A regra na selva do afeto é testar e descartar, mas às vezes o roteiro muda.
Por que as pessoas se apaixonam? Nos últimos dias eu tenho pensado nisso: por que algumas pessoas, e não outras, nos cativam?
Homens e mulheres são atraídos uns pelos outros o tempo inteiro, por diversas razões. Umas pessoas são bonitas, outras são sensuais, algumas têm carisma. Mas poucas nos causam impacto duradouro. Por alguma razão, a graça desaparece e com ela o desejo de rever.
Essa tem sido a regra nas últimas décadas: tentativa e erro. Os cínicos chamam isso de mercado e os pessimistas de selva. Talvez seja apenas a vida como a gente decidiu que ela seria.
Muitos se queixam, porém. Homens e mulheres que sentem-se usados. A pessoa se esforça em seduzir, é toda gentilezas, desdobra-se em safadezas e, dias depois – às vezes, horas ou minutos depois – veste a roupa e vai embora para ser vista (quem sabe?) numa segunda-feira chuvosa do próximo mês.
Vistos de fora, os atos de sedução e sumiço parecem premeditados, mas eu posso atestar, tendo ouvido centenas de depoimentos espontâneos, que as pessoas – homens ou mulheres – estão sinceramente empolgadas quando são mole ou fazem a corte. Mas a empolgação desaparece, o desejo passa, uma mistura de culpa e chateação aflora. É hora de ir embora, portanto. Adeus.
Às vezes, porém, muda o roteiro. Nessas raras ocasiões, eles e elas querem ligar e dizer coisas doces. O sujeito – ou a mulher – se põe a fazer planos inconfessáveis de tão precoces. Na hora do sexo, o sujeito – ou a mulher - se pega dizendo romantismos. Esses são sinais de sentimentos duradouros. Pode ser o começo de um romance.
Às vezes, porém, muda o roteiro. Nessas raras ocasiões, eles e elas querem ligar e dizer coisas doces. O sujeito – ou a mulher – se põe a fazer planos inconfessáveis de tão precoces. Na hora do sexo, o sujeito – ou a mulher - se pega dizendo romantismos. Esses são sinais de sentimentos duradouros. Pode ser o começo de um romance.
A explicação simplista para o fenômeno é “química”. A pele e o temperamento se combinariam para formar uma conexão. Eu não acredito. Ao longo da vida, as pessoas se envolvem com parceiros totalmente diferentes entre si. A qual química teria de ser muito flexível ou inteiramente mutável.
Prefiro acreditar em momento. A cada período da existência, nós queremos algum tipo de coisa, que ganha a forma de uma pessoa ou de um tipo de pessoa. Pode ser ternura, pode ser firmeza, pode ser racionalidade ou maluquice. Provavelmente é uma combinação de qualidades e defeitos que formam uma receita de felicidade. “Você foi feita para mim”, a gente tem vontade de dizer.
Entre 6 bilhões de pessoas, num mundo cheio demais de gente, lá está ela, totalmente única. Para este momento da vida, seu sorriso. Para este momento da vida, sua delicadeza. Para este momento, a sensualidade dos seus pés quando tocam.
É tudo o que se pode desejar. É bom. É imensamente frágil. É tudo o que temos. E é sobre isso que se constrói.
IVAN MARTINS / REVISTA ÉPOCA.
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