Eles não conseguem encarar suas fraquezas, muitos menos contá-las.
Foi um colega de trabalho quem disse a frase inesquecível: você percebe que foi humilhado, que seu chefe passou dos limites, quando não consegue contar para sua mulher a bronca que levou no escritório.
Esse comportamento – que me parece rigorosamente verdadeiro, além de universal – revela muito sobre a psicologia masculina e sobre suas desvantagens em relação ao jeito como as mulheres lidam com o mundo e com elas mesmas. Homens não dizem a verdade. Eles contam vantagem, enquanto as mulheres contam tudo.
Pensem numa roda de mulheres discutindo o cotidiano do trabalho. Parece um muro de lamentações. Elas descrevem em detalhes as humilhações a que são submetidas, falam dos sapos terríveis que engoliram, descrevem sem pudores a própria covardia ao lidar com a agressividade do chefe ou da chefe.
Na mesma situação, os homens mentem e omitem. A grosseria do chefe que ficou sem resposta se transforma numa discussão épica. A bronca degradante vira um pedido de demissão em voz alta. A covardia, o recuo, o rabo entre as pernas, são contados com cores irreconhecíveis – ou silenciados, como se não houvesse acontecido.
Isso torna difícil entender a vida dos homens quando contada por eles mesmos. São tantos os filtros, tantas as distorções, que a realidade fica de fora. Isso vale para sexo e romance também. Quando o sujeito é demitido ou tem um enfarte ou é abandonado pela mulher, ninguém entende o que aconteceu. Ele não era amado, respeitado e desejado?
Como disse Fernando Pessoa no Poema em linha reta, os homens são todos príncipes.
Agem assim porque, ao contrário das mulheres, são incapazes de lidar com a realidade de suas próprias fraquezas. Não admitem para eles mesmos suas falhas de caráter. Movem-se por um código de honra inatingível, cruel, pueril, que determina suas vidas desde a infância – e continua a valer, como se fossem meninos, ao longo da vida adulta, embora ela demande outro conjunto de valores e emoções.
A escritora nigeriana Chimamanda Adichie descreve essa questão de forma luminosa. Ela diz que o ego dos homens é frágil, e isso obriga as mulheres a diminuir-se o tempo inteiro, para não feri-los ou humilhá-los. Que casal não se reconhece nessa frase?
Sendo homem, submetido 24 horas por dia às regras draconianas da masculinidade – que repudia o medo, não tolera a fraqueza, despreza a hesitação –, frequentemente tenho inveja das minhas gatas.
Carlota e Elisabeth vivem num mundo mais simples. São como são. Cada uma tem seu temperamento, e não há glória ou vergonha nisso. Carlota é agressiva e mandona. Elisabeth é doce e arisca. Outro dia, quando um cachorro passou pela porta do apartamento, Carlota se atirou sobre ele primeiro, Elisabeth veio logo atrás. Acharam que era uma questão de sobrevivência.
Às vezes me parece que as mulheres parecem as gatas. Elas se aceitam como são, vivem na realidade, não se batem contra moinhos. Seus conflitos são com o mundo, não com elas mesmas. Estão mais preparadas para ser felizes, acho. Vejo grandeza na fraqueza feminina – e muita fraqueza na aparente fortaleza dos homens.
IVAN MARTINS / REVISTA ÉPOCA.
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