:: Flávio Gikovate ::
Penso cada vez mais na importância capital das definições rigorosas. Palavras usadas com duplo sentido, expressões que não são muito bem explicadas, tudo pode prestar enorme desserviço, contribuindo para aumentar a confusão que naturalmente existe quando tratamos de temas complexos e que têm a ver conosco mesmos. Isso sem falar daqueles que, de má-fé, gostam das palavras que têm mais de um sentido, pois elas se prestam muito bem a enganar os interlocutores.
Muitas vezes me perguntam o seguinte: quando uma pessoa age de forma egoísta nas relações domésticas, mas é muito generosa com os amigos e colegas de trabalho, como ela deve ser vista? Como essencialmente egoísta ou generosa? Respondo sempre que o que vale mesmo é a conduta íntima, dentro de casa. O generoso é o mais tolerante, mais dedicado e amoroso nas relações conjugais, com os pais e filhos, como as pessoas que moram ou trabalham com ele. Nem sempre é tão dedicado aos estranhos e, como regra, tem poucos amigos.
O egoísta é agressivo, cobrador e exigente nas suas relações íntimas, especialmente naquelas de caráter conjugal; espera receber mais do que dá e se revolta muito quando não é correspondido em suas expectativas. Em situações sociais, gosta muito de se comportar de forma generosa: é dedicado aos amigos (em geral muitos, com os quais o trato é um tanto superficial) e costuma ser muito prestativo quando alguém está doente e precisando de ajuda (talvez nestas condições possa exercer o papel generoso que tanto admira, além de não padecer de inveja daquele que está precisando tanto de ajuda).
Quando, há décadas, afirmava que a generosidade não é virtude e que ela está a serviço da vaidade, da dominação e de vitória no jogo de poder típico das relações íntimas, encontrava sempre grande oposição e revolta. A indignação era grande, já que crescemos dominados pela crença de que se trata de grande qualidade moral, sinal de força e desprendimento. Acho que só comecei a ser melhor entendido quando, tratando das relações afetivas mais íntimas, pude demonstrar que a generosidade e o egoísmo formam uma dupla em que um não é melhor do que o outro a não ser pelo fato do generoso ter como dar mais.
Se o egoísmo é do mal, então a generosidade também o é. Sim, porque um alimenta e reforça o outro: não pode existir o egoísta sem o generoso disposto a lhe prover. Se a generosidade acabasse, acabaria imediatamente o egoísmo! Ao mesmo tempo, o generoso precisa do egoísta, porque senão não terá sobre quem exercer sua superioridade. Não é possível pensar em uma virtude (que seria a generosidade) capaz de alimentar um vício (o egoísmo). Assim, só podemos pensar que ambos fazem parte da mesma categoria, os do mal.
Neste ponto da minha argumentação, ouço o comentário certeiro: mas toda ação dedicada ao outro é do mal? Não existem atitudes realmente desinteressadas, que não têm nada a ver com o desejo de dominar, diminuir a própria insegurança e alimentar a vaidade? Existem sim. Acho essencial afirmar que elas devem ser imediatamente distinguidas da generosidade social dos egoístas, pois estes aproveitam uma eventual condição de superioridade para exercer sua vaidade, ganhar admiradores indevidos e fazer propaganda enganosa de si mesmos.
Um ato genuíno de dedicação a terceiros deve, a meu ver, ser conhecido por outro nome que não aquele que usamos para a dedicação sincera e duvidosa dos generosos a seus entes queridos. Penso que o melhor aqui é chamar esta ação, genuinamente do bem, de altruísmo, que passaria a ser definido como a dedicação realmente desinteressada a pessoas, grupos ou instituições. O altruísmo implica, como regra, em atividades exercidas de forma anônima, direcionadas para pessoas que não conhecemos (ou com quem não temos contato social regular e nem segundas intenções) e que receberão nossa colaboração de uma maneira que não as humilha e que certamente será de grande valia para o seu cotidiano.
Altruísmo é o nome que define nossa participação em ações sociais de todo o tipo. Pode ser exercido por meio de doações de uma parcela dos nossos rendimentos, pode se dar por meio de trabalho voluntário em hospitais, comunidades carentes etc. Pode se exercer por meio da ação política realmente desinteressada e despojada de vaidade (como é raro!).
Na generosidade, muitas vezes a intenção é boa, mas os efeitos são nefastos: quando o pai, pretendendo agradar seu filho, dedica-se demais a ele, o protege para além do essencial, poderá causar um grande dano, enfraquecendo-o e tornando-o despreparado para enfrentar as adversidades da vida. A verdade é que temos de abandonar de vez a idéia de que as intenções valem alguma coisa. O que interessa mesmo é o efeito que elas irão provocar sobre os beneficiários de uma dada ação.
Quando pensamos no altruísmo, a intenção é boa e os efeitos são sempre positivos, já que não existe o risco do benefício determinar o enfraquecimento daquele que recebe (excluído, é claro, o caso de esmolas dadas a esmo e que, como regra, estão mesmo é a serviço de aplacar os sentimentos de culpa de quem dá). No altruísmo, aquele que recebe se beneficia e o uso positivo daquilo que recebe pode lhe ajudar a recuperar a saúde, a aprender mais ou recuperar uma vida digna de trabalho. Aquele que ajuda pode experimentar um grande prazer por ter dado algo de si, por ter sido realmente útil. Pode, com propriedade, experimentar o genuíno prazer de dar, já que não existe o risco de prejudicar aquele que recebe. Neste caso, e só nesse, cabe a máxima franciscana de que é dando que se recebe.
