TUDO na minha vida teve o momento certo, independente dos erros e acertos. Acredito em destino. Confio em Deus. A única coisa que odeio é ver as pessoas que amo partirem. Não gosto de sentir saudade. Amo incondicionalmente. Tenho amigas-irmãs. Ter filhos é a melhor coisa do mundo. Alegria me renova. Família é a base de tudo. Desafios fortalecem. Tenho fé. Acredito no AMOR pque amo e sou muito amada!
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Sentimentos demais
Ou como evitar que o amor morra afogado em nossas emoções
IVAN MARTINS
Vamos ser francos: nosso problema não é sexo. Isso se arranja com facilidade. O que nos exaspera são as relações que estabelecemos a partir do sexo, ou apesar dele. O que nos sufoca é aquilo que se faz antes e depois de transar. A pessoa que fica ali – ou que gostaríamos que ficasse, mas não fica – constitui nosso maior problema, e talvez nossa única solução.
Estar com alguém mais do que ocasionalmente, porém, constitui um desafio insolúvel – tanto quanto um prazer imensurável.
As pessoas têm manias, têm temperamento, têm hábitos que nos incomodam. Elas reclamam de tudo, pateticamente. Elas se enfurecem com tudo, histericamente. Elas têm problemas, opiniões, desejos, amigos. Elas são lindas e nos causam ciúme. Elas são controladoras e nos irritam. Elas podem ser frívolas e indiferentes. Frequentemente mergulham nelas mesmas e nos deixam entregues às apreensões e receios. Às vezes queremos que sumam, morram, pelo-amor-de-deus desapareçam. No outro dia acordamos sem elas e o coração perde duas batidas, de medo.
Na verdade, sofremos de sentimentos demais. Eles transbordam, excedem, afogam. Seria infinitamente mais simples se fôssemos como os outros. Veja o casal do elevador, o professor de natação e a namorada dele. Obviamente felizes, simples, calmos. Trocam duas palavras e um olhar entre o quinto e o térreo. Gente bem resolvida. É impossível que ela chore de noite por temer que ele não a ame. Evidentemente ele não se isola diante da televisão e tenta aplacar os nervos vendo um filme inútil. Eles certamente nunca se metem em discussões dolorosas. Sabem o que fazer deles mesmos e do seu amor. Eles têm as respostas. As criaturas esquisitas somos eu, você e os nossos parceiros. Eles, os outros, são simples e felizes. Gente bem resolvida.
Na verdade, sofremos de sentimentos demais. Eles transbordam, excedem, afogam. Seria infinitamente mais simples se fôssemos como os outros. Veja o casal do elevador, o professor de natação e a namorada dele. Obviamente felizes, simples, calmos. Trocam duas palavras e um olhar entre o quinto e o térreo. Gente bem resolvida. É impossível que ela chore de noite por temer que ele não a ame. Evidentemente ele não se isola diante da televisão e tenta aplacar os nervos vendo um filme inútil. Eles certamente nunca se metem em discussões dolorosas. Sabem o que fazer deles mesmos e do seu amor. Eles têm as respostas. As criaturas esquisitas somos eu, você e os nossos parceiros. Eles, os outros, são simples e felizes. Gente bem resolvida.
Gostaríamos que não fosse assim, claro. Preferiríamos ser gente simples, composta, direta. Em vez de todas as memórias dolorosas que trazemos conosco, paz. Em vez da confusão de planos e aspirações, clareza. Nada de turbulência submersa, nenhuma recordação inconfessável, apenas superfície indevassável e tranquila, como um lago. Os sentimentos são o nosso principal problema, claramente. Estamos encharcados deles. Sentimentos de toda espécie, misturados. Você olha para aquela pessoa que abriu a porta e eles afloram, conturbados. Quanta aflição não esconde um abraço? A gente então conversa, e a confusão reflui. A gente espanta o assombro com a nossa voz e o nosso riso. A trivialidade nos resgata como um bote salva vidas. Nos olhos da mulher que a gente ama há uma praia tranquila onde a gente ancora – até que o mar no interior dela se agite e a paz efêmera se perca. De novo.
Imagine deslizar a mão pelo corpo macio dela sem que a cabeça esteja tomada por ideias conflitantes. Que genial fazer amor sem que nele se projete, num rosnado, o velho arsenal de ressentimentos que parece ter nascido conosco. O sexo então seria puro, biológico, em vez de uma batalha épica entre o bem e o mal, entre o público e o privado, entre o certo e o errado que nos habitam. E, depois do prazer, enrolar-se cheio de ternura e de angústia agridoce naquela criatura que ofega. Sentir-se pai, filho, irmão, apaixonado, opressor-filho-da-puta, canalha, marido. O que mais?
Os sentimentos não nos largam, indecifráveis. O carro trafega a 40 km por hora, numa alameda ensolarada, e a lembrança de um certo olhar pungente quase nos leva às lágrimas. De onde vem essa emoção? Certamente da música, um samba travesso de Chico Buarque que nos conecta a tudo e a todos, num momentâneo abraço cósmico pós-eleitoral. Somos todos irmãos, ela me ama, a morte mora numa toca no fim da eternidade, tudo é lindo.
Sejamos francos: nosso problema não é sexo, é amor. Encontrá-lo, conquistá-lo, torná-lo parte da nossa vida e, ao final, talvez, detestá-lo. Nosso problema é preservar esse amor em meio à tempestade de trovões dos nossos sentimentos. Cuidar para que o fascínio físico dos primeiros dias não se perca, evitar que a confiança que vem depois não nos cegue de tédio. Nossa tarefa, gigantesca, é fazer com prazer – e com o mínimo de sanidade – as coisas que se fazem antes e depois de trepar. A pessoa que fica ao nosso lado nesse intervalo é nosso maior problema, e talvez a única solução.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
A Polêmica Dieta do Hormônio da Gravidez (HCG)
No último domingo, passei na livraria Saraiva com o meu namorado e, como sempre, fui dar uma olhadinha nas revistas. Escolhi a edição de junho da Marie Claire e, passando rapidamente pelas páginas, vi uma reportagem sobre “A Polêmica Dieta da Moda”: as mulheres estão utilizando o hormônio da gravidez (HCG) + dieta de 500kcal para emagrecer.
A princípio eu fiquei chocada e comecei a ler a reportagem por mais que o meu namorado insistisse para que fossemos embora, pois ao contrário da matéria íamos jantar no Outback (sim, batata frita com queijo e bacon e costela regada ao molho barbecue hummmm).
A dieta HCG ganhou força e adeptos nos Estados Unidos e Europa principalmente por causa da proibição dos inibidores de apetite.
O que é o HCG?
A polêmica dieta da moda é conhecida como “Dieta HCG”. O HCG (sigla em inglês para Gonadotrofina Coriónica Humana) é um hormônio que o corpo da mulher produz quando está grávida. Nesse caso, o HCG é responsável por suspender a produção dos hormônios que estimulam a ovulação e, consequentemente, ocorre a suspensão do ciclo menstrual. A utilização desse hormônio também aplica-se no tratamento contra a infertilidade.
No que consiste a dieta?
Com a promessa de perda rápida de peso, a dieta que tem a duração de 26 dias, consiste na ingestão de apenas 500 calorias diárias, com a proibição do consumo de carboidratos e açúcar + 3 injeções diárias ou cápsulas do hormônio. Nos 2 primeiros dias a paciente se alimenta normalmente e já recebe as injeções, a partir do 3° dia inicia-se a restrição alimentar. Além disso as atividades físicas devem ser moderadas.
Como ela funciona no nosso corpo?
