Para que exista uma obra de arte, uma escultura, por exemplo, são necessários o artista, a concepção do artista, uma habilidade desenvolvida pelo artista, um material moldável e ferramentas apropriadas. De que serviria tudo isto sem um observador congruente com a tarefa de ver?
Da idéia até a escultura (ou obra finalizada), várias fases são cumpridas e elas não são evidentes no trabalho realizado. Contudo, sem a matéria inerte, a pedra ou rocha, sem a idéia, sem o artista, sem as ferramentas corretas, nada aconteceria e não teríamos o que admirar com nossos olhos. Estes são, ao mesmo tempo, nosso veículo para olhar, mas só realmente vê aquele que consegue perceber a idéia do artista, sua humanidade, personalidade, maturidade, sensibilidade, a natureza peculiar da rocha (ou qualquer outro material, como a madeira) e, quem sabe, até os efeitos destas ou daquelas ferramentas usadas. Olhar depende dos olhos, mas o ver depende da consciência.
O que ficaria apenas implícito é revelado para quem tem o conteúdo da EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL a lhe compor a visão da totalidade da obra ao invés de sucumbir às ilusões imaginativas de um simples olhar.
Quem ainda não tira frutos de sua experiência para ver o que olha, não consegue compor um todo inteligível e compreensível, nem colocar em uma perspectiva mais ampla aquilo que está percebendo.
Quem sucumbe unicamente ao impacto sensório e emocional da obra, fica sem ver os demais conteúdos ali implícitos, porém, passíveis de serem vistos.
Enquanto a consciência se desenvolve em nós, o passo mais importante é dar-se conta de que existe um foco e um ponto de vista, sempre... Invariavelmente. E não há saída para isto. A saída, se é que merece este nome, é tomarmos consciência de que introduzimos um foco em tudo que percebemos e isto é eleito, de algum modo, por nós mesmos. Essa é a subjetividade inerente à percepção. Não existe observador que não esteja entrando com seus interesses, seus desejos, suas intenções, sua intencionalidade - e assim por diante – em tudo que ele percebe. Chamamos a isto intencionalidade e projeção.
Nada indica que estes dois (a existência do foco e do ponto vista) vão mudar, mas alguma coisa muda quando nos damos conta de suas características e usos. O foco da visão é um problema terrível, pois quando usamos um foco, seja qual for, ao olhar discriminamos tudo que é pertinente ao foco e o que não é pertinente simplesmente é descartado e fica fora da atenção egóica. Podemos exemplificar com a presença, em nossas imaginação, de um homem teoricamente maduro que só vê o trabalho na sua frente (este é o seu foco) e que não percebe nem dá relevância à esposa, aos filhos, ao seu laser, ao seu repouso, às outras pessoas em geral... Para ele, só existem o trabalho e o dinheiro, a busca de poder, a competividade e seus desafios. O resto, tudo aquilo que não está em seu foco, simplesmente não existe. Significa simplesmente o restolho de sua perspectiva bem focada e é eliminado das suas considerações sumariamente, pois não tem a mesma importância nem está no centro de sua atenção egóica...
Para efeito de compensação e complementação entre as polaridades feminina e masculina, vejamos também em nossa imaginação uma mulher para quem só existe (em seu foco) o relacionamento com um homem, sua casa, família, filhos e para além deste foco, existe o resto, que é igualmente descartado: os maridos das outras, os filhos das outras, seus desejos mais pessoais, sua sempre adiada independência, seu direito à liberdade, seu sonho de uma carreira profissional etc..
Em ambos os exemplos aqui imaginados, encontramos pessoas típicas, muitas vezes formando casais que mutuamente se compensam, mas pessoas que estão, por assim dizer, pela metade, funcionando apenas parcialmente e longe de atingirem a porção de totalidade que suas consciências lhes permitiria, se ao menos tentassem buscar desenvolvê-las.
Quem vê, vai além daquilo que é percebido pelo olhar. Mas, muitos que acreditam estar VENDO e não apenas olhando, também sucumbem à tendência para a análise e à crítica, que levam finalmente ao julgamento, pondo em desuso o dom da compreensão e afastando igualmente a visão humanitária a ela associada. Sem estes componentes sensíveis e de polaridade feminina a percepção é igualmente a de quem olha (porém, de modo ainda mais diferenciado e especializado), mas não a de quem vê. Não por acaso, quem apenas olha é seletivo, excludente, discriminativo e judicativo.