Muitas vezes me perguntam o seguinte: quando uma pessoa age de forma egoísta nas relações domésticas, mas é muito generosa com os amigos e colegas de trabalho, como ela deve ser vista? Como essencialmente egoísta ou generosa? Respondo sempre que o que vale mesmo é a conduta íntima, dentro de casa. O generoso é o mais tolerante, mais dedicado e amoroso nas relações conjugais, com os pais e filhos, como as pessoas que moram ou trabalham com ele. Nem sempre é tão dedicado aos estranhos e, como regra, tem poucos amigos.
O egoísta é agressivo, cobrador e exigente nas suas relações íntimas, especialmente naquelas de caráter conjugal; espera receber mais do que dá e se revolta muito quando não é correspondido em suas expectativas. Em situações sociais, gosta muito de se comportar de forma generosa: é dedicado aos amigos (em geral muitos, com os quais o trato é um tanto superficial) e costuma ser muito prestativo quando alguém está doente e precisando de ajuda (talvez nestas condições possa exercer o papel generoso que tanto admira, além de não padecer de inveja daquele que está precisando tanto de ajuda).
Quando, há décadas, afirmava que a generosidade não é virtude e que ela está a serviço da vaidade, da dominação e de vitória no jogo de poder típico das relações íntimas, encontrava sempre grande oposição e revolta. A indignação era grande, já que crescemos dominados pela crença de que se trata de grande qualidade moral, sinal de força e desprendimento. Acho que só comecei a ser melhor entendido quando, tratando das relações afetivas mais íntimas, pude demonstrar que a generosidade e o egoísmo formam uma dupla em que um não é melhor do que o outro a não ser pelo fato do generoso ter como dar mais.
Se o egoísmo é do mal, então a generosidade também o é. Sim, porque um alimenta e reforça o outro: não pode existir o egoísta sem o generoso disposto a lhe prover. Se a generosidade acabasse, acabaria imediatamente o egoísmo! Ao mesmo tempo, o generoso precisa do egoísta, porque senão não terá sobre quem exercer sua superioridade. Não é possível pensar em uma virtude (que seria a generosidade) capaz de alimentar um vício (o egoísmo). Assim, só podemos pensar que ambos fazem parte da mesma categoria, os do mal.
Neste ponto da minha argumentação, ouço o comentário certeiro: mas toda ação dedicada ao outro é do mal? Não existem atitudes realmente desinteressadas, que não têm nada a ver com o desejo de dominar, diminuir a própria insegurança e alimentar a vaidade? Existem sim. Acho essencial afirmar que elas devem ser imediatamente distinguidas da generosidade social dos egoístas, pois estes aproveitam uma eventual condição de superioridade para exercer sua vaidade, ganhar admiradores indevidos e fazer propaganda enganosa de si mesmos.
Um ato genuíno de dedicação a terceiros deve, a meu ver, ser conhecido por outro nome que não aquele que usamos para a dedicação sincera e duvidosa dos generosos a seus entes queridos. Penso que o melhor aqui é chamar esta ação, genuinamente do bem, de altruísmo, que passaria a ser definido como a dedicação realmente desinteressada a pessoas, grupos ou instituições. O altruísmo implica, como regra, em atividades exercidas de forma anônima, direcionadas para pessoas que não conhecemos (ou com quem não temos contato social regular e nem segundas intenções) e que receberão nossa colaboração de uma maneira que não as humilha e que certamente será de grande valia para o seu cotidiano.
Altruísmo é o nome que define nossa participação em ações sociais de todo o tipo. Pode ser exercido por meio de doações de uma parcela dos nossos rendimentos, pode se dar por meio de trabalho voluntário em hospitais, comunidades carentes etc. Pode se exercer por meio da ação política realmente desinteressada e despojada de vaidade (como é raro!).
Na generosidade, muitas vezes a intenção é boa, mas os efeitos são nefastos: quando o pai, pretendendo agradar seu filho, dedica-se demais a ele, o protege para além do essencial, poderá causar um grande dano, enfraquecendo-o e tornando-o despreparado para enfrentar as adversidades da vida. A verdade é que temos de abandonar de vez a idéia de que as intenções valem alguma coisa. O que interessa mesmo é o efeito que elas irão provocar sobre os beneficiários de uma dada ação.
Quando pensamos no altruísmo, a intenção é boa e os efeitos são sempre positivos, já que não existe o risco do benefício determinar o enfraquecimento daquele que recebe (excluído, é claro, o caso de esmolas dadas a esmo e que, como regra, estão mesmo é a serviço de aplacar os sentimentos de culpa de quem dá). No altruísmo, aquele que recebe se beneficia e o uso positivo daquilo que recebe pode lhe ajudar a recuperar a saúde, a aprender mais ou recuperar uma vida digna de trabalho. Aquele que ajuda pode experimentar um grande prazer por ter dado algo de si, por ter sido realmente útil. Pode, com propriedade, experimentar o genuíno prazer de dar, já que não existe o risco de prejudicar aquele que recebe. Neste caso, e só nesse, cabe a máxima franciscana de que é dando que se recebe.
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