Como o HCG é produzido pelo corpo da mulher durante a gravidez uma de suas funções é transferir a reserva de gordura do corpo e os nutrientes para a placenta, com o objetivo de alimentar o bebê e não para eliminar a fome ou a gordura. Consequentemente, como metabolismo mais elevado o corpo passa a eliminar a gordura, protegendo o tecido muscular.
Os médicos afirmam ainda que há relação entre o hormônio e a sensação de saciedade, o que ajuda as mulheres a resistir à fome (afinal, estamos falando de uma dieta de 500kcal). Essa dieta promete eliminar de 500gr a 1kg por dia.
Fonte: http://www.tudodimenina.com.br/2011/06/a-polemica-dieta-do-hormonio-da-gravidez-hcg
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Visualize o que deseja alcançar!
por Miguel Lucas.
Indiscutivelmente somos seres pensantes. No entanto o nosso pensamento é alimentado e potenciado pela nossa capacidade imaginativa. A imaginação, visualização e criação de imagens mentais são tudo habilidades que nos permitem projetarmos o nosso futuro. A visualização é a habilidade que permite criar imagens que simulamos na nossa mente com base naquilo que desejamos, queremos ou pretendemos que venha a realizar-se. Podemos imaginar-nos a melhorar-nos e com isso potenciar a nossa vida. Podemos antever na nossa mente um determinado resultado ou até mesmo visualizar algo, como por exemplo, a nossa casa de sonho. A imaginação é o limite. A visualização faz uso da imaginação para que possamos simular de forma mais real possível aquilo que pretendemos que venha a acontecer.
Não basta visualizar o que pretendemos para tornar os sonhos em realidade. A visualização aqui é definida como uma habilidade que estabelece forte relação com a imaginação (capacidade de planejar e simular resultados) com a motivação e com outras habilidades cognitivas, que em psicologia damos o nome de funções executivas. No fundo a visualização como promotora de resultados é o combustível das outras funções executivas, e todas em associação permitem a estruturação de ações para obtenção daquilo que desejamos.
A saber: Funções executivas, referem-se à capacidade de engajamento em comportamento orientado a objetivos, realizando ações voluntárias e auto-organizadas.
A capacidade de orientar as imagens, de filtrá-las e canalizá-las no sentido de construir cenários que se aproximem da realidade e, consequentemente motivar-nos e incentivar-nos à sua persecução joga um papel fundamental enquanto potenciador da visualização. Expliquei este assunto de forma mais aprofundada no artigo, o poder da imagética: podemos imaginar a melhorar-nos?
“Sonhe sonhos grandiosos e, naquilo que sonhar, nisso você se tornará.” - James Allen
Toda a realização começa na mente. Portanto, o que você vê na sua mente é o que o influencia, é o que o orienta e conduz, ou não, aos resultados desejados. Palavras, pensamentos e imagens positivas potenciam a sua mente, escolha o que pretende criar na sua mente para que possa igualmente florescer no mundo real. Clarifique a sua visão de sucesso. Se você acerta no seu alvo ou não, é em grande parte dependente da clareza das imagens criadas na sua mente. De acordo com esta perspetiva, importa levantar uma questão:
Quão nítida é a sua visão relativamente ao que deseja obter?
OBTER AQUILO QUE QUER
Sem dúvida que devemos utilizar todos os recursos mentais disponíveis para podermos criar uma visão daquilo que queremos, isso é potenciar a nossa mente em função dos resultados que desejamos ver realizados. No entanto um passo adicional terá de ter lugar para efetivar aquilo que antecipadamente foi visualizado na mente. Falo exatamente de ações intencionais e específicas que possam materializar a visualização. Caso contrário, você estará simplesmente praticando o pensamento positivo inerte.
Quando você tem uma visão clara daquilo que quer e eventualmente do que fazer para tornar esse sonho em realidade, quando se deparar com as possibilidades, você irá reconhecê-las e estar preparado para agir. No caso das possibilidades não lhe baterem à porta, se a sua visão o inspirar, certamente irá promover um conjunto de ações que só por si criarão as possibilidades necessárias à execução da sua visualização.
A reter: A Visualização por si só não leva a lugar nenhum, mas ainda assim é por onde você deve começar.
A IMPORTÂNCIA DE USAR A VISUALIZAÇÃO
Faço-lhe a seguinte questão: “Onde você quer estar daqui a um ano?” Sempre que você faz planos, sempre que você idealiza algo ou perspetiva alcançar alguma coisa, imagens mentais correspondentes são criadas na sua cabeça. Tal como referido anteriormente, no exato momento que as imagens são criadas e estejam de acordo com os seus desejos, elas são reais para si. Todo o seu corpo reage ao cenário que está a viver na sua cabeça. Corpo e mente alteram o seu estado. Você está agora num estado alterado de consciência. Você passou a viver internamente o filme do seu desejo. Quanto mais pormenores, cores, cheiros, sensações e emoções fizerem parte desse cenário, mais ímpeto, motivação e confiança você terá para passar tudo para ações. A visualização é uma habilidade muito poderosa. A visualização tem o poder de mobilizar todo o seu organismo em prol do resultado perspetivado. Quando mais você acreditar nos cenários criados por si mesmo na sua mente, mais viabilidade existe em energizá-lo a tomar ações que promovam esses mesmos cenários.
SEM UMA VISÃO A VIDA PODE TORNAR-SE ABORRECIDA
Você está entediado, desligado e desiludido com a vida? Se assim for, é provável que lhe falte uma visão acerca do que pretende para si. Você não gastou o tempo e energia necessários para definir o seu futuro. Você está desperdiçando o seu tempo e a sua vida. É como se momento a momento você não idealizasse nada ou não desejasse alcançar nada. O ser humano sem objetivos, fica sem rumo, fica sem estímulos que despertem e canalizem a energia para a obtenção ou realização de algo. Quando nascemos vimos ao mundo com um ânimo para a ação, para a descoberta e reforço daquilo que queremos fazer e alcançar.
Eu desafio-o a formular uma visão acerca daquilo que gostaria de viver ou alcançar daqui a um ano. Ter uma visão clara e vívida acerca do seu futuro vai animar consideravelmente o seu dia-a-dia. Irá energizá-lo. Irá inspirá-lo e elevá-lo. Acenda sua a paixão visualizando o que deseja alcançar.
A reter: Insatisfação e desânimo não são causadas pela ausência de coisas, mas pela falta de visão.
A VISÃO FORNECE-LHE PROPÓSITO
Você é capaz de muito mais. Uma visão clara e concisa fornece uma finalidade. De repente, toda aquela confusão e procrastinação irá dissipar-se. O seu caminho ficará mais claro. Você vai movimentar-se com intenção. Você vai levantar-se e tornar-se a pessoa que a sua visão estimula a que você seja. Você planta a semente e observa algo a crescer. Certamente daqui a uma ano, você vai ficar surpreendido com aquilo que realizou.
“A visão não é apenas uma imagem do que poderia ser, é um apelo ao nosso eu mais elevado, uma chamada para se tornar algo mais.” - Rosabeth Moss Kanter
A VISÃO GUIA A AÇÃO
As nossas realizações não acontecem por acaso (pelo menos na grande maioria das vezes). Para alcançarmos algo que desejamos, mas que consideramos que necessita da nossa dedicação e empenho, é importante ter a noção de que o processo passo a passo, do pouco a pouco favorece a materialização da nossa visão. Se você todos os dias perguntar a si mesmo: ”O que eu posso fazer hoje para mover-me um passo mais perto da minha visão?” Existe uma conversa que você pode ter? Existe um livro que você pode ler? Há um trabalho a ser feito? A sua visão vai orientar a sua ação e levá-lo para o centro do alvo. Você ficará mais próximo de atingir os objetivos desejados.