Os desafios para que a consciência se instale em nós são sempre surpreendentes... O homem consciente não sucumbe às ilusões, nem às mais evidentes e, menos ainda, às mais sutis e camufladas por influências do ego, interesses, desejos, preferências, pré-julgamentos, preconceitos etc.. A consciência aponta para o ver, assim como a percepção egóica aponta para o olhar.
A percepção pode ser limpa dos interesses e julgamentos egóicos, mas isso exige trabalho do percebedor, especialmente para limpar sua percepção, tomando consciência de si mesmo... Fazendo-se perguntas do tipo: Por que eu sempre elejo certos aspectos da realidade para perceber? Por que sempre dou mais importância ao negativo do que ao positivo? Por que insisto em querer perceber só o que me interessa sem dar conta de perceber o que interessa aos outros? Por que imagino sempre o que os outros vão dizer antes de ouvi-los? Por que estou sempre antecipando as ocorrências em função daquilo que prefiro e desejo?
Quem tem medo de ser assaltado vê assaltantes por todos os lados o tempo inteiro... Quem vê ameaças em tudo enxerga ameaças por todo o lado todo o tempo. Quem está preso a experiências dolorosas do passado (frustrações, dores, decepções) fica esperando viver de novo tudo que antes doeu e foi sofrido. Nada disso tem a ver com a realidade. São apenas exemplos de como nossa percepção é suja e nosso foco sujeito a interferências terríveis de fatores emocionais, em especial aqueles de que nem temos consciência.
O que dizer do ciumento e inseguro que percebe traição e mentira em tudo, todo o tempo, sempre à procura de um motivo real para instalar sua desconfiança e destruir, uma vez mais, o relacionamento? E o que de realidade pode existir no que um ciumento típico enxerga no outro?
Todos nos servimos de várias espécies de filtros que nos dão a visão daquilo que eles filtraram... Chamamos ao que olhamos - já filtrado - de realidade...
Qualquer um de nós pode ter tido a experiência de acordar de uma espécie de transe e notar que aquilo que pensou estar lá na realidade era apenas seu desejo, seu interesse, sua expectativa.
Quem pode acreditar que está tendo uma legítima intuição quando está ainda sujando sua percepção da realidade com desejos, interesses, preconceitos de toda ordem, intenções nem sempre louváveis, expectativas pessoais de todo tipo?
Quem pode dar crédito a um presságio inconsciente se está sempre pensando, julgando, condenando, prevendo, desejando e interferindo em tudo e em todos, todo o sempre?
Quem faz o trabalho de limpar sua percepção vai se dar conta do quanto interfere –a partir de suas características pessoais– naquilo que percebe. Boa parte do trabalho terapêutico em consultório consiste de fazer a pessoa perceber o quanto ela própria interfere na sua realidade através de seus pessoais pontos de vista, através de seu foco, através de sua arbitrariedade e intencionalidade. Dar-se conta disto não vai eliminar o problema, pois nos projetamos todo o tempo em tudo, mas uma pessoa muda muito ao descobrir que componentes estão em seu filtro percebedor, que tendências ela tem embutidas no tipo e qualidade de seu foco, que aspectos da realidade ela elege para perceber e que aspectos (da realidade ou da vida) ela, ao contrário, teima em ignorar ou evitar.
Faz muita diferença na nossa vida tomarmos consciência de nossa subjetividade, pois a realidade está lá e cada um de nós não a vê igualmente.
A consciência pode muito e quem sabe relativizar seus pontos de vista, sua perspectiva pessoal e individual acaba descobrindo um mundo inteiro de possibilidades e alternativas onde antes só havia rotina, repetição e uma realidade correspondentemente chata. Essa expansão da consciência se alimenta de aspectos impessoais e femininos de nossos seres, como a capacidade de fazer silêncio (em especial em nosso íntimo), a flexibilidade, a abertura para o inesperado e o novo; a facilidade para adaptar-se, mudar e evoluir, a capacidade de relativizar seus pontos de vista, valores e crenças individuais duvidando um pouco de suas certezas e abandonando suas posturas rígidas.
A consciência de nós mesmos nos ensina também sobre os outros e sobre o mundo impessoal do não-eu, do desconhecido e, quem sabe, até do inimaginável, abrindo um universo que antes o ego consciente não imaginava existir.
