Luanda fala sobre os dois primeiros dias da separação anunciada
Saúde (muita!), sucesso, amor, autonomia, felicidade, segurança... É claro que nós, mães, queremos tudo isso e mais um pouco para nossos filhos. Só tem um detalhe: o futuro perfeito que sonhamos para eles inclui nós mesmas grudadas, acompanhando cada passo! Pelo menos até que completem 25 ou 30 anos...
Valentina invadiu as nossas vidas, o meu corpo, a minha alma, em dezembro de 2009. Durante os sete meses de licença maternidade e férias, fiquei grudada com a minha filha. Viajei, fui a festas, encontrei amigas, fiz compras, fui ao cabeleireiro, ao shopping, ao supermercado – tudo sempre, sempre, com ela. É claro que, aos finais de semana, tentava aproveitar um pouquinho o intervalo entre as mamadas para dar uma volta, um pulo no banco ou ir à padaria sozinha. Mas não era fácil, muito menos tranquilo. Lembro perfeitamente do domingo chuvoso em que fui levar minha avó ao ponto de táxi e deixei Valentina com meu marido, pela primeira vez sem mim, por alguns minutos. Longos 15 minutos. Meu coração disparou quando entrei no carro e não vi ninguém na cadeirinha. Com o celular na mão, morria de medo de ela berrar de fome e o Stan não conseguir falar comigo. Ao mesmo tempo, senti uma sensação de liberdade que havia muito não sentia. Parei na farmácia – para comprar coisas para ela, obviamente – e me senti em Paris... Na volta, subi as escadas da garagem desesperadamente, já que não ouvia nenhum bebê chorando. Quando percebi que ela dormia tranquilamente e que, provavelmente, nem tinha percebido minha breve ausência, respirei aliviada.
Meses depois, a separação anunciada com a volta ao trabalho. Não foi fácil deixá-la por algumas horas numa escola cheia de pessoas desconhecidas, num lugar totalmente desconhecido, onde minha filha seria apenas mais uma. Mas fui forte, firme, não deixei cair uma só lágrima. Aprendi a confiar na providência do destino e na importância da independência, como já falei outras vezes aqui... Os primeiros dias foram doloridos, eu sentia falta do cheiro, dos barulhos, até da sacola pesada que destroi a coluna das mães. Imaginava Valentina com sono, chupando o dedinho, e sem mim por perto para niná-la. A carinha dela conformada, cúmplice, desde os primeiros minutos na nova rotina, era de uma maturidade comovente. No carro, chorava escondida; na frente de todos, fingia naturalidade.
De lá para cá, nove meses se passaram e a rotina entrou nos eixos. Numa ginástica digna de medalha olímpica, consegui não ultrapassar o horário de trabalho nem uma só vez e mantive firme a proposta de buscá-la e levá-la na escola (que fica pertinho do escritório) todos os dias. Só teve um episódio, agora no final de outubro, que me obrigou a chegar em casa mais tarde e encontrar minha filha acordada apenas no dia seguinte.
E, na última sexta-feira, o mais temido dia chegou: uma viagem a trabalho fez com que eu e Valentina passássemos pela primeira noite INTEIRINHA separadas. Foram exatas 48 horas sem minha filha. Um recorde, um cenário até então inimaginável. Confesso que a tensão pré-viagem foi maior e mais doída que a própria ausência. Fez com que eu exercesse (ainda mais) minhas novas habilidades logísticas e planejasse todos os detalhes dos dois dias de Valentina sem a mãe: malinha da escola (com três trocas de roupa), estoque de fraldas, pijama, almoço de sábado e até o vestido (o original e o reserva) para ela usar na festinha de criança que iríamos assim que eu desembarcasse em Congonhas. Não que o Stan, meu marido, precise de tanta orientação. Pai de um menino de 14 anos, Stanzinho, ele tem experiência de sobra e cuida da nossa filha como ninguém. Mas o instinto dominador (travestido de organizador) das mães fala mais alto e é difícil controlar os impulsos!
Controle também foi a minha aposta: para enfrentar o pânico de tomar um avião agora com uma menininha linda à espera da minha volta; para resistir à tentação de telefonar para o marido ou para a escola só para saber se a vida continuava igual, se ela estava bem ou sentindo muito a minha falta; para manter o foco no trabalho.
O Congresso foi ótimo, as horas passaram rápido e, no dia seguinte, Valentina foi com o pai e o irmão me buscar no aeroporto. Eu tremia como criança e mal conseguia abrir a porta do carro. Quando meus olhos cruzaram com os da minha filha e eu pude enchê-la de beijos, foi reconfortante perceber que nada tinha mudado. Ela estava ótima, feliz, calma, maravilhada com a chegada da mãe. Não me parece ter sofrido traumas, e já soube que não teve nenhuma reação diferente das normais – dormiu muito, comeu muito, brincou muito. Pronto, mais uma etapa dessa árdua missão da maternidade foi cumprida! E, juro, fiquei feliz por vê-la sem traumas. Não tive ciúmes, muito menos insegurança.
Já disse em outras colunas que sigo à risca o exemplo da mãe que eu tive. E sofro escandalosamente por não poder dizer isso a ela todos os dias. Aos nove anos, eu já voltava da escola sozinha, de ônibus, acompanhada da minha irmã Mariana, com sete anos à época – e essa é só uma entre tantas outras histórias de autonomia e independência que marcaram minha infância. O resultado foi uma juventude sem traumas e uma maturidade equilibrada e consciente. Que Valentina tenha em mim uma imagem minimamente próxima da que eu tenho da minha mãe. E, nas próximas vezes em que nos separarmos, que ela possa sempre me sentir por perto, muito perto. A ponto de a admiração e a segurança engolirem a saudades e a ausência.
