ANNETTE SCHWARTSMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Dieta rica em frutose por longos períodos altera a habilidade do cérebro de aprender e recordar informações", diz cientista
O xarope de milho rico em frutose costuma ser encontrado em refrigerantes, condimentos, comida de bebê e lanches processados (Thinkstock)
Além de prejudicial à saúde fisiológica, interferindo no diabetes, na obesidade e nas gorduras presentes no fígado, o açúcar pode danificar também o cérebro. Consumir altas quantias de frutose diariamente pode prejudicar o aprendizado e a memória. É o que indica uma pesquisa publicada no periódico Journal of Physiology. No estudo, ratos que ingeriram xarope de milho rico em frutose tiveram prejuízo na memória e queda no número de sinapses do cérebro.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: ‘Metabolic syndrome' in the brain: deficiency in omega-3 fatty acid exacerbates dysfunctions in insulin receptor signalling and cognition
Onde foi divulgada: revista The Journal of Physiology
Quem fez: Rahul Agrawal e Fernando Gomez-Pinilla
Instituição: Universidade da Califórnia
Dados de amostragem: 12 ratos
Resultado: Os pesquisadores descobriram que o alto consumo de açúcar prejudica capacidades cognitivas, como memória e aprendizado, além de interromper a sinalização da insulina. A ingestão do ácido graxo ômega-3, no entanto, minimizou os danos causados pelo excesso de frutose.
O xarope de milho costuma ser encontrado em produtos industrializados, como refrigerantes, condimentos, comida de bebê e lanches processados. "Nossas descobertas ilustram que o que você come afeta como você pensa", diz Fernando Gomez-Pinilla, professor de neurocirurgia e de biologia integrativa e fisiologia na Universidade da Califórnia. "Ingerir uma dieta rica em frutose por longos períodos altera a habilidade do seu cérebro de aprender e recordar informações. Mas adicionar ômega-3 às refeições pode ajudar a minimizar esse dano."
Pesquisa - Cientistas da Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, alimentaram dois grupos de ratos com uma solução contendo xarope de milho rico em frutose e água potável durante seis semanas. O segundo grupo de animais recebeu também um suplemento de ômega-3, que estimula a memória, na forma de óleo de linhaça ou de ácido docosahexaenóico (DHA, encontrado no óleo de peixe e de algas unicelulares), que protege contra danos nas sinapses – conexões químicas entre as células do cérebro que permitem a memória e o aprendizado.
Antes do início da ingestão de açúcar, os ratos passaram por um treinamento de cinco dias em um complexo labirinto. Eles foram colocados novamente no labirinto seis semanas depois para ver como se saíam. "Os animais que não tomaram DHA foram mais lentos e seus cérebros demonstraram um declínio na atividade sináptica", diz Fernando Gomez-Pinilla. "Suas células cerebrais tiveram dificuldade em enviar sinais entre si, prejudicando sua capacidade de pensar com clareza e de lembrar o caminho que tinham aprendido seis semanas antes", acrescentou.
Cérebro - Uma análise mais detalhada nos cérebros dos ratos demonstrou que aqueles que não foram alimentados com suplementos de DHA também desenvolveram sinais de resistência à insulina, hormônio que controla os níveis de açúcar no sangue e regula a função cerebral. "Uma vez que a insulina consegue penetrar a barreira sangue-cérebro, o hormônio pode sinalizar os neurônios, gerando reações que comprometem o aprendizado e causam perda de memória", afirma Gomez-Pinilla.
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