Se eu não sei para onde quero viajar, fico à deriva, à mercê da vida e dos outros, podendo ir ter a um lugar qualquer. Com um objetivo em mente, você pode orientar os seus passos e ações no sentido de se ir alinhando com o que pretende alcançar.
“Você tem que pensar em coisas grandes, enquanto você está fazendo coisas pequenas, de modo que todas as pequenas coisas caminhem na direção certa.” - Alvin Toffler
A VISÃO LEVA A RESULTADOS
Em última análise, a visão desagua nos resultados. Assim que você começa a desenvolver ações de acordo com a sua visão, a sua mente irá passar a processar as possibilidades com que se depara de forma mais assertiva e funcional. Eventualmente, você vai tornar-se consciente de que atingir o seu objetivo é inevitável. Você vai perceber que grande parte dos seus pensamentos organizam-se no sentido de procurar soluções que promovam aquilo que deseja alcançar e que previamente viu na sua mente. Você apenas tem que seguir a sua visão. Os resultados irão aparecer.
Aponte a sua mira para o alvo e você irá melhorar significativamente os seus resultados. A sua vida vai florescer. Você vai aumentar a probabilidade de prosperar.
“Muitos dos nossos sonhos parecem impossíveis, depois improváveis, depois inevitáveis.” - Christopher Reeve
DEFINA A VISÃO QUE DESEJA ALCANÇAR
Você tem dificuldade em criar uma visão clara para a sua vida? Você realmente sabe onde quer estar daqui a um ano? Isso não é algo que seja ensinado na escola. Portanto, você pode precisar de algumas orientação para descobrir isso. Apesar da visualização ser uma habilidade natural nos seres humanos, é usual as pessoas não estarem suficientemente cientes disso no sentido de usarem essa capacidade extraordinária na elaboração do seu futuro.
Por exemplo, tente recordar-se do seu primeiro dia de escola. Faça isso agora. Quando acede à sua memória, aquilo que lhe surge na mente são imagens dos acontecimentos que ainda consegue recordar. No entanto, provavelmente algumas das imagens que possam pertencer ao cenário criado na sua mente, são uma construção sua e atual. Ou seja, você está a usar a sua imaginação e visualização para construir o que não consegue recuperar da sua memória.
Para definir a visão que deseja alcançar, o processo é idêntico. Você tem de aceder a imagens que conhece, a coisas que sabe serem reais e utilizá-las como projeções para construir o seu cenário futuro imaginado. Coloque o máximo de pormenores possíveis. O seu cérebro não distingue cenários reais de cenários imaginados. Por esse motivo, quer você se remete para o seu passado, recordando-o, ou se remeta para o seu futuro visualizando-o, o seu corpo reage da mesma forma. No artigo: O poder da imagética, podemos imaginar a melhorar-nos?, expliquei o processo das reações físicas que o corpo sofre em resposta às imagens mentais.
A vantagem de visualizar o que se deseja alcançar, é que as imagens estabelecem uma forte relação com os sentimentos e com os pensamentos. Se as imagens que cria acerca do seu futuro, são imagens carregadas de paixão, de desejo e impeto, certamente o seu corpo irá reagir a esse cenário criando (antecipando no seu corpo) os sentimentos que julga ir experimentar quando chegar o momento. Na verdade, você começa a viver o seu futuro antes de ele se materializar. Isto é extraordinário, porque você começa a organizar-se de acordo com a sua nova realidade. A realidade antecipada. Este processo é utilizado por muitos atletas antes de baterem os recordes desejados. Os atletas treinam diariamente com a convicção que chegará o momento em que conseguirão superar-se e consequentemente superar os seus recordes. Vivem o seu dia-a-dia à luz daquilo que pretendem vir a alcançar.
http://www.escolapsicologia.comPara realizar grandes coisas, devemos não apenas agir, mas também sonhar, não apenas planejar, mas também acreditar ” – Anatole France.
sábado, 27 de outubro de 2012
Alienação Parental: uma tragédia
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desde meados de 2010, prevê punição para quem comete alienação parental. Isso significa que mãe, pai ou avós, podem ser punidos pela lei se atuarem para dificultar o contato do menor com um dos genitores ou se atuarem no sentido de desqualificar ou destruir a imagem de um dos responsáveis pelo menor.
Havendo condenação os culpados estarão sujeitos ao pagamento de multas, perda da guarda e a detenção de seis meses a dois anos. O Estado passa a regular e a normatizar os familiares, visando proteger a família e coloca em evidência a questão da Alienação Parental, reconhecendo os prejuízos materiais, afetivos e emocionais decorrentes dessa atitude.
O principal motivo que leva um genitor a desqualificar o outro genitor e a desestimular os filhos a terem contato com o mesmo é a dificuldade em elaborar o trauma da separação. O genitor, ao não aceitar o fim do casamento, pode ser tomado pela melancolia e pela dor intensa. Esses fortes sentimentos geram ódio e sede de vingança. É quando ressentimento se instala. O ressentido crê que pode prejudicar livremente, que é seu direito, pois se sentiu muito lesado. Não poupa os filhos e coloca em risco o desenvolvimento psicológico deles. Não consegue perdoar.
Por sua vez, os que se deixam alienar podem estar deprimidos, conformados demais a uma posição de vitima. Uma espécie de masoquismo moral pode se apoderar deles. Alguns repetem a própria história de abandono e de perdas, pois sofreram na infância ou juventude traumas dessa ordem. Outros parecem impotentes e incapazes de lutar pelos filhos que saem bastante castigados dessa situação.
Crianças são usadas com facilidade pelos pais que acreditam que seus filhos são seus joguetes. A dependência infantil é a principal arma para perpetrar o crime de apagar parte da história de alguém. A culpa em relação ao genitor alienado ocorre quando o filho percebe que foi vitima e cúmplice desse tipo de estratégia maligna. A desconfiança de quem patrocinou a alienação se instala de forma avassaladora, pois a situação é desconcertante. A dor causada pela mentira é muito violenta.
Dor que gera dor, violência que gera violência. A lógica da Alienação Parental é a antítese do perdão. A impossibilidade de superar, marca psíquica do progenitor, se torna uma posição insuperável para o descendente, que não têm como reparar ou modificar o passado. A Alienação Parental é uma tragédia.
POR LUCIANA SADDI / FOLHA DE SÃO PAULO.
POR LUCIANA SADDI / FOLHA DE SÃO PAULO.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Minha filha me reprogramou
Filhos renovam os pais. Em vez de resistir, aprenda com eles!
CRISTIANE SEGATTO
- Não dá para falar agora, mãe. Preciso terminar esse vídeo até amanhã.
Alguns dias antes, minha menina de 12 anos havia pedido para comprar, com meu cartão de crédito, um programa para ajudá-la a produzir vídeos no tablet.
Em cima da cama, a montanha de álbuns da infância, recheados de fotos em papel, dava uma pista do projeto que a mantinha tão concentrada. Quando ela finalmente explicou do que se tratava, sorri por dentro. Feliz, orgulhosa da sensibilidade da cria.
A amiga mais próxima, vizinha de porta, companheira de aventuras desde que as duas tinham um ano de idade, faria aniversário no dia seguinte. Depois de tantos anos dividindo tudo, as duas terão de se acostumar com a ideia da separação. No final do ano, a garota se muda com a família para o Exterior.
Bia, minha filha, quis preparar um presente especial. Alguma coisa que a quase irmã pudesse ver e rever, sempre que tivesse saudade ou vontade de relembrar as emoções daquela convivência. As brigas, os chamegos, o apoio mútuo, os desafios, as descobertas dos primeiros anos.
