As pessoas que gostam de xingar no Twitter estão sofrendo na pele as consequências de suas queixas e de seus desabafos públicos. (Bruno Segadilha - Revista Época).
Na última quarta-feira, o fotógrafo Thiago Vieira teve uma experiência desastrosa no Twitter. Ele acompanhava as eleições para presidente do Palmeiras na sede do clube, em São Paulo, e digitou a mensagem: “Enquanto os porcos não se decidem, poderiam mandar lanchinhos e refrigerante para a imprensa que assiste ao jogo do Timão na sala de imprensa”. O comentário irritou conselheiros do time, que foram atrás dele no local. Lá fora, torcedores enfurecidos se aglomeravam. Ele teve de sair do clube escoltado por seguranças. Levou um baita susto. “Não queria ofender ninguém, eu me arrependi”, diz Vieira, de 27 anos. “Acho que o negócio tomou uma proporção muito grande.” Na internet circulou a informação de que ele havia sido agredido e demitido do jornal Agora. Ele desmente as duas informações. “Era o último dia de um trabalho temporário”, afirma. “Se estou queimado no mercado, não sei.”
Vieira faz parte de um grupo de pessoas que têm aprendido na marra a tomar cuidado com o que dizem no Twitter. A rede social tem 175 milhões de usuários espalhados pelo mundo. Cada um deles tem 140 caracteres para expor suas ideias – e o resto da vida para se arrepender das bobagens divulgadas. “Na internet, tudo fica eternizado”, diz Andréa Jotta, do núcleo de pesquisa da psicologia em informática da PUC de São Paulo. Andrea afirma que internautas na faixa entre 30 e 35 anos são os que mais colecionam problemas em redes sociais. “Os mais novos normalmente são mais cuidadosos, estão crescendo com essa ferramenta”, diz ela. “Os outros ainda precisam aprender a lidar com os efeitos da exposição.”
A DJ e promoter Lalai Luna, de 37 anos, diz que se esforça para aprender, mas coleciona confusões. A mais séria fez seus pais e amigos pensar que ela estava entre as vítimas do voo AF447 da Air France em 2009. Pouco antes de embarcar de São Paulo para Paris no voo AF459, que decolou dez minutos depois do avião que saiu do Rio de Janeiro e caiu no Oceano Atlântico, Lalai tuitou: “Indo pro aeroporto numa baita ressaca. Vou morrer no avião hoje”. Quando chegou ao destino, percebeu o estrago. “Saí em tudo que é lugar como a mulher que previu a própria morte”, diz. Ela também quase perdeu a chance de tocar no Big Brother Brasil no ano passado. Anunciou o convite antes do tempo e a direção do programa a desmentiu. No final, ela acabou tocando, um mês depois do previsto. “Eu tento me controlar, mas, vira e mexe, escorrego.”
A linguagem falada castiga os desbocados dentro de um limite restrito, determinado pela audiência no momento do descontrole. Na esfera digital, que usa a linguagem escrita, não há limite para os danos causados pela incontinência verbal. A audiência pode ser de milhões de pessoas, e a mensagem pode reverberar na rede por horas, dias ou anos. O estudante de relações públicas Gilberto Rodrigues, de 22 anos, sabe o que isso significa. Ele tinha acabado de conseguir emprego em uma importante agência de marketing digital de São Paulo e jogou a oportunidade pela janela através do Twitter. Depois de uma semana exaustiva de trabalho, ele tuitou seu cansaço. Disse que, para dar conta das tarefas, queria um clone. Ele diz que o tom da mensagem não era exatamente de reclamação, mas foi entendida assim por um cliente, que comentou com seus chefes. No dia seguinte, foi demitido. “Errei, falei demais, deveria ter me preservado”, diz.
Parece que o Brasil da informalidade não aplica seu “jeitinho” nem sua famosa cordialidade na hora de lidar com os falastrões do Twitter. Na semana passada, a cantora baiana Gal Costa sentiu na pele a reação emocional ao que se diz nas redes sociais. Ela reclamou que o técnico não fora consertar o ar-condicionado de sua casa por estar com dor de cabeça. “Como na Bahia as pessoas são preguiçosas”, escreveu. As críticas vieram imediatamente e de forma tão áspera que Gal desistiu do Twitter: “Não se pode falar nada aqui que tudo vira polêmica”. Os brasileiros, parece, não perdoam deslizes na rede social, sobretudo se forem cometidos por artistas e celebridades – como bem descobriu a cantora Rita Lee. Em outubro passado, ela tuitou sobre o novo estádio do Corinthians, planejado para ser construído no bairro de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. “p/ quem ñ conhece itaquera é o c. d onde sai a bo... do cavalo do bandido”, escreveu. Foi uma confusão. Ameaçada por torcedores e moradores, ela se defendeu pelo Twitter, mas depois cancelou sua conta. Segundo sua assessoria, Rita quer deixar a história no passado.
Ronaldo Lemos, diretor do centro de tecnologia e sociedade da Fundação Getulio Vargas do Rio, diz que esse comportamento brasileiro em relação ao Twitter tem algo de arbitrário. “Vejo pessoas sendo punidas de forma simplista.” Nos Estados Unidos, afirma, onde há tradição de defesa da liberdade de expressão, poucos processos de difamação resultam em condenações. Cita o exemplo de Courtney Love, viúva de Kurt Cobain, que enfrenta um processo de difamação por ter atacado a estilista Dawn Simorangki pelo Twitter: “As chances de Courtney Love perder o processo são ínfimas”. Aqui, a punição é instantânea!
