Quanto mais nós nos aproximamos daquilo que imaginamos ser nossa felicidade, parece que mais distante ela fica, quer ver?
Você sonhou com aquela promoção que garantiria um dinheiro extra no início do mês e todas as glórias e sucessos naturais ao cargo. Finalmente seu chefe reconheceu seus esforços e alçou você degraus acima na hierarquia da firma. Era para você se sentir no auge, no topo da carreira, mas, agora que chegou lá, por que não está tão feliz? Por que sente que os colegas não parecem tão felizes por você ou que, agora que chegou lá, você não conseguirá dar conta do recado?
E, se depois de anos de extrema solidão, dando a cara na porta com tantas pessoas erradas, você finalmente tem a certeza de que encontrou o amor da sua vida? Mas, por algum mistério que lhe escapa, os passarinhos não estão cantando eternamente e você descobre que nem tudo são flores. Na verdade, você até se belisca para saber por que não está saltitando de alegria com a flechada do cupido. E até duvida se a pontaria do famoso querubim anda tão certeira.
Por outro lado, existe aquela que passou a vida inteira plasmando que a felicidade seria casar com um homem que lhe desse estabilidade (financeira e emocional), ter filhos e netos, uma bonita casa e bastante rotina. Agora que conseguiu tudo isso, ela se pega o tempo todo a imaginar pelos cantos o dia em que vai tomar coragem e tocar fogo nos lençóis, nas panelas e nos armários — e ainda varrer as cinzas.
Se você já ganhou algum prêmio, sabe que não há solidão pior do que a do dia seguinte, ainda que tenha recebido aplausos e cumprimentos durante toda a noite anterior. Se já foi noiva, sabe como é aquela hora em que você se olha sozinha no espelho do banheiro da suíte de núpcias, meses e meses depois de passar todos os minutos planejando a festa, o vestidos e os docinhos. E se pergunta se fez mesmo a coisa certa.
Se passou meses enconomizando para comprar aquela bolsa caríssima, quando finalmente está com ela em mãos, por que a vida de repente não passou a fazer mais sentido? E por que, ao desfilar com essa peça preociosa por aí, as pessoas não se comoveram tanto quanto você? Elementar: essa é uma felicidade individual, que não se divide, que só quem a tem a entende.
Os sambistas do Rio bem que avisaram do alto de sua sabedoria: tomar um porre de felicidade. E a grande ressaca dessa história é o drama da humanidade de não saber o que fazer com o sucesso depois que ele é alcançado. É a angústia de ter a certeza se deu o passo certo, se as pessoas saberão que, apesar das glórias, você ainda é uma pessoa frágil, e se, depois de tanta luta para chegar aonde chegou, você de fato está em seu devido lugar.
A felicidade, que deveria significar que uma pessoa está mais próxima daquilo que sonhou para si, não é tão simples quanto parece nem tão complexa quanto nós imaginamos.
Talvez ela esteja não na promoção, no casamento e no prêmio em si, mas nos abraços sinceros que recebemos naquele dia, na emoção da sua mãe ao vê-la subindo ao altar, mais madura e mais mulher, no orgulho do avô que nem sabe ler e escrever e vê o neto ganhando o reconhecimento da comunidade científica, nas rugas do marido que, pode não ser mais aquela maravilha, mas esteve ao seu lado em tantos momentos importantes e banais. A felicidade talvez só seja realmente sentida quando se percebe que ela foi compartilhada.
É necessária uma enorme sensibilidade para enxergar a felicidade, porque ela não é grande nem acintosa nem eterna, mas discreta, sutil, fugaz e escondida nos mínimos detalhes. Ela não está aí, dando sopa para quem quiser ver, mas para quem estiver suficientemente sagaz e atento para descobri-la — geralmente nos lugares menos óbvios — e quem estiver disposto a dividi-la.
por Bruno Astuto.
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