quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Engatinhar é preciso

Quando seu filho descobre que pode se movimentar sem a sua ajuda, ele desenvolve conexões cerebrais que vão ser importantes para o aprendizado da fala e da escrita. Quem anda direto pode sentir falta dessa etapa. Caia no chão com ele! Muitos pais ficam cheios de orgulho quando o filho pula a fase do engatinhar. Andar direto é visto como sinônimo de precocidade, quase um atestado de QI acima da média, daquelas coisas que a gente gosta de comentar na sala de espera do pediatra. Não é à toa que nos espantamos quando o médico aconselha a pôr o filho no chão e estimulá-lo a, exatamente, engatinhar. “Ué, mas isso não é voltar atrás?” Não mesmo. Essa é uma etapa tão importante que pode ajudar seu filho depois, na hora de aprender a falar, a escrever, a copiar a lição...
A coisa parece meio maluca, mas faz sentido. “Quanto mais possibilidades motoras a criança tem, mais preparada a estrutura neurológica estará para as funções superiores – aprendizado da escrita, da fala e do pensamento”, afirma Fernanda Rombino, filha de Odette, que trabalha com reorganização neurofuncional utilizando o método Padovan.
Ao engatinhar, o campo visual do bebê aumenta, e ele adquire percepção de espaço e tempo – começa a notar volume, distância... “Fica mais fácil fazer a progressão espacial, que é a noção de que a criança vai precisar, por exemplo, para passar ao caderno o que vê na lousa”, exemplifica Izabel Bicudo, mãe de Pedro e Luiza, psicomotricista e presidente da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade.
O fato de o bebê saltar essa fase está ligado à maturação do seu sistema neurofuncional. “Pode ter causa genética (talvez você mesmo ou os avós nunca tenham engatinhado) ou se dever à falta de estímulos”, diz Dr. Mauro Muszkat, pai de Débora, Renata, Vitor e Daniel, neuropediatra e coordenador do Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil. Nada de pânico. “O sistema neurológico vai se desenvolver normalmente”, garante o médico. O interessante é proporcionar oportunidades para que seu filho se movimente dessa maneira, mesmo que ele já caminhe.
Foi o que fez Carolina Campos, mãe de Dylan. O menino começou a andar aos 9 meses. “Primeiro ele circulava pela casa se apoiando em tudo. De repente, começou a andar”, conta a mãe, que estuda arte-terapia. “Hoje ele também engatinha. Procuro deixar alguns brinquedos próximos para que ele exercite o engatinhar, mas, se o percurso é de longa distância, ele levanta e vai andando.”

Ele se move!
Engatinhar, no dicionário, é andar de gatinho, sustentando o corpo em quatro pontos. Quando seu filho conseguir virar de bruços, prepare-se! Os bracinhos já estão mais fortes, e, um belo dia, ele joga o corpo para frente, vira a barriga para baixo, apóia as mãos e os joelhos no chão, empina a bundinha e lá vai atrás do que lhe chamar mais a atenção.
“É instintivo fazer movimentos cruzados (braço direito e perna esquerda) como os gatos”, explica a fonoaudióloga Fernanda Rombino. Com o passar do tempo, a cadeia muscular, sob o comando do cérebro, adquire maior organização. Aos poucos os reflexos se tornam ações voluntárias, aprendidas. “Até então, qualquer ação do bebê era ato reflexo, como buscar o peito da mãe para mamar”, complementa.
A vivência que a criança arrastando-se pelo chão adquire é fundamental para o amadurecimento do mesencéfalo – parte do cérebro responsável pela remessa de mensagens ligadas à realização de movimentos. Com o deslocamento do bebê, os dois hemisférios cerebrais passam a trabalhar unidos.

Não é a mamãe!
Entre o oitavo e o nono mês, aproximadamente, o bebê desfruta dessa incrível sensação de liberdade. Ele está apto para suas primeiras expedições pela casa. “É a descoberta de um novo mundo, a criança cria novas relações espaciais e ganha um repertório mais amplo”, afirma Dr. Mauro. Agora tudo é uma ação motora. “A partir da experiência corporal, das novas vivências, o bebê constrói imagens e pensamentos”, acrescenta a psicomotricista Izabel Bicudo.
O desenvolvimento das crianças pode ser avaliado por três aspectos: neuromotor, anato-fisiológico e psicológico. O primeiro é responsável pela consciência do eixo corporal, que é fundamental para o equilíbrio e as noções de lateralidade (percepção do que está à direita ou à esquerda, na frente ou atrás...). O segundo está ligado ao fortalecimento muscular, à formação da curvatura cervical e lombar, posicionando a coluna de forma mais correta, e à curva plantar, que o pezinho do bebê não tinha antes.
Nessa fase de início de independência, de autonomia e mobilidade, a criança descobre que a mãe é uma coisa e ela outra. “Até então, o bebê achava que ele e a mãe eram a mesma pessoa. O desenvolvimento psicológico surge a partir das experiências corporais”, completa Izabel. Então, coloque seu filho no chão e deixe que ele ganhe o mundo.

Ajude seu filho a engatinhar:
1) Não tenha receio de colocar o bebê no chão. Estique um edredom ou um tapetinho próprio para bebês, vendido em loja de brinquedos. A criança precisa de espaço para se exercitar.
2) Crie um ambiente seguro. A melhor maneira de descobrir onde estão os riscos é sair, você mesmo, engatinhando pela casa.
3) Coloque no chão objetos que chamem atenção, mas os deixe um uma distância que possibilite que o bebê engatinhe.
4) Leve a criança diante do espelho para que ela se reconheça. Se possível, instale no quarto do bebê um espelho no sentido horizontal bem próximo ao chão. Ele observará seus movimentos.
5) Já é possível distraí-los com brincadeiras como: “Cadê? Achou!”. Eles adoram se esconder atrás de qualquer coisa.
6) Estimule a visão da criança com brinquedos coloridos e objetos externos, relacionados a cenas do cotidiano. Exemplo: dar nome às coisas, mostrar o cachorro, a árvore, os pássaros etc.

http://www.revistapaisefilhos.com.br/comportamento-ate1/757/engatinhar-e-preciso

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