quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Grávida em segredo


Assim que o exame dá positivo, a vontade é de gritar para o mundo que você está esperando um bebê. Mas alguns médicos recomendam segurar a onda. Até que o coração do feto comece a bater, a chance de ocorrer um aborto natural é de 25%

Quando o teste dá positivo, o primeiro impulso é pegar o telefone e dividir a felicidade com os melhores amigos, os parentes mais queridos e, depois, com o mundo. “Tenho uma supernotícia. Você não vai acreditar. Estou grávida!” É mesmo uma delícia contar que vai ser mãe. Mas, antes de pegar o telefone, espere um pouco. Há uma corrente que defende colocar um “freio” nesse entusiasmo.

Algumas religiões, como o judaísmo, recomendam manter segredo no início da gestação. “É para evitar o ‘olho mau’”, afirma o rabino da sinagoga Beit Chabad Itaim, Iossi Shildkraut, pai de Miriam, Samuel, Shaela, Shalom, Dina e Chana. Mesmo que você não seja religiosa, não custa dar ouvidos à tradição. Muitas vezes, a ciência descobre que ela tem fundamento.

Difícil de ser seguido, o conselho tem os seus motivos: a chance de ocorrer um aborto natural até surgir batimento cardíaco no feto (por volta da 7ª semana) é de 25%. A partir daí, essa estatística cai para 2%, até se completar a implantação do embrião, na 12ª semana, e a placenta começar a funcionar adequadamente.

“Não custa esperar. Do ponto de vista emocional, o aborto é muito difícil para a mulher”, afirma o ginecologista Bruno Liberman, pai de Gabriel e Isabela. Segundo ele, 15% das mulheres que engravidam podem não chegar ao fim da gestação. Dessas, 90% vão perder o bebê no primeiro trimestre. Receber a notícia de que a gravidez tão desejada não vai avançar é triste. Ter de explicar isso a todos que vêm perguntar como vai o bebê pode ser um sofrimento desnecessário. Claro que manter segredo não é obrigatório. Essa decisão depende de como cada um de nós lida com a perda. Poder dividir a dor com a família e amigos mais queridos pode ser um conforto para algumas. Os dados estão aí para você decidir o que fazer.

Cristiane de Toledo Fortuna, mãe de João Pedro, seguiu o conselho de sua ginecologista, Daniella Castellotti, mãe de Isabella, e não contou a ninguém sobre sua primeira gravidez. “É fácil dizer ‘estou grávida’, mas é muito difícil contar depois que você perdeu o bebê”, afirma Cristiane. Ela explica que teve muita dificuldade para engravidar. A espera foi de um ano, e a família estava ansiosa por “novidades”. “Foi difícil esconder de todo mundo quando finalmente aconteceu, mas foi melhor assim.”, diz.

Já Andréa Lustosa Sutter, mãe de Frederico, percebeu o valor do “segredo” do modo mais difícil. Em sua primeira gravidez, perdeu o bebê no segundo mês de gestação. Devido a uma malformação, não chegou a haver batimento cardíaco. Ela já tinha, no entanto, anunciado à família toda sobre a gravidez. “Era o primeiro neto da família, e todos sofreram juntos”, conta. Na segunda vez em que ficou grávida, segurou a novidade. “Só fui contar depois de ouvir o batimento cardíaco do bebê, do segundo para o terceiro mês, e apenas para a família. Aos amigos, dei a notícia no quarto mês”, lembra. “Sou muito ansiosa e o meu maior sonho era ter um filho. Mas as pessoas próximas sofrem muito”, afirma ela.

Erro de fabricação

Mas por que essa fase é assim tão crítica? Grande parte dos problemas que podem ocorrer se deve a ovopatias, ou “erros de fabricação”, como diz o ginecologista Marcelo Zugaib, pai de Nicholas. “É como se fosse uma seleção natural”, explica. Essas gestações acabariam redundando em fetos com malformações cromossômicas, se fossem em frente. Outra causa de abortos naturais é o problema cromossômico genético, aquele causado por uma combinação infeliz entre os genes do pai e os da mãe. Também pode ocorrer algum imprevisto hormonal ou infeccioso.

Por isso, a primeira coisa que o médico vai fazer quando um exame de sangue confirmar a gravidez é pedir uma série de outros testes para definir se a gestação corre risco ou é segura. Um ultra-som investigará o aparelho reprodutor, e os exames sorológicos pesquisarão a imunidade da mulher contra doenças como rubéola, toxoplasmose e citomegalovirose (quando acontecem durante a gestação, elas podem infectar o feto, causando problemas de visão, retardo mental, defeitos congênitos e até a morte). Os exames pré-gravidez também acusam se você tem sífilis, hepatite B ou o vírus da Aids, entre outras doenças transmitidas sexualmente.

A única vacina pré-indicada para gestantes é a antitetânica. Recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ela serve para evitar o tétano quando o cordão umbilical do recém-nascido é cortado. Mas essa vacina só deve ser tomada se a mãe não tiver sido imunizada nos cinco anos anteriores.

Pré-natal fundamental
“O importante é começar o pré-natal o mais rapidamente possível”, diz a médica Renata Vieira de Carvalho, mãe de Pedro e Beatriz. “Se o primeiro ultra-som mostrar que o embrião está dentro do útero,  com batimento cardíaco, existe grande chance de a gravidez ser viável”, diz ela. É que uma em cada cem gestações pode ocorrer fora do útero, geralmente nas trompas, sem condições de avançar.
E, para tranqüilizar as mães de primeira viagem, ela adverte sobre os sintomas que surgem no comecinho da gravidez: dor nas mamas, sensação de peso no baixo-ventre, ânsia, intolerância a alguns alimentos e sono. Tudo isso faz parte do processo, muito bem-vindo, afinal.

Três meses de muito cuidado

Permitido
  • Exercícios leves (hidroginástica, caminhada ou outras atividades que não impliquem esforço muito grande).
  • Começar a tomar ácido fólico de 60 a 90 dias antes de engravidar e até o final do primeiro trimestre. Após o terceiro mês da gestação, o ácido fólico é substituído por um complexo vitamínico que contém todas as substâncias de que o bebê vai precisar daí para a frente (magnésio, zinco, cálcio, ferro etc.).

Proibido
  • Exercícios muito intensos (o ideal é diminuir o impacto
  • Tomar vacinas (se for possível planejar a gravidez, é melhor fazer exames para testar a quais doenças a mãe já é imune e, se faltar imunidade para alguma, vacinar-se antes de engravidar).
  • Tomar remédio sem a autorização do médico (qualquer remédio).

Recomendável
  • Usar camisinha nas relações sexuais nos três primeiros meses da gestação, porque o sêmen contém prostaglandina, uma substância que pode causar contração uterina e, nas gestantes de risco, sangramentos
  • Evitar exposição a raios X: em grande quantidade, pode causar malformação no bebê. Mas só em grande quantidade. Se não der para escapar de fazer uma chapa no dentista, use um colete de chumbo para proteger a barriga
  • Evitar exposição a produtos químicos
  • Usar protetor solar, para evitar manchas
  • Alimentar-se a cada três horas
  • Evitar bebida alcoólica. O álcool pode afetar o fígado do bebê
  • Usar meias elásticas de média compressão, pois as paredes dos vasos sanguíneos tendem a se dilatar
  • Usar cremes ou óleos hidratantes nas regiões propensas a desenvolver estriar.
Consultoria:
Bruno Liberman, ginecologista.
Daniella Castellotti, ginecologista.
Marcelo Zugaib, ginecologista.
Renata Vieira de Carvalho, ginecologista.

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