O vídeo ficou pronto naquela mesma noite. Quando sentei ao lado dela para assistir, tentei disfarçar meu coração de manteiga. Em vão, é claro. Se existe alguém que conhece meus excessos esse alguém é ela.
Meus olhos ficaram molhados logo na primeira cena. Assim que surgiu na tela o nome de sua produtora imaginária. O que vi depois do “Bia Segatto Filmes apresenta...” foi um lindo exercício de síntese. A escolha da palavra exata, da imagem exata para traduzir em pouco mais de um minuto uma história que demorou 12 anos para ser construída.
A história daqueles dois pacotinhos de gente que cresceram e estão virando adolescentes cheias de gostos, de opiniões e de uma alentadora capacidade de enxergar o outro com olhos solidários.
Escolher a palavra exata, a imagem exata, a síntese perfeita é também a obsessão do meu ofício. Persigo a simplicidade, a clareza, o essencial. A Bia, que já me ensinou tanto sobre a vida, está me ajudando também a avançar nesse objetivo profissional.
A geração dela está exposta a um bombardeio sem precedentes de informações, de estímulos visuais, sensoriais, de luxo e de lixo. Por isso mesmo, essa geração desenvolveu uma capacidade incomum de ir direto ao ponto. De pinçar o que interessa. De selecionar, classificar, resumir. É econômica na linguagem e no uso do tempo, mas não perde de vista o alvo de interesse. É a geração dos olhos de lince.
Sempre é possível fazer diferente. E até mesmo desafiar os limites biológicos da reinvenção. Que nos sirva de inspiração o trabalho que rendeu nesta semana o Prêmio Nobel de Medicina ao japonês Shinya Yamanaka.Já pedi para a Bia me dar umas aulas com o programa novo. Vou aprender com ela a fazer vídeos, vou me exercitar na arte do despojamento, vou aparar os excessos. Essa menina me reprogramou. E a obra está inacabada. Enquanto houver vida existe a chance de reinvenção.
Ele também é um obcecado pelo fundamental, pelo indispensável. E assim descobriu os quatro genes essenciais capazes de fazer uma célula adulta voltar no tempo. E se comportar como se fosse imatura, embrionária, com o potencial de seguir qualquer caminho, virar qualquer coisa.
Não gosto de usar a palavra “revolucionária” para me referir a criações científicas. Esse cuidado nos livra do risco de anunciar uma revolução por dia, mas a descoberta de Yamanaka realmente mudou os rumos da pesquisa biomédica. Por isso, ele ganhou um Nobel em apenas seis anos – um reconhecimento que os laureados costumam levar décadas, ou uma vida inteira, para conquistar.
Yamanaka reprogramou a própria carreira (era um cirurgião ortopédico frustrado), reprogramou o desenvolvimento das células, reprogramou o jeito de fazer ciência biomédica e, se tudo correr como o previsto, vai permitir que o destino de milhares de pacientes seja reprogramado. Quem quiser saber detalhes sobre essas pesquisas encontra neste link uma reportagem que fiz num laboratório da UFRJ com a equipe que faz no Brasil aquilo que Yamanaka fez no Japão.
Yamanaka reprogramou a própria carreira (era um cirurgião ortopédico frustrado), reprogramou o desenvolvimento das células, reprogramou o jeito de fazer ciência biomédica e, se tudo correr como o previsto, vai permitir que o destino de milhares de pacientes seja reprogramado. Quem quiser saber detalhes sobre essas pesquisas encontra neste link uma reportagem que fiz num laboratório da UFRJ com a equipe que faz no Brasil aquilo que Yamanaka fez no Japão.
Tudo o que Yamanaka descobriu é real, mas as células reprogramadas guardam alguma semelhança com Benjamim Button, o protagonista da incrível fábula sobre o tempo estrelada por Brad Pitt. Nos dois casos, o tempo é um mero detalhe.
Tudo isso nos ajuda a lembrar que a vida pode ser reinventada.Com filhos por perto, tudo fica mais fácil. Filhos renovam os pais. Não apenas lançam moda, apresentam músicas e tribos como nos obrigam a sair do conforto. Argumentam, incitam, discutem. Ajudam a ver que as coisas funcionam de um jeito, mas bem que poderiam funcionar melhor de outro.
Nem sempre a convivência é pacífica e indolor, mas estou convencida que ter filhos é melhor que não tê-los. Filho amansa, acalma, enverga, reprograma.
Como a Bia fez comigo e Yamanaka fez com o mundo, neste Dia das Crianças desejo constante reprogramação a todos nós. Na minha mesa aqui na redação há um cartão exposto num lugar de destaque. Ele traz um poema de Cora Coralina. É inspiração para todos os dias. Espero que também tenha algo a dizer a vocês:
Como a Bia fez comigo e Yamanaka fez com o mundo, neste Dia das Crianças desejo constante reprogramação a todos nós. Na minha mesa aqui na redação há um cartão exposto num lugar de destaque. Ele traz um poema de Cora Coralina. É inspiração para todos os dias. Espero que também tenha algo a dizer a vocês:
“Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”
João Pedro, 16, e eu. |
Fernando Pessoa
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
Como fica o romantismo com a chegada dos filhos?
Embora a biologia explique as tantas alterações e instabilidades que ocorrem no corpo e no humor de uma mulher assim que ela dá à luz um filho, não restam dúvidas de que não é nada fácil, na maioria das vezes, administrar um corpo modificado, mais um bebê exigente, mais um casamento em jogo.
Não que a chegada de um filho seja um evento ruim. Longe disso e muito pelo contrário! Trata-se de uma bênção, uma nova etapa do amor. Mas sejamos honestos: é praticamente como abrir uma nova, grande e importante empresa! Explico! Quando colocamos uma pessoinha tão amada no mundo, queremos que ela dê certo, que ela seja saudável, inteligente, educada, próspera e, claro, feliz, realizada - assim como uma empresa bem sucedida!
Para tanto, não medimos esforços. Na medida do possível, investimos no desenvolvimento dela boa dose de atenção, tempo e dinheiro, todo nosso conhecimento e todas as nossas melhores intenções. Afinal, um filho exige dedicação e comprometimento para crescer de modo satisfatório, principalmente nos primeiros anos de sua vida, ou até ganhar certa autonomia.
Até lá, como fica a relação entre a diretoria? Isto é, como fica a atenção, a paciência, o carinho e o namoro - tão nutritivos e essenciais - entre o papai e a mamãe, entre este homem e esta mulher que, depois de se dedicarem o dia todo para que nada falte ao lindo bebê, encontram-se sozinhos num mesmo quarto?
Sim, podemos imaginar: exaustos, às vezes irritados por não conseguirem dar conta de tudo, ansiosos ao pensarem quanto tempo terão até o próximo choro, até a próxima reivindicação do leitinho da mamãe. Enfim, por vários motivos óbvios, especialmente a mulher tende a se sentir sem o menor clima para romantismos e intimidades mais ousadas.
Começando pela famosa "quarentena", período de 40 dias em que as relações sexuais ficam proibidas para que o corpo da mulher se recupere do parto, passando pelos desencontros do tipo "quando um está dormindo o outro está trabalhando", "quando o outro está disponível o um está ocupado", e assim vai... torna-se realmente complicado encontrar um tempo para retomarem a vida de casal.