Uma vez eu disse -em outro contexto- e agora repito: ainda bem que sonhamos o impensável! Ainda bem que o inconsciente é passado, presente, mas também futuro..
Da idéia até a escultura (ou obra finalizada), várias fases são cumpridas e elas não são evidentes no trabalho realizado. Contudo, sem a matéria inerte, a pedra ou rocha, sem a idéia, sem o artista, sem as ferramentas corretas, nada aconteceria e não teríamos o que admirar com nossos olhos. Estes são, ao mesmo tempo, nosso veículo para olhar, mas só realmente vê aquele que consegue perceber a idéia do artista, sua humanidade, personalidade, maturidade, sensibilidade, a natureza peculiar da rocha (ou qualquer outro material, como a madeira) e, quem sabe, até os efeitos destas ou daquelas ferramentas usadas. Olhar depende dos olhos, mas o ver depende da consciência.
O que ficaria apenas implícito é revelado para quem tem o conteúdo da EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL a lhe compor a visão da totalidade da obra ao invés de sucumbir às ilusões imaginativas de um simples olhar.
Quem ainda não tira frutos de sua experiência para ver o que olha, não consegue compor um todo inteligível e compreensível, nem colocar em uma perspectiva mais ampla aquilo que está percebendo.
Quem sucumbe unicamente ao impacto sensório e emocional da obra, fica sem ver os demais conteúdos ali implícitos, porém, passíveis de serem vistos.
Enquanto a consciência se desenvolve em nós, o passo mais importante é dar-se conta de que existe um foco e um ponto de vista, sempre... Invariavelmente. E não há saída para isto. A saída, se é que merece este nome, é tomarmos consciência de que introduzimos um foco em tudo que percebemos e isto é eleito, de algum modo, por nós mesmos. Essa é a subjetividade inerente à percepção. Não existe observador que não esteja entrando com seus interesses, seus desejos, suas intenções, sua intencionalidade - e assim por diante – em tudo que ele percebe. Chamamos a isto intencionalidade e projeção.
Nada indica que estes dois (a existência do foco e do ponto vista) vão mudar, mas alguma coisa muda quando nos damos conta de suas características e usos. O foco da visão é um problema terrível, pois quando usamos um foco, seja qual for, ao olhar discriminamos tudo que é pertinente ao foco e o que não é pertinente simplesmente é descartado e fica fora da atenção egóica. Podemos exemplificar com a presença, em nossas imaginação, de um homem teoricamente maduro que só vê o trabalho na sua frente (este é o seu foco) e que não percebe nem dá relevância à esposa, aos filhos, ao seu laser, ao seu repouso, às outras pessoas em geral... Para ele, só existem o trabalho e o dinheiro, a busca de poder, a competividade e seus desafios. O resto, tudo aquilo que não está em seu foco, simplesmente não existe. Significa simplesmente o restolho de sua perspectiva bem focada e é eliminado das suas considerações sumariamente, pois não tem a mesma importância nem está no centro de sua atenção egóica...
Para efeito de compensação e complementação entre as polaridades feminina e masculina, vejamos também em nossa imaginação uma mulher para quem só existe (em seu foco) o relacionamento com um homem, sua casa, família, filhos e para além deste foco, existe o resto, que é igualmente descartado: os maridos das outras, os filhos das outras, seus desejos mais pessoais, sua sempre adiada independência, seu direito à liberdade, seu sonho de uma carreira profissional etc..
Em ambos os exemplos aqui imaginados, encontramos pessoas típicas, muitas vezes formando casais que mutuamente se compensam, mas pessoas que estão, por assim dizer, pela metade, funcionando apenas parcialmente e longe de atingirem a porção de totalidade que suas consciências lhes permitiria, se ao menos tentassem buscar desenvolvê-las.
Quem vê, vai além daquilo que é percebido pelo olhar. Mas, muitos que acreditam estar VENDO e não apenas olhando, também sucumbem à tendência para a análise e à crítica, que levam finalmente ao julgamento, pondo em desuso o dom da compreensão e afastando igualmente a visão humanitária a ela associada. Sem estes componentes sensíveis e de polaridade feminina a percepção é igualmente a de quem olha (porém, de modo ainda mais diferenciado e especializado), mas não a de quem vê. Não por acaso, quem apenas olha é seletivo, excludente, discriminativo e judicativo.