Valentina invadiu as nossas vidas, o meu corpo, a minha alma, em dezembro de 2009. Durante os sete meses de licença maternidade e férias, fiquei grudada com a minha filha. Viajei, fui a festas, encontrei amigas, fiz compras, fui ao cabeleireiro, ao shopping, ao supermercado – tudo sempre, sempre, com ela. É claro que, aos finais de semana, tentava aproveitar um pouquinho o intervalo entre as mamadas para dar uma volta, um pulo no banco ou ir à padaria sozinha. Mas não era fácil, muito menos tranquilo. Lembro perfeitamente do domingo chuvoso em que fui levar minha avó ao ponto de táxi e deixei Valentina com meu marido, pela primeira vez sem mim, por alguns minutos. Longos 15 minutos. Meu coração disparou quando entrei no carro e não vi ninguém na cadeirinha. Com o celular na mão, morria de medo de ela berrar de fome e o Stan não conseguir falar comigo. Ao mesmo tempo, senti uma sensação de liberdade que havia muito não sentia. Parei na farmácia – para comprar coisas para ela, obviamente – e me senti em Paris... Na volta, subi as escadas da garagem desesperadamente, já que não ouvia nenhum bebê chorando. Quando percebi que ela dormia tranquilamente e que, provavelmente, nem tinha percebido minha breve ausência, respirei aliviada.
Meses depois, a separação anunciada com a volta ao trabalho. Não foi fácil deixá-la por algumas horas numa escola cheia de pessoas desconhecidas, num lugar totalmente desconhecido, onde minha filha seria apenas mais uma. Mas fui forte, firme, não deixei cair uma só lágrima. Aprendi a confiar na providência do destino e na importância da independência, como já falei outras vezes aqui... Os primeiros dias foram doloridos, eu sentia falta do cheiro, dos barulhos, até da sacola pesada que destroi a coluna das mães. Imaginava Valentina com sono, chupando o dedinho, e sem mim por perto para niná-la. A carinha dela conformada, cúmplice, desde os primeiros minutos na nova rotina, era de uma maturidade comovente. No carro, chorava escondida; na frente de todos, fingia naturalidade.
De lá para cá, nove meses se passaram e a rotina entrou nos eixos. Numa ginástica digna de medalha olímpica, consegui não ultrapassar o horário de trabalho nem uma só vez e mantive firme a proposta de buscá-la e levá-la na escola (que fica pertinho do escritório) todos os dias. Só teve um episódio, agora no final de outubro, que me obrigou a chegar em casa mais tarde e encontrar minha filha acordada apenas no dia seguinte.
E, na última sexta-feira, o mais temido dia chegou: uma viagem a trabalho fez com que eu e Valentina passássemos pela primeira noite INTEIRINHA separadas. Foram exatas 48 horas sem minha filha. Um recorde, um cenário até então inimaginável. Confesso que a tensão pré-viagem foi maior e mais doída que a própria ausência. Fez com que eu exercesse (ainda mais) minhas novas habilidades logísticas e planejasse todos os detalhes dos dois dias de Valentina sem a mãe: malinha da escola (com três trocas de roupa), estoque de fraldas, pijama, almoço de sábado e até o vestido (o original e o reserva) para ela usar na festinha de criança que iríamos assim que eu desembarcasse em Congonhas. Não que o Stan, meu marido, precise de tanta orientação. Pai de um menino de 14 anos, Stanzinho, ele tem experiência de sobra e cuida da nossa filha como ninguém. Mas o instinto dominador (travestido de organizador) das mães fala mais alto e é difícil controlar os impulsos!
Controle também foi a minha aposta: para enfrentar o pânico de tomar um avião agora com uma menininha linda à espera da minha volta; para resistir à tentação de telefonar para o marido ou para a escola só para saber se a vida continuava igual, se ela estava bem ou sentindo muito a minha falta; para manter o foco no trabalho.
O Congresso foi ótimo, as horas passaram rápido e, no dia seguinte, Valentina foi com o pai e o irmão me buscar no aeroporto. Eu tremia como criança e mal conseguia abrir a porta do carro. Quando meus olhos cruzaram com os da minha filha e eu pude enchê-la de beijos, foi reconfortante perceber que nada tinha mudado. Ela estava ótima, feliz, calma, maravilhada com a chegada da mãe. Não me parece ter sofrido traumas, e já soube que não teve nenhuma reação diferente das normais – dormiu muito, comeu muito, brincou muito. Pronto, mais uma etapa dessa árdua missão da maternidade foi cumprida! E, juro, fiquei feliz por vê-la sem traumas. Não tive ciúmes, muito menos insegurança.
Já disse em outras colunas que sigo à risca o exemplo da mãe que eu tive. E sofro escandalosamente por não poder dizer isso a ela todos os dias. Aos nove anos, eu já voltava da escola sozinha, de ônibus, acompanhada da minha irmã Mariana, com sete anos à época – e essa é só uma entre tantas outras histórias de autonomia e independência que marcaram minha infância. O resultado foi uma juventude sem traumas e uma maturidade equilibrada e consciente. Que Valentina tenha em mim uma imagem minimamente próxima da que eu tenho da minha mãe. E, nas próximas vezes em que nos separarmos, que ela possa sempre me sentir por perto, muito perto. A ponto de a admiração e a segurança engolirem a saudades e a ausência.
Luanda Nera / Revista Pais e Filhos.
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