Estudo revela que até mulheres de 75 anos se preocupam excessivamente com o corpo.
Como sofrem as adolescentes e as garotas nos primeiros anos da juventude! Quem observa de fora, mas próximo o suficiente para demonstrar solidariedade, se pergunta por que a natureza precisa ser tão malvada nessa fase da vida. Por que tantas mudanças hormonais em pouco tempo, por que tantas adaptações cerebrais, por que tantos desafios a enfrentar de uma só vez?
A infância protegida vai ficando para trás, as meninas são compelidas a sair dela e a assumir responsabilidades num ambiente que pode ser libertador e ao mesmo tempo, e quase sempre, hostil. Tudo isso sem ter um cérebro completamente pronto para enfrentar a vida adulta. Sem ter a serenidade de entender que a vida é dura, mas nela tudo passa. Como convencer uma adolescente de que somos capazes de superar quase todos os obstáculos que a vida nos impõe? E que, na maioria das vezes, as coisas acabam bem?
Acho que não temos o direito de tentar convencer ninguém de coisa alguma. Só observar e apoiar em todas as horas. Esses fenômenos biológicos e comportamentais devem ter um propósito nobre. Talvez seja uma prova de resistência. Uma maratona dupla. Uma corridinha de 84 quilômetros para preparar as garotas e os garotos para o que vem depois. Quem sobrevive à adolescência e aos primeiros anos de juventude fica pronto para o que der e vier. O casamento, a maternidade, a maturidade, a velhice, a morte.
São muitas as aflições enfrentadas pelas meninas (sucesso escolar, popularidade, a conquista de um lugar no mundo, as amizades, os amores correspondidos e os não correspondidos). Uma das mais cruéis é a preocupação com a imagem corporal. Cuidar do corpo, procurar estar dentro do peso normal, sentir-se satisfeita com as formas refletidas no espelho é saudável. Contribui para a autoestima, tão importante nessa e em todas as fases.
O que exige atenção é a imagem corporal distorcida. Se a menina é magra, tem umas dobrinhas absolutamente normais na cintura e deu para dizer que está gorda, é preciso observá-la e tentar entender o que está por trás dessa convicção.
Em alguns casos (na imensa minoria, felizmente) esse comportamento pode ser indício de transtornos alimentares graves como anorexia ou bulimia. Em situações assim, é fundamental que a menina tenha acompanhamento psiquiátrico.
Descobri isso nesta semana. Sempre achei que a excessiva preocupação com o corpo fosse suavizada pelo tempo. Para algumas mulheres, vale a previsão da vovó: “quando casar sara”. Outras continuam bastante preocupadas mesmo depois do casamento, mas a maturidade costuma levar a vários tipos de libertação – inclusive contra os padrões de beleza inatingíveis. Aí a imagem corporal deixa de ser distorcida para se colocar no eixo da realidade.Quase sempre, porém, a insatisfação com o próprio corpo não se transforma numa patologia tão grave. Ainda assim, é um martírio que começa na pré-adolescência e não tem data para acabar.
Parece que não é bem assim. Pelo menos essa foi a conclusão de um estudo divulgado pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Segundo voluntárias ouvidas em todo o país, sentir-se gorda é uma insegurança da qual a mulher nunca se livra. Mesmo quando o peso dela é considerado normal.
A pesquisa foi realizada com 1.800 mulheres com idade média de 59 anos. No grupo acima dos 50, a maioria (62%) disse que o peso ou as formas do corpo têm um impacto negativo sobre a qualidade de vida. E muitas têm transtornos alimentares.
Dois terços da mulheres disseram pensar em peso diariamente. Mais de 40% olham no espelho todos os dias com a intenção de ver se engordaram. A mesma parcela sobe na balança mais de uma vez por semana. Cerca de 3% relataram sofrer de compulsão alimentar, 8% usam laxantes. Nos últimos cinco anos, 36% das mulheres passaram metade do tempo fazendo dieta.