Os desafios para que a consciência se instale em nós são sempre surpreendentes... O homem consciente não sucumbe às ilusões, nem às mais evidentes e, menos ainda, às mais sutis e camufladas por influências do ego, interesses, desejos, preferências, pré-julgamentos, preconceitos etc.. A consciência aponta para o ver, assim como a percepção egóica aponta para o olhar.
A percepção pode ser limpa dos interesses e julgamentos egóicos, mas isso exige trabalho do percebedor, especialmente para limpar sua percepção, tomando consciência de si mesmo... Fazendo-se perguntas do tipo: Por que eu sempre elejo certos aspectos da realidade para perceber? Por que sempre dou mais importância ao negativo do que ao positivo? Por que insisto em querer perceber só o que me interessa sem dar conta de perceber o que interessa aos outros? Por que imagino sempre o que os outros vão dizer antes de ouvi-los? Por que estou sempre antecipando as ocorrências em função daquilo que prefiro e desejo?
Quem tem medo de ser assaltado vê assaltantes por todos os lados o tempo inteiro... Quem vê ameaças em tudo enxerga ameaças por todo o lado todo o tempo. Quem está preso a experiências dolorosas do passado (frustrações, dores, decepções) fica esperando viver de novo tudo que antes doeu e foi sofrido. Nada disso tem a ver com a realidade. São apenas exemplos de como nossa percepção é suja e nosso foco sujeito a interferências terríveis de fatores emocionais, em especial aqueles de que nem temos consciência.
O que dizer do ciumento e inseguro que percebe traição e mentira em tudo, todo o tempo, sempre à procura de um motivo real para instalar sua desconfiança e destruir, uma vez mais, o relacionamento? E o que de realidade pode existir no que um ciumento típico enxerga no outro?
Todos nos servimos de várias espécies de filtros que nos dão a visão daquilo que eles filtraram... Chamamos ao que olhamos - já filtrado - de realidade...
Qualquer um de nós pode ter tido a experiência de acordar de uma espécie de transe e notar que aquilo que pensou estar lá na realidade era apenas seu desejo, seu interesse, sua expectativa.
Quem pode acreditar que está tendo uma legítima intuição quando está ainda sujando sua percepção da realidade com desejos, interesses, preconceitos de toda ordem, intenções nem sempre louváveis, expectativas pessoais de todo tipo?
Quem pode dar crédito a um presságio inconsciente se está sempre pensando, julgando, condenando, prevendo, desejando e interferindo em tudo e em todos, todo o sempre?
Quem faz o trabalho de limpar sua percepção vai se dar conta do quanto interfere –a partir de suas características pessoais– naquilo que percebe. Boa parte do trabalho terapêutico em consultório consiste de fazer a pessoa perceber o quanto ela própria interfere na sua realidade através de seus pessoais pontos de vista, através de seu foco, através de sua arbitrariedade e intencionalidade. Dar-se conta disto não vai eliminar o problema, pois nos projetamos todo o tempo em tudo, mas uma pessoa muda muito ao descobrir que componentes estão em seu filtro percebedor, que tendências ela tem embutidas no tipo e qualidade de seu foco, que aspectos da realidade ela elege para perceber e que aspectos (da realidade ou da vida) ela, ao contrário, teima em ignorar ou evitar.
Faz muita diferença na nossa vida tomarmos consciência de nossa subjetividade, pois a realidade está lá e cada um de nós não a vê igualmente.
A consciência pode muito e quem sabe relativizar seus pontos de vista, sua perspectiva pessoal e individual acaba descobrindo um mundo inteiro de possibilidades e alternativas onde antes só havia rotina, repetição e uma realidade correspondentemente chata. Essa expansão da consciência se alimenta de aspectos impessoais e femininos de nossos seres, como a capacidade de fazer silêncio (em especial em nosso íntimo), a flexibilidade, a abertura para o inesperado e o novo; a facilidade para adaptar-se, mudar e evoluir, a capacidade de relativizar seus pontos de vista, valores e crenças individuais duvidando um pouco de suas certezas e abandonando suas posturas rígidas.
A consciência de nós mesmos nos ensina também sobre os outros e sobre o mundo impessoal do não-eu, do desconhecido e, quem sabe, até do inimaginável, abrindo um universo que antes o ego consciente não imaginava existir.
Uma vez eu disse -em outro contexto- e agora repito: ainda bem que sonhamos o impensável! Ainda bem que o inconsciente é passado, presente, mas também futuro..
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