Na última quarta-feira, o fotógrafo Thiago Vieira teve uma experiência desastrosa no Twitter. Ele acompanhava as eleições para presidente do Palmeiras na sede do clube, em São Paulo, e digitou a mensagem: “Enquanto os porcos não se decidem, poderiam mandar lanchinhos e refrigerante para a imprensa que assiste ao jogo do Timão na sala de imprensa”. O comentário irritou conselheiros do time, que foram atrás dele no local. Lá fora, torcedores enfurecidos se aglomeravam. Ele teve de sair do clube escoltado por seguranças. Levou um baita susto. “Não queria ofender ninguém, eu me arrependi”, diz Vieira, de 27 anos. “Acho que o negócio tomou uma proporção muito grande.” Na internet circulou a informação de que ele havia sido agredido e demitido do jornal Agora. Ele desmente as duas informações. “Era o último dia de um trabalho temporário”, afirma. “Se estou queimado no mercado, não sei.”
Vieira faz parte de um grupo de pessoas que têm aprendido na marra a tomar cuidado com o que dizem no Twitter. A rede social tem 175 milhões de usuários espalhados pelo mundo. Cada um deles tem 140 caracteres para expor suas ideias – e o resto da vida para se arrepender das bobagens divulgadas. “Na internet, tudo fica eternizado”, diz Andréa Jotta, do núcleo de pesquisa da psicologia em informática da PUC de São Paulo. Andrea afirma que internautas na faixa entre 30 e 35 anos são os que mais colecionam problemas em redes sociais. “Os mais novos normalmente são mais cuidadosos, estão crescendo com essa ferramenta”, diz ela. “Os outros ainda precisam aprender a lidar com os efeitos da exposição.”
A DJ e promoter Lalai Luna, de 37 anos, diz que se esforça para aprender, mas coleciona confusões. A mais séria fez seus pais e amigos pensar que ela estava entre as vítimas do voo AF447 da Air France em 2009. Pouco antes de embarcar de São Paulo para Paris no voo AF459, que decolou dez minutos depois do avião que saiu do Rio de Janeiro e caiu no Oceano Atlântico, Lalai tuitou: “Indo pro aeroporto numa baita ressaca. Vou morrer no avião hoje”. Quando chegou ao destino, percebeu o estrago. “Saí em tudo que é lugar como a mulher que previu a própria morte”, diz. Ela também quase perdeu a chance de tocar no Big Brother Brasil no ano passado. Anunciou o convite antes do tempo e a direção do programa a desmentiu. No final, ela acabou tocando, um mês depois do previsto. “Eu tento me controlar, mas, vira e mexe, escorrego.”
A linguagem falada castiga os desbocados dentro de um limite restrito, determinado pela audiência no momento do descontrole. Na esfera digital, que usa a linguagem escrita, não há limite para os danos causados pela incontinência verbal. A audiência pode ser de milhões de pessoas, e a mensagem pode reverberar na rede por horas, dias ou anos. O estudante de relações públicas Gilberto Rodrigues, de 22 anos, sabe o que isso significa. Ele tinha acabado de conseguir emprego em uma importante agência de marketing digital de São Paulo e jogou a oportunidade pela janela através do Twitter. Depois de uma semana exaustiva de trabalho, ele tuitou seu cansaço. Disse que, para dar conta das tarefas, queria um clone. Ele diz que o tom da mensagem não era exatamente de reclamação, mas foi entendida assim por um cliente, que comentou com seus chefes. No dia seguinte, foi demitido. “Errei, falei demais, deveria ter me preservado”, diz.
Parece que o Brasil da informalidade não aplica seu “jeitinho” nem sua famosa cordialidade na hora de lidar com os falastrões do Twitter. Na semana passada, a cantora baiana Gal Costa sentiu na pele a reação emocional ao que se diz nas redes sociais. Ela reclamou que o técnico não fora consertar o ar-condicionado de sua casa por estar com dor de cabeça. “Como na Bahia as pessoas são preguiçosas”, escreveu. As críticas vieram imediatamente e de forma tão áspera que Gal desistiu do Twitter: “Não se pode falar nada aqui que tudo vira polêmica”. Os brasileiros, parece, não perdoam deslizes na rede social, sobretudo se forem cometidos por artistas e celebridades – como bem descobriu a cantora Rita Lee. Em outubro passado, ela tuitou sobre o novo estádio do Corinthians, planejado para ser construído no bairro de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. “p/ quem ñ conhece itaquera é o c. d onde sai a bo... do cavalo do bandido”, escreveu. Foi uma confusão. Ameaçada por torcedores e moradores, ela se defendeu pelo Twitter, mas depois cancelou sua conta. Segundo sua assessoria, Rita quer deixar a história no passado.
Ronaldo Lemos, diretor do centro de tecnologia e sociedade da Fundação Getulio Vargas do Rio, diz que esse comportamento brasileiro em relação ao Twitter tem algo de arbitrário. “Vejo pessoas sendo punidas de forma simplista.” Nos Estados Unidos, afirma, onde há tradição de defesa da liberdade de expressão, poucos processos de difamação resultam em condenações. Cita o exemplo de Courtney Love, viúva de Kurt Cobain, que enfrenta um processo de difamação por ter atacado a estilista Dawn Simorangki pelo Twitter: “As chances de Courtney Love perder o processo são ínfimas”. Aqui, a punição é instantânea!
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