Ok, esse cenário é compreensível e aceitável por algum tempo, mas não por muito tempo. Não por tempo suficiente para tornar o seu relacionamento cada dia mais tenso, chato e desestruturado. Certamente, não é isso que vocês querem. Portanto, é hora de se planejar e agir! Amar não é um sentimento abstrato, é um verbo de ação. Pede escolha, decisão e atitude! Algumas sugestões que podem ajudar:
1- Quando sentirem que o bebê já pode passar algumas horas da noite com a babá, a vovó, o titio ou a madrinha - por volta dos três meses talvez - não deixem que a preguiça ou algum sentimento de culpa equivocado impere! Marquem um jantar, um passeio, um cinema, qualquer diversão que inclua só vocês dois! Momento de se olharem, se ouvirem, falarem de seus sentimentos e desejos. Momento de se parabenizarem pelo belo trabalho que têm feito desde que o pequenino chegou.
2- Depois de mais algum tempo, quando o nem tão pequenino assim já puder passar um final de semana longe de vocês, é hora de planejar uma viagem a sós. Pode ser num lugar bem perto, desde que tenham privacidade. Hora de matar as saudades do tempo em que podiam se agarrar, namorar sem medo de fazer barulho, sem medo de ouvir um chorinho ou um "manhêêê" ou "paaaaaaiii". Hora de investir na ousadia, na sedução e na vontade de reconquistar a pessoa amada. Vale a pena. É restaurador!
3- Mantenham a consistência! Ou seja, reservem um tempo só para vocês dois. Que seja uma vez por semana, uma vez a cada quinzena ou uma vez por mês - mais do que isso seria negligenciar uma área muito importante da sua vida - o seu casamento, o relacionamento com quem você compartilha sua vida!
Sei que razões para não tomar essas decisões surgirão muitas: falta de dinheiro, falta de tempo, falta de ânimo e falta de consciência do quanto isso é importante. Porém, posso garantir: aquele ditado sobre o amor ser como uma flor que precisa ser regada para sobreviver é muito sábio e verdadeiro.
Não espere que seu casamento desmorone para somente então se lamentar ou acusar o outro por não ter feito a parte dele. Faça a sua. E faça agora. Afinal, ser mãe e ser pai é mesmo uma delícia, desde que tanto nós quanto eles - os filhos - percebam que por trás desses papéis existe um casal que precisa de tempo, espaço e amor compartilhado com privacidade e intimidade.
Não que a chegada de um filho seja um evento ruim. Longe disso e muito pelo contrário! Trata-se de uma bênção, uma nova etapa do amor. Mas sejamos honestos: é praticamente como abrir uma nova, grande e importante empresa! Explico! Quando colocamos uma pessoinha tão amada no mundo, queremos que ela dê certo, que ela seja saudável, inteligente, educada, próspera e, claro, feliz, realizada - assim como uma empresa bem sucedida!
Para tanto, não medimos esforços. Na medida do possível, investimos no desenvolvimento dela boa dose de atenção, tempo e dinheiro, todo nosso conhecimento e todas as nossas melhores intenções. Afinal, um filho exige dedicação e comprometimento para crescer de modo satisfatório, principalmente nos primeiros anos de sua vida, ou até ganhar certa autonomia.
Até lá, como fica a relação entre a diretoria? Isto é, como fica a atenção, a paciência, o carinho e o namoro - tão nutritivos e essenciais - entre o papai e a mamãe, entre este homem e esta mulher que, depois de se dedicarem o dia todo para que nada falte ao lindo bebê, encontram-se sozinhos num mesmo quarto?
Sim, podemos imaginar: exaustos, às vezes irritados por não conseguirem dar conta de tudo, ansiosos ao pensarem quanto tempo terão até o próximo choro, até a próxima reivindicação do leitinho da mamãe. Enfim, por vários motivos óbvios, especialmente a mulher tende a se sentir sem o menor clima para romantismos e intimidades mais ousadas.
Começando pela famosa "quarentena", período de 40 dias em que as relações sexuais ficam proibidas para que o corpo da mulher se recupere do parto, passando pelos desencontros do tipo "quando um está dormindo o outro está trabalhando", "quando o outro está disponível o um está ocupado", e assim vai... torna-se realmente complicado encontrar um tempo para retomarem a vida de casal.
Ok, esse cenário é compreensível e aceitável por algum tempo, mas não por muito tempo. Não por tempo suficiente para tornar o seu relacionamento cada dia mais tenso, chato e desestruturado. Certamente, não é isso que vocês querem. Portanto, é hora de se planejar e agir! Amar não é um sentimento abstrato, é um verbo de ação. Pede escolha, decisão e atitude! Algumas sugestões que podem ajudar:
1- Quando sentirem que o bebê já pode passar algumas horas da noite com a babá, a vovó, o titio ou a madrinha - por volta dos três meses talvez - não deixem que a preguiça ou algum sentimento de culpa equivocado impere! Marquem um jantar, um passeio, um cinema, qualquer diversão que inclua só vocês dois! Momento de se olharem, se ouvirem, falarem de seus sentimentos e desejos. Momento de se parabenizarem pelo belo trabalho que têm feito desde que o pequenino chegou.
2- Depois de mais algum tempo, quando o nem tão pequenino assim já puder passar um final de semana longe de vocês, é hora de planejar uma viagem a sós. Pode ser num lugar bem perto, desde que tenham privacidade. Hora de matar as saudades do tempo em que podiam se agarrar, namorar sem medo de fazer barulho, sem medo de ouvir um chorinho ou um "manhêêê" ou "paaaaaaiii". Hora de investir na ousadia, na sedução e na vontade de reconquistar a pessoa amada. Vale a pena. É restaurador!
3- Mantenham a consistência! Ou seja, reservem um tempo só para vocês dois. Que seja uma vez por semana, uma vez a cada quinzena ou uma vez por mês - mais do que isso seria negligenciar uma área muito importante da sua vida - o seu casamento, o relacionamento com quem você compartilha sua vida!
Sei que razões para não tomar essas decisões surgirão muitas: falta de dinheiro, falta de tempo, falta de ânimo e falta de consciência do quanto isso é importante. Porém, posso garantir: aquele ditado sobre o amor ser como uma flor que precisa ser regada para sobreviver é muito sábio e verdadeiro.
Não espere que seu casamento desmorone para somente então se lamentar ou acusar o outro por não ter feito a parte dele. Faça a sua. E faça agora. Afinal, ser mãe e ser pai é mesmo uma delícia, desde que tanto nós quanto eles - os filhos - percebam que por trás desses papéis existe um casal que precisa de tempo, espaço e amor compartilhado com privacidade e intimidade.
Um embrulho de papel brilhante
Breve itinerário amoroso de uma filha que não sabe como cuidar dos pais.
Eliane Brum
A espio chegando, com seus pés tortos por um milhão de problemas, uma bolsa pesada na mão e uma mala de rodinhas. É minha mãe e acabou de descer do ônibus com meu pai. Vejo que ela me procura com olhos ansiosos na rodoviária de Porto Alegre, já pronta pra reclamar que estou atrasada. Eu poderia me apressar. Em vez disso, estaciono minhas botas atrás de uma das colunas. Tento fixar esse momento. Naquele instante eu sei que aquela cena é irrepetível, e de súbito essa revelação me engolfa. Faz alguns anos, já, que a percepção da passagem do tempo se faz nítida em mim. Sinto-me como se estivesse no fundo de uma piscina, ouvindo à distância o burburinho surdo dos outros. Respiro e estou de novo na superfície. Guardo a cena inteira numa dobra do meu corpo, desprego-me da coluna e surjo sorridente diante deles.
Estamos todos ali, na cidade em que já não vivo há muito, para uma consulta com o médico da capital. Naquele dia, eu apalpo essa nova geografia na qual ainda preciso descobrir se sou montanha, rio, um lago. Talvez apenas uma árvore não muito grande, não muito forte. Quando a hora de cuidar dos pais nos alcança, os filhos que se importam encontram-se não apenas em território desconhecido, mas acabam por encontrar um território desconhecido dentro de si.
