sábado, 15 de setembro de 2012

Mulher conta como matou o pai que a estuprava


A americana Stacey Lannert passou 17 anos na cadeia. Seu crime: matar o próprio pai. Ela tinha 18 anos quando atirou duas vezes nele, que estava bêbado e desmaiado sobre o sofá.
Conseguir sair da prisão em 2009 foi uma vitória para Stacey. Sua pena era perpétua, mas ela conseguiu convencer a Justiça americana de que não havia assassinado o pai por causa de dinheiro. Sua intenção, conseguiu comprovar depois de anos lutando, era proteger a irmã mais nova, Christy, que havia sido, como ela, estuprada pelo pai.
Quando cometeu o crime, Stacey já tinha sofrido anos e anos com o abuso. Aos 10, era estuprada com frequência pelo pai – e ameaçada de morte caso contasse a alguém das agressões. Aos 12, perdeu a que poderia ser sua última esperança de proteção: a mãe. Ela se divorciou do pai sem saber da pedofilia em sua própria casa. Ignorou o aviso de uma babá, que havia perguntado a Stacey se o pai a “machucava”. A criança respondeu que sim, e a babá decidiu avisar a mãe. A mãe, sabendo que o pai não batia na menina, não fez nada sobre a acusação.
Talvez, se tivesse usado as palavras corretas – estupro, pedofilia –, a babá pudesse ter evitado anos de violência cruel e um homicídio. É essa a reflexão de Stacey em Redemption: A Story of Sisterhood, Survival, and Finding Freedom Behind Bars (algo como Redenção: uma história de irmandade, sobrevivência e de encontrar a liberdade atrás das grades), o livro de memórias que ela lança neste mês com a jornalista Kristen Kemp. “É por isso que é tão importante que a gente encontre as palavras de verdade”, diz.
Não que Stacey goste de falar sobre pedofilia, mas ela resolveu passar por cima da própria dor porque acha que pode ajudar outras famílias. “Nunca me senti confortável contando minha história, e duvido que um dia me sinta. Mas eu a conto porque quero que outros consigam falar sobre as suas histórias. A cura começa quando as feridas são expostas. Acredito que podemos acabar com o abuso sexual falando abertamente sobre o trauma e a devastação que ele cria”, diz Stacey em entrevista publicada no site da livraria virtual Amazon.
Stacey também conta que uma das maiores dificuldades para escrever sua própria história foi se lembrar não apenas do agressor, mas também do pai normal, com quem viveu momentos felizes. Por que eles não podiam ser sempre assim? É impossível explicar as razões que levam a essa infelicidade e não há como justificar o crime, mas se mais pessoas falassem sobre a pedofilia com todas as letras, talvez muitos momentos tristes pudessem ser evitados.
Fora da prisão há pouco mais de dois anos, Stacey Lannert dedica parte de sua vida a ajudar as vítimas de abuso no site Healing Sisters, em que as mulheres dão apoio umas às outras.
Letícia Sorg é repórter especial de ÉPOCA em São Paulo.

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