Elas usam vários métodos pouco saudáveis na tentativa de perder peso: pílulas milagrosas (7,5%), excesso de atividade física (7%), diuréticos (2,5%), vômitos (1%). Esse comportamento foi relatado inclusive por mulheres de 75 anos ou mais.
“O esteriótipo é acreditar que transtornos alimentaress são problemas de adolescentes e de mulheres jovens, mas a realidade é outra”, diz Cynthia Bulik, diretora do programa de transtornos alimentares da Universidade da Carolina do Norte.”Muitas desenvolvem transtornos alimentares pela primeira vez depois dos 50 anos”.
Para muitas dessas mulheres, as causas dos problemas são grandes mudanças familiares, como divórcio, perda do companheiro, ausência dos filhos e perda do emprego. “Muitas mulheres estão encarando uma incerteza financeira que elas nunca pensaram que enfrentariam nessa idade”, diz Bulik.
Tão importante quanto essas, uma causa fundamental é a pressão cultural para parecer jovem para sempre. São tantos produtos, cirurgias, procedimentos destinados a impedir que o mundo veja a mais natural das rugas...Se a mulher se deixa envolver por essa teia, é possível que acabe escrava de comportamentos nada saudáveis de controle de peso ou de bizarrices estéticas.
A equipe de Bulik ressalta que esses problemas precisam estar no radar dos médicos. “Muitos não pensam na possibilidade de uma mulher acima dos 50 estar sofrendo de transtornos alimentares”, diz. “Metade das nossas pacientes têm mais de 30 anos. Há dez anos não era assim”.
Pensar no assunto pode ajudar as mulheres a observar os próprios hábitos e a ensaiar a libertação. Ninguém precisa se submeter aos padrões amalucados de beleza para se sentir bonita, desejável e querida.
Se muitas mulheres se submetem aos padrões e lutam contra a própria natureza, por outro lado o sentimento de rebeldia é cada vez mais presente e mobilizador. As ruas e as praias do Brasil estão cheias de gordinhas vestidas com estampas, cores, decotes generosos. Abandonaram o preto e assumiram o corpo que têm e a beleza que há nele. Estão desavergonhadas – e isso é bom.
Não se trata de fazer apologia da obesidade. Excesso de peso é um problemaço, responsável por terríveis doenças como problemas cardiovasculares, câncer e uma lista gigantesca de outros males. Mas ser gorda, infeliz e reprimida só piora a situação. Uma boa forma de responder às cobranças sociais é investir em amor próprio, liberdade e cores. Muitas cores.
A equipe de Bulik ressalta que esses problemas precisam estar no radar dos médicos. “Muitos não pensam na possibilidade de uma mulher acima dos 50 estar sofrendo de transtornos alimentares”, diz. “Metade das nossas pacientes têm mais de 30 anos. Há dez anos não era assim”.
Pensar no assunto pode ajudar as mulheres a observar os próprios hábitos e a ensaiar a libertação. Ninguém precisa se submeter aos padrões amalucados de beleza para se sentir bonita, desejável e querida.
Se muitas mulheres se submetem aos padrões e lutam contra a própria natureza, por outro lado o sentimento de rebeldia é cada vez mais presente e mobilizador. As ruas e as praias do Brasil estão cheias de gordinhas vestidas com estampas, cores, decotes generosos. Abandonaram o preto e assumiram o corpo que têm e a beleza que há nele. Estão desavergonhadas – e isso é bom.
Não se trata de fazer apologia da obesidade. Excesso de peso é um problemaço, responsável por terríveis doenças como problemas cardiovasculares, câncer e uma lista gigantesca de outros males. Mas ser gorda, infeliz e reprimida só piora a situação. Uma boa forma de responder às cobranças sociais é investir em amor próprio, liberdade e cores. Muitas cores.
Cristiane Segatto.
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