perto da responsabilidade de se estar junto.
Todo mundo sabe que algumas diquinhas irritam, por isso as emprego no diminutivo. Todo mundo sabe que devemos ter cuidado para falarmos sobre o filho dos outros. Mas esquecemos que são os filhos dos outros. Ajudar é uma coisa, dizer que faria diferente é outra. Dá para entender?
Alguém tem uma história boa para contar sobre esses conselhos?

(Marcelo Cunha Bueno / Sopa de Pai)

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