Redes sociais já me trouxeram grandes alegrias.
Reencontrei parentes perdidos havia mais de 30 anos. Sério. E conheci outros nascidos de lá pra cá. Minha família cresceu e, aparentemente, minha roda de amigos também, porque reencontrei gente perdida desde o tempo da escola, da igreja, da rua. Mas preciso dizer que perdi também. Quando, na última segunda-feira, uma das minhas amigas falou em homenagear outro, pressenti que algo não estava bem. Ninguém homenageia um rapaz de 42 anos, na flor da idade, com quem você deu gargalhadas homéricas falando de coisas tão áridas quanto a indústria do petróleo. Pois é. Eu não queria soar triste nem parecer óbvia demais no Dia de Finados, mas eu precisava falar dessa homenagem num dia em que tantas pessoas estão pensando naqueles que se foram.
Naquele dia, o meu círculo de amigos encolheu para nunca mais voltar ao mesmo
lugar. Um deles partiu cedo demais. Não vou falar da tristeza porque, de novo,
seria óbvio. Foi difícil não pensar nos pais do meu amigo, que sequer conheci,
só ouvi falar. Minha primeira reação foi tentar compartilhar a dor na própria
rede, uma idéia nada original, eu sei, mas ninguém é original quando sofre. Foi
no mural do meu amigo que li mensagens dirigidas ao próprio, típicas daquela
intimidade criada em anos de contato. Eu vi vídeos antigos, fotos e conheci suas
histórias recentes, depositadas como um buquê de flores, no mural da internet.
Eu até sorri tristemente ao saber sobre sua intenção de reler Grande Sertão
Veredas antes de morrer. E ele estava fazendo isso.
Fiquei menos só lamentando a minha incapacidade de compreender em todo o seu significado o fim da vida, ainda que eu não pudesse curtir no sentido positivo aquelas manifestações de alegria e pesar. Esse vazio a gente curte no fogo brando do tempo, esperando que, na memória, só restem as risadas. Antigamente, os amigos iam ao enterro, levavam flores, abraçavam-se, consolavam-se. Nossa romaria mudou de lugar, arrastando pessoas das mais diversas cidades para o mesmo endereço no mundo virtual. Hoje, nossas mensagens estão registradas em imagens, preces, posts e músicas, numa belíssima lápide social.
Reencontrei parentes perdidos havia mais de 30 anos. Sério. E conheci outros nascidos de lá pra cá. Minha família cresceu e, aparentemente, minha roda de amigos também, porque reencontrei gente perdida desde o tempo da escola, da igreja, da rua. Mas preciso dizer que perdi também. Quando, na última segunda-feira, uma das minhas amigas falou em homenagear outro, pressenti que algo não estava bem. Ninguém homenageia um rapaz de 42 anos, na flor da idade, com quem você deu gargalhadas homéricas falando de coisas tão áridas quanto a indústria do petróleo. Pois é. Eu não queria soar triste nem parecer óbvia demais no Dia de Finados, mas eu precisava falar dessa homenagem num dia em que tantas pessoas estão pensando naqueles que se foram.
Naquele dia, o meu círculo de amigos encolheu para nunca mais voltar ao mesmo
lugar. Um deles partiu cedo demais. Não vou falar da tristeza porque, de novo,
seria óbvio. Foi difícil não pensar nos pais do meu amigo, que sequer conheci,
só ouvi falar. Minha primeira reação foi tentar compartilhar a dor na própria
rede, uma idéia nada original, eu sei, mas ninguém é original quando sofre. Foi
no mural do meu amigo que li mensagens dirigidas ao próprio, típicas daquela
intimidade criada em anos de contato. Eu vi vídeos antigos, fotos e conheci suas
histórias recentes, depositadas como um buquê de flores, no mural da internet.
Eu até sorri tristemente ao saber sobre sua intenção de reler Grande Sertão
Veredas antes de morrer. E ele estava fazendo isso.Fiquei menos só lamentando a minha incapacidade de compreender em todo o seu significado o fim da vida, ainda que eu não pudesse curtir no sentido positivo aquelas manifestações de alegria e pesar. Esse vazio a gente curte no fogo brando do tempo, esperando que, na memória, só restem as risadas. Antigamente, os amigos iam ao enterro, levavam flores, abraçavam-se, consolavam-se. Nossa romaria mudou de lugar, arrastando pessoas das mais diversas cidades para o mesmo endereço no mundo virtual. Hoje, nossas mensagens estão registradas em imagens, preces, posts e músicas, numa belíssima lápide social.
- Isabel Clemente
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