Quero protegê-los, mas não sei como. Devo chamar um táxi ou esperar pelo meu pai, como sempre foi? Devo tomar a iniciativa e fazer eu as perguntas para o médico ou devo permanecer como coadjuvante? Devo andar no lado externo da calçada ou devo respeitar o lugar do meu pai, que como todo homem de sua geração sempre se manteve como um escudo entre a rua e as mulheres, na intrincada arte do footing? Ele esclarece: “Vá para o meio, para conversar com a tua mãe”. Não vá para o meio porque sou eu que protejo vocês. Eu compreendo a enormidade dessa cena banal. Mas nada digo. Apenas deslizo para dentro.
Mais tarde, depois da consulta, levo-os para jantar num shopping em frente ao centro médico. Vou de balcão em balcão da praça de alimentação em busca de algo que meu pai possa comer. Ele agora tem muitas alergias. “Você não pode só fazer um pão com queijo mozzarella?”, eu pergunto. Logo, estarei quase implorando. Mas parece que ninguém pode fazer pão com queijo. As franquias são todas formatadas, as atendentes me olham como se eu estivesse pedindo olhos de macaco com pão de urtiga australiana. Será que eu não compreendo que não é possível sair do padrão? Comer no shopping ganha contornos de um sonho persecutório. Sinto-me incapaz de levar comida para o meu pai.
Naquele momento, não apenas confronto a fragilidade recém-descoberta deles, mas também a minha. Ao despedir-me de meus pais, temo que algo possa acontecer porque não estarei ali para protegê-los, mas internamente duvido que possa de fato protegê-los. Imagino catástrofes, há um torniquete ao redor do meu coração quando pego o avião de volta. Sei bem agora que posso no máximo cuidar deles, como eles cuidaram de mim – e, de um modo muito particular, ainda cuidam. Ninguém pode proteger ninguém, essa é só mais uma ilusão. E, mesmo quando acreditamos compreender a vida, somos empurrados para um novo vazio e restamos às tontas.
Antes de eu pegar o avião, eles o ônibus, minha mãe me empurra um pacotinho em papel de presente brilhante. Eu sei o que é. Minha mãe sempre me dá um pijama. Não só para mim, para todos. É um carinho e um desejo, o de nos ver na cama, aquecidos, a salvo, como num tempo em que, todos sabemos, nunca existiu. O pijama já vem lavado, devidamente desinfetado de todos os germes da loja e das mãos que o cobiçaram antes dela. O pijama vem lavado dos males do mundo, minha mãe confiante no poder redentor dos produtos modernos de limpeza. Não posso nem quero imaginar uma vida sem pacotes de papel brilhante com um pijama cheirando a amaciante dentro.
Na semana seguinte voltamos a nos encontrar, agora para a cirurgia do meu pai. Minha mãe de novo está com sua bolsa pesada, uma mala de rodinhas e seus pés claudicantes. É um mistério como ela consegue andar tão rápido e ir a todos os lugares com aqueles pés. Mas ela sempre está uma curva adiante de nós, em vários sentidos. Qualquer um levaria o básico ao preparar a mala para uma viagem de saúde. Pijama, roupas de baixo, talvez um roupão, escova de dentes, essas coisas. Minha mãe, eu tinha certeza, carregava também uma caixa de docinhos. Docinhos mesmo, estes de aniversário de criança. Glaceados, caramelizados, trufados, bombas de glicose concentrada.
A caixa de docinhos era ali uma garantia de que algo permanecia imutável numa vida cujo controle nos escapava. Algo doce. Era a segunda vez que nos preparávamos para a cirurgia. Na primeira, o plano de saúde avisara que não cobriria o “procedimento” na hora da internação, com o respeito habitual. Desta vez, a pressão de meu pai subia porque o esqueceram na emergência do hospital. De novo eu tentava protegê-lo. E de novo fracassava. Minha mãe jamais viaja sem uma caixa de docinhos. Já carregou caixas de docinhos no colo por mais de mil quilômetros. Se há alguma criança nos arredores, os docinhos surgem no formato de bichos, carros, gurias de tranças. Por quê?, pergunto com a boca cheia de leite condensado. “Os doces de Ijuí são diferentes”, ela diz, com o tom das verdades absolutas. Minha mãe sempre demonstrou afeto com comida. Desisti de levar o feijão dela congelado, de Ijuí para São Paulo, quando o líquido viscoso, impregnado de linguiça caseira, escorreu pelo compartimento das bagagens de mão do avião e pingou a milímetros da cabeça do passageiro ao meu lado. Foi uma decisão difícil de comunicar a ela.
No dia seguinte, minha mãe me sussurraria na sala de espera. Meu pai estava desacordado em algum lugar do bloco cirúrgico. E eu tentava não imaginar o corpo aberto do meu pai. Ela sussurra, então: “Nós nos despedimos, sabe. Ele disse que a vida comigo foi muito mais do que ele sonhou e que ele foi muito feliz”. Eu queria dizer que ainda seriam felizes, mas não encontrei voz. Eu sabia que eles temiam essa cirurgia com um medo novo. E que mesmo depois dela o medo talvez não fosse embora. Quase 60 anos de casamento, e o amor dos meus pais é escandalosamente vivo. Vivo a ponto de sobreviver a despedidas desse tipo.
Algumas horas mais tarde, quando tudo já havia acabado, estremecemos ao ouvir o celular: “Ele está pedindo os óculos na UTI. Diz que precisa enxergar”. Minha mãe guardava naquela bolsa pesada dela os olhos e os dentes do meu pai. Será que é por isso que está tão pesada?, pensei. À noite, eu teria pesadelos com os dentes do meu pai na bolsa da minha mãe. Meu pai sempre pareceu usar os dentes com parcimônia, mas era apenas aparência. É verdade que ele mastiga cada bocado de comida quase tantas vezes e com tanta paciência quanto um macrobiótico, mas a vida, não. Na vida ele finca os dentes. E, desconfio eu, também em algumas partes da minha mãe, mas isso eu prefiro não investigar.
Minha mãe devolveu primeiro os olhos do meu pai, depois os dentes. No dia seguinte ele reclamaria que ela levou tempo demais para devolver os dentes dele. E ainda depois descobriríamos que a chave do cadeado da mala dele havia se perdido, junto com todas as chaves que abrem portas na vida deles. “Eu não sei quem perdeu as chaves, se fui eu ou ele”, balbuciou minha mãe, subitamente sem saber para onde levar seus pés. “Era um molho enorme de chaves.” Eu sabia que eram muitas e sabia que seriam encontradas. Em algum momento, nós sempre precisamos voltar a encontrar as chaves.
Minha mãe devolveu primeiro os olhos do meu pai, depois os dentes. No dia seguinte ele reclamaria que ela levou tempo demais para devolver os dentes dele. E ainda depois descobriríamos que a chave do cadeado da mala dele havia se perdido, junto com todas as chaves que abrem portas na vida deles. “Eu não sei quem perdeu as chaves, se fui eu ou ele”, balbuciou minha mãe, subitamente sem saber para onde levar seus pés. “Era um molho enorme de chaves.” Eu sabia que eram muitas e sabia que seriam encontradas. Em algum momento, nós sempre precisamos voltar a encontrar as chaves.
Dias mais tarde, meus pais estão deitados na cama do hotel. Devagar, meu pai começa a se recuperar. Ele está lendo uma biografia de Getúlio Vargas. Minha mãe lê 50 tons de cinza. Ela reclama que é tão mal escrito quanto uma daquelas novelas românticas de banca de revista, mas não cogita abandonar a leitura. Quando ela se distrai por um instante, meu pai rouba o livro dela para dar uma assuntada. Não sei se encontra o que procura, porque logo depois volta para Vargas. Eu sinto que poderia passar a vida lendo os dois.
