sábado, 14 de agosto de 2010

Pais tecnológicos, filhos conectados

Lugar de computador, em casa, é na sala ou no corredor, jamais em quartos isolados ou fechados.

"PAI, O E-MAIL tá tipo... morto! Te mando por SMS."
Essa foi a resposta da minha filha quando pedi que enviasse uma informação para meu correio eletrônico. Pareceu exagerada a afirmação. Mas tente se comunicar com um adolescente por e-mail. A chance de um "reply" nunca chegar é grande. A razão é simples: as novas gerações, que nascem e crescem cercadas de tecnologia, estão mudando a forma como encaram alguns dos preceitos mais básicos da comunicação e da sociabilidade.

Como pai "tecnológico", tenho observado com crescente interesse essa evolução. Não basta conhecer as melhores tecnologias. É preciso estar próximo e entender o que está mudando na cabeça dessa moçada. Para chegar mais perto deles, comprei e aprendi a pilotar uma mesa de DJ e recebo grupos de amigos de minha filha para reuniões em casa. É como um Orkut ao vivo.
Com essa convivência próxima, constatei que há algumas mudanças nessa geração que não controlamos, fazem parte de um novo mundo. Primeira: os jovens se comunicam por meio de mensagens cada vez mais curtas. Segunda: esse mesmo jovem se acostumou com informações instantâneas.
Para eles, não faz mais sentido visitar a biblioteca para encontrar respostas às suas dúvidas. E, finalmente, os jovens estão obcecados por compartilhar com o maior número possível de pessoas tudo o que fazem.
Era preciso me adaptar. Com minha filha adolescente, mensagens de texto pelo celular e em rede social geralmente funcionam melhor que o e-mail. Já a filha mais nova, em fase de alfabetização, não aceita mais "eu não sei" como resposta.
Para ela, celular ou computador têm a capacidade de responder na hora o que ela quer saber. Outro dia ela perguntou para minha esposa quantos países existem no mundo.
E, diante da resposta negativa, disse: "Mas você tem o Google no seu celular!". Achado e respondido.
O desafio, no entanto, vai muito além de compartilhar informação.
Essa galera está ampliando cada vez mais sua capacidade de relacionamento. E com isso o desejo de dividir com mais e mais pessoas aquilo que fazem, aquilo de que gostam.
Muitas vezes, saber quem é quem no meio de centenas de "amigos virtuais" não é tarefa fácil.
Na minha época, ser popular era lotar uma festinha com as crianças da escola. Hoje, popular é aquele com maior número de seguidores no Twitter ou de amigos no Orkut.
Nesse desejo de multiplicar suas conexões reside um risco e cabe a nós mitigá-lo. Recentemente, um casal adolescente no Sul do país se prestou a uma exibição pouco ortodoxa para simplesmente aumentar o número de seguidores em seus perfis do Twitter. Quanto mais gente conectava, mais ousados ficavam.
Acabaram com quase 10 mil seguidores on-line e um papo nada agradável na delegacia.
Ser pai em dias modernos representa desafio grande. Demanda dedicação e equilíbrio entre liberdade e modernidade. Há alguns anos, tomei decisões simples que me ajudam a manter esse equilíbrio. Por exemplo: durante muito tempo, só aceitei que minha filha mais velha acessasse rede social com senha compartilhada. Tentei ensiná-la o básico: não aceite amigos que não conheça, cuidado com o que dizem na internet, nada de compartilhar informações pessoais.
Outra medida simples e eficaz: em casa, lugar de computador é na sala ou no corredor. Jamais em quartos isolados ou fechados. Agora, mais do que qualquer medida, a proximidade, a conversa e o entendimento do que está mudando nos hábitos das novas gerações é o que mais ajuda no desafio de educar nos tempos modernos. E de entender o que a juventude espera de nossas empresas, como profissionais e como consumidores.
A internet permite acelerar o desenvolvimento infantil em muitos sentidos e é um meio essencial para a evolução da sociedade. Como no mundo físico, a inserção dos nossos filhos nessa nova realidade deve acontecer passo a passo e com supervisão. Mesmo que seu pai conheça tudo sobre internet e tecnologia!

ALEXANDRE HOHAGEN, 42, jornalista e publicitário, fundou a operação do Google no Brasil em 2005 e desde 2009 é presidente da empresa na América Latina.

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