Vocês se amam, mas cada um quer uma coisa, pensa uma coisa, tem uma expectativa diferente. E agora? É sobre isso o post de hoje na seção Mulheres pelo Mundo, da jornalista Elisa Martins, que vive no México.
Dizem por aí que todos os homens são iguais, e as mães também, só mudam de endereço. Não é exagero? A variedade é o que dá graça à condição humana. Mas já repararam como existem padrões que se repetem no modo como nos relacionamos uns com os outros? Nem falar nas relações amorosas… As dúvidas que tiram o sono das chicas aqui no México se parecem muito às que já vi preocupar amigas no Brasil. Outro dia, uma amiga mexicana me veio com a pergunta do milhão: “o que você faria se a pessoa que você ama não quisesse o mesmo que você?”.
Engoli seco. Primeiro, porque me pegou de surpresa. Segundo, porque não sabia responder. E depende, certo? Como muitas coisas na vida, cheia de variáveis. Esta amiga terminou com o namorado de anos depois de flagrar uma conversa incômoda dele com uma desconhecida na internet (ah, essas redes sociais…). Era o chat da traição anunciada. No fim das contas, ela e o namorado conversaram, se entenderam, e tudo parecia voltar à calma. Mas ela não. Ela avançou ao futuro. Encasquetou porque ele diz que não acredita em casamento, nem faz questão de filhos, e ela sofre porque sonha de verdade em casar e ter uma família. E continua a relação com a estranha sensação de que está fadada ao fim.
Alguém por aí diria que toda relação é uma incógnita, que por mais que os dois envolvidos pensem de maneira parecida e compartilhem uma ideia de futuro não é garantia de uma relação “para sempre”. Mas, se não existe um mínimo de sonhos em comum, a coisa não complica? Como não conheço bem o namorado, disse a ela que não existe nada como uma conversa franca. Tendemos a pensar que sabemos o que se passa na cabeça do outro, e imaginação não é realidade. E fui também sincera: nestes casos, é difícil uma relação prosperar se as pessoas não estão dispostas a ceder, em menor ou maior grau, segundo a situação exija, em um jogo de escolhas que envolve perdas. Porque senão a longo prazo estariam infelizes, jogando suas frustrações um no outro, e com raiva do tempo perdido em que a paixão anulou a urgência de uma conversa séria. Só sabendo bem o que os dois sentem podem avaliar suas possibilidades, ou ao menos a vontade de tentar – ou ceder.
A tal conversa ainda não aconteceu. Nem acho que minha amiga tenha pressa, talvez por medo do rumo que as palavras tomem quando lançadas ao ar. O mesmo mistério que permeia o que une duas pessoas existe no que as separa. Quando saber que aquele ponto de discordância se transformou em “diferenças irreconciliáveis”, expressão corriqueiramente usada pelos famosos para justificar mais uma separação?
Uma grande amiga me disse uma vez que o que nos mantém juntos a outra pessoa não são suas qualidades, mas os defeitos. Isso porque ela pode ter o maior leque possível de qualidades, mas, se tem um defeito insuportável, por mais amor que exista a relação estará capenga. Incômoda.
Minha dúvida é sobre quando deixamos de ter dúvidas. Minha cunhada contou que nas palestras matrimoniais que teve que frequentar como requisito para o casamento na Igreja os casais eram instigados todo o tempo a duvidar sobre o que os levou até ali. Desafiados a refletir se o amor que sentiam era tão forte como diziam sentir, quase numa versão moderna-afetiva da Inquisição. Haverá quem desista sob pressão. Mas mesmo os mais seguros devem se perguntar, senão no tal curso, em algum momento da vida: será? Será esse? Será essa? Será que serei capaz de tolerar a diferença? Ter paciência para tentar o entendimento? Capacidade de escutar o outro? Habilidade para fazê-lo(a) falar? Quando amamos, a intenção de prosperar certamente existe, mas não é tão certa a destreza, nem a resistência a fatores externos. Existe o esforço – e isso já faz diferença.
Outra grande amiga disse outro dia que viver sozinho é mais fácil. Na teoria. Viver com alguém mais supõe outros desafios, situações que nos obrigam a amadurecer, dividir, somar. Cada um saberá como levar sua relação com o outro, e se preferir, apenas consigo mesmo, o que também pode ser bem difícil. Mas, desde que comecei a escrever este texto, uma frase não sai da minha cabeça. Vi num filme (dirigido por Sean Penn, “Na natureza selvagem”, tem também livro, altamente recomendado!). No final de uma arriscada aventura de auto-descoberta, o protagonista descobre, sozinho no Alasca, a resposta para o que buscava: “a felicidade só é real quando compartilhada”.
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