Sei que empreendi um caminho de volta para casa, mas essa viagem é apenas interna. Quando um filho parte, nunca há volta. Não deve mesmo haver volta. Há apenas esse tempo roubado, no qual eu posso abraçá-los e fingir que ainda sei o meu lugar. Ou que algum dia soube.
Antes da despedida, minha mãe se aproxima com seus pés impossíveis. Me alcança um pacote embrulhado em papel brilhante. Eu sei o que é. Sei também que, por enquanto, estamos todos bem.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Orgasmão e orgasminho
Por que o delas é tão longo e o nosso tão curtinho?
Ninguém pergunta aos homens se eles estão satisfeitos com aqueles poucos instantes de prazer que a natureza lhes deu. Todo mundo assume que um breve e intenso espasmo de gozo é o que está disponível para os machos da espécie. Os homens galgam a montanha, se empenham de corpo e alma em alcançar o ápice e, quando finalmente chegam ao topo do Everest, o tempo de olhar a vista é menor que o de dizer abracadabra.
Compare isso com o que acontece no departamento ao lado: os orgasmos das mulheres, francamente, não acabam nunca. Chega a ser humilhante.
Lá está o sujeito, suado e sem fôlego, chegando e já saindo às pressas do Paraíso, quando a parceira começa a gozar. Ela vai compondo uma sinfonia majestosa e demorada – arfa e respira, contrai e geme, começa de novo – que o sujeito assiste da primeira fila, dentro da arrebentação, cheio de orgulho, cheio de admiração e, sejamos verdadeiros, cheio de inveja. Dá uma puta inveja aquele orgasmão de primeira classe, aquela rave dos sentidos, aquela celebração multimídia que faz o nosso gozo parecer uma cópia pirata, um mero e funcional arremedo reprodutivo.
Lá está o sujeito, suado e sem fôlego, chegando e já saindo às pressas do Paraíso, quando a parceira começa a gozar. Ela vai compondo uma sinfonia majestosa e demorada – arfa e respira, contrai e geme, começa de novo – que o sujeito assiste da primeira fila, dentro da arrebentação, cheio de orgulho, cheio de admiração e, sejamos verdadeiros, cheio de inveja. Dá uma puta inveja aquele orgasmão de primeira classe, aquela rave dos sentidos, aquela celebração multimídia que faz o nosso gozo parecer uma cópia pirata, um mero e funcional arremedo reprodutivo.
Os pesquisadores que mediram a duração dos orgasmos femininos com cronômetro chegaram a conclusões ainda mais desanimadoras para os homens. Eles descobriram que o gozo das mulheres começa com espasmos de prazer que duram entre dois e quatro segundos cada um. Eles vão se sucedendo, num crescendo, até o momento final. Uma mulher citada na pesquisa Masters & Johnson de 1966 contou 22 espasmos ao longo de... 43 segundos de orgasmo! Os estudos nem mencionam o tempo de orgasmo masculino, mas podemos imaginar qual seja: um ou dois espasmos, com duração de dois segundos cada um deles... Fui olhar na internet e descobri que os gregos já tratavam desse assunto na mitologia. Quando Zeus discute com a deusa Hera sobre quem entre os humanos tem mais prazer – ele acha que elas, ela acha que eles – os dois pedem a opinião do profeta Tirésias, que fora transformado em mulher e vivera como tal por sete anos. Fora prostituta, casara e tivera filhos. Questionado pelos deuses, o experimentado Tirésias explica que o gozo do homem é “uma décima parte” do gozo da mulher.
Notem que estou falando apenas de qualidade, não de quantidade de orgasmos. O Caetano já tinha registrado na música "Homem" a inveja da “longevidade e dos orgasmos múltiplos” das mulheres. Eu estou me concentrando no fato de que cada orgasmo delas parece valer meia dúzia dos nossos. Se elas, além disso, podem praticamente acender um orgasmo no outro, enquanto nós temos de parar, descansar e rezar a Eros para que não nos abandone no meio da segunda – bem, isso apenas aumenta a injustiça.
Claro, alguém vai alegar que os homens “sempre” gozam, enquanto não é tão fácil para as mulheres, mas as coisas não são tão simples. Os homens não gozam 100% das vezes. Homens cansados, bêbados ou distraídos também podem sair da mulher de mãos vazias, por assim dizer. Além disso, a mudança da cultura sexual desde os anos 60, com toda a sua preocupação com o corpo e o prazer da mulher, fez muito para melhorar a estatística de orgasmo feminino. O mesmo sujeito que acabou de ter um orgasmo de dois segundos se põe ao lado da patroa, solícito e cheio de dedos, para ajudá-la a gozar 10 vezes mais forte. É verdade que, mesmo assim, nem sempre as mulheres gozam, mas isso tende a acontecer em 2012 com mais frequência do que antes. Não houve evolução semelhante na vida sexual masculina.
Todos os homens concordam com o que eu estou dizendo? Nem imagino. Quando se trata de sexo, as prioridades históricas masculinas são a ereção e o tempo de retenção do orgasmo, traduzido em penetração. Recentemente (quer dizer, nas últimas décadas), adicionou-se a isso a mentalidade de que o foco tem de estar na cliente e que o importante é a qualidade do serviço prestado. O prazer do homem caiu para segundo plano.
Às vezes me ocorre, porém, que a clássica tristeza masculina depois do sexo pode estar ligada à qualidade do gozo. O silêncio e a introspecção talvez expressem frustração com orgasmos mais curtos e menos luminosos do que o esperado. Pode ser uma manifestação da raiva de quem se sente logrado. A melancolia pós-coito dos homens pode ser pura e simples insatisfação. Não sei se existe remédio para isso, mas talvez devêssemos pensar no assunto. No mínimo, homens com orgasmão poderiam ficar mais alegrinhos.
Às vezes me ocorre, porém, que a clássica tristeza masculina depois do sexo pode estar ligada à qualidade do gozo. O silêncio e a introspecção talvez expressem frustração com orgasmos mais curtos e menos luminosos do que o esperado. Pode ser uma manifestação da raiva de quem se sente logrado. A melancolia pós-coito dos homens pode ser pura e simples insatisfação. Não sei se existe remédio para isso, mas talvez devêssemos pensar no assunto. No mínimo, homens com orgasmão poderiam ficar mais alegrinhos.
Filhos e felicidade
Por que a discussão realista sobre os problemas da paternidade causa tanto desconforto – e como ela pode ensinar os casais a sofrer menos.
NATHALIA ZIEMKIEWICZ, COM FLÁVIA YURI
É 1 hora da madrugada. Um choro estridente desperta a ex-judoca olímpica Danielle Zangrando, de 33 anos. Desde que levou Lara do hospital para casa, as mamadas a cada três horas impedem o sono de antes. Ela pula da cama e oferece à filha o peito. Depois, troca a décima fralda daquele dia, embala a bebê no colo, caminha com ela em busca de uma posição que a faça parar de chorar. O choro prossegue. Daniele tenta bolsa de água quente e gotinhas de remédio. Nada de o berreiro cessar. Duas horas depois, mãe e filha formam um coro: Danielle também cai em prantos, desesperada. É a primeira cólica de Lara, com 20 dias de vida. O pai, Maurício Sanches, funcionário público de 48 anos, se sente impotente. Está frustrado e desconta a frustração na mulher: “Você comeu algo que fez mal a ela?”. A partir de então, Danielle se privará também do chocolate. Já desistira do sono, da liberdade, do trabalho como comentarista de esporte. Na manhã seguinte, ainda exausta da maratona noturna, retomará a mesma rotina, logo cedo: amamentar, dar banho, trocar fralda, botar para dormir. “Ninguém sabe de verdade como é esse universo até entrar nele”, diz Danielle. Hoje, Lara está com 2 anos. As noites não são tão duras quanto costumavam ser. Mas Danielle e Sanches ainda dizem que ter filhos é uma missão muito mais difícil do que eles haviam imaginado.
