terça-feira, 10 de setembro de 2013

Namorado-filho procura namorada-mãe

por Flávio Bastos.


"A base essencial de nossa personalidade é a afetividade. Pensar e agir são, por assim dizer, meros sintomas da afetividade. Os elementos da vida psíquica, sentimentos, ideias e sensações apresentam-se à consciência sob a forma de certas unidades que, numa analogia à química, poderiam ser comparadas às moléculas". (Carl Jung)

A complexidade do relacionamento afetivo traz, na sua origem, a motivação inconsciente de diversos casos que envolvem o homem e a mulher. Geralmente, tais vínculos se estabelecem por uma necessidade de suprimento de amor que faltou na infância destes indivíduos. É o caso, por exemplo, das relações que envolvem o homem adulto carente de afeto materno, e a mulher adulta de forte traço maternal em seu perfil, ou seja, acolhedora, cuidadora e supridora de necessidades latentes ou básicas de seu parceiro.

Esta conjunção afetiva, que resulta em dependência emocional para o homem, torna-se com o tempo, um meio inconsciente de suprir o seu "vazio" de amor parental. Ao mesmo tempo que gera um processo obsessivo que interfere no amadurecimento emocional de ambos, à medida que não garante as liberdades individuais para que a relação se mantenha "oxigenada" e não se transforme numa experiência sufocante.

Nestes casos, a sensação de sufocação relacional ocorre principalmente com a mulher que, ao perceber a situação a qual encontra-se envolvida, decide libertar-se do companheiro. Tarefa nada fácil, que exigirá persistência na sua escolha, pois o homem lutará -até de forma desesperada- pela continuidade do relacionamento mesmo depois de formalizada a separação.

No âmbito da afetividade, traumas infantis geram psiconeuroses, cujo efeito se faz sentir mais tarde quando o homem adulto, inconscientemente, transfere para a parceira a sua demanda afetiva. Se esta mulher sinaliza em seu perfil psicológico, um forte traço maternal, a relação se transforma para o homem, numa espécie de canal de suprimento da sua histórica carência de amor, ou seja, via gratificações afetivas que tentam no presente -e, às vezes, conseguem parcialmente- amenizar a dor psíquica da traumática experiência infantil associada à afetividade.

No pano de fundo desta problemática relacional, encontramos perfis afins, mesmo se considerarmos que traços parentais nas relações afetivas sejam saudáveis nas suas medidas certas. Abordamos, portanto, o aspecto neurotizante do relacionamento, ao tratarmos de casos que tendem a estacionar no seu sentido evolutivo, à medida que temos como parâmetro a necessidade de equilíbrio entre as demandas infantis que transferem-se para uma relação de compromisso na fase adulta. Nesta direção, a dor infantil, camuflada por mecanismos do inconsciente, interfere negativamente na qualidade das relações afetivas do adulto, sendo responsável em grande parte, pela sensação de infelicidade que o indivíduo carrega consigo por toda a vida.

Portanto,  o namorado-filho, que procura namorada-mãe, é uma forma inconsciente da dor ser aliviada pelo mínimo de gratificações afetivas obtida durante um relacionamento deste tipo, que pelo seu caráter, cedo ou tarde cederá às consequências do inevitável: a sufocação devido ao nível de dependência afetiva, associada à imaturidade emocional de um indivíduo ou de ambos.

Apesar do ser humano necessitar da realimentação de amor durante toda a sua trajetória vital, é na infância que o "alimento da alma" torna-se imprescindível. Por este motivo, a importância da educação consciente na relação pais-filhos. Quando falta o fornecimento do amor original, o indivíduo busca a compensação em futuras relações na fase adulta.

Culturalmente, por ser o homem um coadjuvante durante o processo de gestação da mulher, talvez sinta mais os efeitos de uma experiência de abandono na infância. A mulher, por outro lado, carrega consigo o instinto maternal que poderá aplicar à pratica quando passar pela experiência de ser mãe. Nesta lógica, o homem depende mais do desempenho maternal na sua infância. Relação que marcará a sua vida tanto pelo aspecto negativo como positivo de seu desdobramento na fase adulta.

A Era da Sensibilidade, que traz em sua esteira a transparência de sentimentos aplicados à qualidade das relações afetivas, pressiona o homem para que as suas conexões psíquicas sejam, gradativamente, reveladas à luz da consciência. Labirintos de sintonias interdimensionais iluminados pelo foco de luz da Nova Era que orienta os passos do homem em fase de transmutação energética de seu lindo planeta.

Neste sentido, o psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung, no século passado, vislumbrou o futuro ao registrar que "as pessoas, quando educadas para enxergarem o lado sombrio de sua própria natureza, aprendem, ao mesmo tempo, a compreender e amar seus semelhantes".

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