Eis um problema: a paternidade, que deveria ser o momento mais feliz da vida dos casais – de acordo com tudo o que aprendemos –, na verdade nem sempre é assim. Ou, melhor dizendo, não é nada disso. Para boa parte dos pais e (sobretudo) das mães, filhos pequenos são sinônimo de cansaço, estresse, isolamento social e – não tenhamos medo das palavras – um certo grau de infelicidade. Ninguém fala disso abertamente. É feio. As pessoas têm medo de se queixar e parecer desnaturadas. O máximo que se ouve são referências ambíguas e cheias de altruísmo aos percalços da maternidade, como no chavão: “Ser mãe é padecer no Paraíso”. Muitas que passaram pelo padecimento não se lembram de ter visto o Paraíso e, mesmo assim, realimentam a mística. Costumam falar apenas do amor incondicional que nasce com os filhos e das alegrias únicas que se podem extrair do convívio com eles. A depressão, as rachaduras na intimidade do casal, as dificuldades com a carreira e o dinheiro curto – disso não se fala fora do círculo mais íntimo e, mesmo nele, se fala com cuidado. É tabu expor a própria tristeza numa situação que deveria ser idílica.
A boa notícia para os pais espremidos entre a insatisfação e a impossibilidade de discuti-la é que começa a surgir um movimento que defende uma visão mais realista sobre os impacto dos filhos na vida dos casais. Seus adeptos ainda não marcham nas ruas com cartazes contra a hipocrisia da maternidade como um conto de fadas. Mas exigem, ao menos, o direito de falar publicamente e com franqueza sobre as dificuldades da situação, sem ser julgados como maus pais ou más mães por se atrever a desabafar. Por meio de livros e, sobretudo, com a ajuda da internet, eles começam a falar claramente sobre os momentos de angústia, tédio e frustração que costumam acompanhar a criação dos filhos. Nas palavras da americana Selena Giampa, uma bibliotecária de 35 anos, dona do blog Because Motherhood Sucks (A maternidade enche...), “a maternidade está cheia de momentos de pura felicidade e amor. Mas tudo o que acontece entre esses momentos é horrível. Amo ser mãe, de verdade. Mas tenho de dizer a vocês que, assim como qualquer outro emprego, muitas vezes eu tenho vontade de pedir as contas”. Com uma notável diferença: ninguém pode se demitir do emprego de mãe ou de pai. Ele é vitalício.
O melhor exemplo dessa nova maternidade é o livro Why have kids (Por que ter filhos), sem previsão de lançamento no Brasil, escrito pela jornalista americana Jessica Valenti, de 34 anos. Durante a gravidez de sua primeira e única filha, Jessica teve um aumento perigoso de pressão arterial. Layla nasceu prematura, pesando menos de 1 quilo. Passou oito semanas na incubadora do hospital. Ao longo dos 56 dias em que viu a filha sofrer dezenas de procedimentos invasivos, Jessica refletiu sobre como idealizara a experiência de ser mãe. Seu livro parte daí para criticar a cobrança pela maternidade perfeita, uma espécie de pano de fundo imaginário contra o qual as mães de verdade comparam suas imensas dificuldades e seus inconfessáveis sentimentos negativos. “Não falar sobre a parte ruim da maternidade só aumenta o drama dos pais e as expectativas irrealistas de quem ainda não é”, disse Jessica a ÉPOCA.
Ninguém teve culpa de nada
Mais uma nos Homens de Segunda de Hoje: o roteirista Marcelo Zorzanelli diz que revirar o túmulo de um relacionamento em busca de culpados é a forma mais fácil de perder tempo e atrapalhar o próprio futuro.
“Ah, mas eu era muito mais velho naquele tempo/
Eu hoje sou muito mais jovem”
Sempre fui fascinado por estes versos. São de um poeta americano do século passado. Para mim, dizem tudo o que se precisa saber sobre a excelsa arte de envelhecer.
Como é comum a muita gente, alguns versos brotam do chão, da memória mais profunda minando para a consciência, como a resposta a alguma questão que aborrece. No meu caso, foi um email. Queria que o email tivesse sido para outra pessoa, mas era para mim. Às vezes, quando estou com a alma já carregada, finjo não reparar que falaram comigo. Quando você sabe que não vai conseguir carregar mais um peso. Mas o email estava lá e eu senti pelo tilintar dos pratos na cristaleira que era um trator vindo na minha direção. Tinha que ler.
Cogitei parar de lê-lo a partir do primeiro parágrafo. Era o retomar de uma conversa amarga, aquela mesma conversa aziaga que não se resolve, espiraliza em rolos que nem fumaça de madeira, vai subindo pelo céu e turvando o ar. Estava escrito lá que eu jamais fora eu mesmo. Que nunca fora o que prometi ser. O objetivo era mostrar que alguém estava errado, sempre esteve, e este alguém mora na minha casa, usa meus sapatos, atende pelo meu nome, enfim, que este alguém era e sou eu. Não me defendi. Talvez ela esteja certa.
“Você foi muito cruel nestas linhas”, respondi à hora. Agora, confesso que discordo de mim. Ela não foi cruel. Eu, realmente, agi mal. Diversas vezes, não lembro quantas. Agi mal até quando não sabia que estava agindo mal. Fiz mal tentando fazer o bem. Empurrei para longe algo que queria ter perto, como quando nos esticamos para tentar pegar algo com a ponta dos dedos. (Esta imagem eu ouvi, criança, no seriado da Punky Brewster. Juro).
Mas não é isso que me ficou desta experiência, depois de bastante pensar. O que eu quero dizer é que não há culpa quando duas pessoas se amaram. Eu tentei achar a tal culpa por muito tempo.
“Se ninguém tem culpa/ não se tem condenação“, cantou Sérgio Sampaio. ” Não fui eu nem Deus/Não foi você nem foi ninguém/ Tudo o que se ganha nessa vida/É pra perder”.
O que venho tentando dizer, e perdão a você cara leitora, arrastada até aqui por esta prosa mal-arranjada, é que não vale a pena se explicar. Não vale a pena falar, repisar, repensar, discutir, analisar, procurar crimes. Esse foi o nosso erro desde a primeira discussão. É o erro de todos. Tratar a vida a dois com a disposição cartesiana de dois controladores de tráfego, dois engenheiros chatos. Dois velhos turrões. Quem perdoa com facilidade? Uma criança perdoa com facilidade. Um adulto, não. Por isso os versos do começo. Eu era muito mais velho naquele tempo. Estou tentando ficar mais jovem agora.
Cada um construiu sua própria versão a partir das memórias e foi em cima deste espólio que ambos tocaram a vida desde então. Voltar ao assunto para tentar convencer o outro de algo será a mais inglória e infrutífera das empreitadas.
Não precisa voltar a nada. Está tudo resolvido como está. Eu acreditava no mito da conversa que lavava a alma, que cicatrizava feridas antigas, na verdade terminava de sará-las, elas que já estavam melhores depois de tanto tempo. Esta conversa é absolutamente desnecessária — aqui está a mensagem. Se formos falar, que falemos de outra coisa. De coisas novas, de coisas jovens, da sua nova alegria ao lado de alguém. Está tudo perdoado. Para sempre.
Éramos muito mais velhos naquele tempo. Vamos remoçar.
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