terça-feira, 15 de maio de 2012

Machismo na escola: como esse comportamento interfere a vida adulta


Meninos jogando bola, meninas brincando com bonecas. Desde cedo, professores reproduzem os estereótipos que marcam na vida adulta

Publicado em 08/05/2012
Reportagem: Paulo de Camargo / Edição: MdeMulher

Discriminação de gênero significa menos competência, menos liberdade, menos felicidade
Foto: Getty Image
São cenas tão banais que parecem não ter nada de errado. Na hora do recreio, a professora conduz os meninos para a quadra de esportes, onde disputam uma partida de futebol. As meninas, se maquiam, brincam de mamãe e filhinha. Dos garotos, espera-se agressividade. Meninas que se agridem são imediatamente repreendidas por adotar comportamentos considerados masculinos. Podem variar as situações, mas esse padrão prevalece. Na escola, crianças aprendem a reproduzir comportamentos de uma sociedade sexista, veja como esse tipo de comportamento pode interferir na vida adulta.
Preconceito X Educação
Escolas particulares ou públicas não conseguem equacionar no cotidiano questões como essa. Pais, educadores e alunos aceitam tudo com normalidade, como indica uma pesquisa do Ministério da Educação (MEC) divulgada em 2010. Ela aponta que, na escola, o preconceito de gênero manifesta-se com mais força do que todos os outros, inclusive de cor e opção sexual. O estudo, produzido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe-USP), revelou que cerca de 20% dos alunos passaram por situações ou presenciaram cenas em que alguma menina foi humilhada pelo simples fato de ser menina. No ensino médio, quase metade dos 15 mil alunos ouvidos afirmam que certos trabalhos só podem ser realizados por homens. Para 52,6% dos entrevistados (além dos estudantes, pais, professores e funcionários), lavar a louça e cuidar das crianças são tarefas que cabem somente à mulher.
Com base no resultado da pesquisa, o MEC decidiu ampliar os cursos sobre gênero e orientação sexual oferecidos regularmente aos professores da rede pública. Trata-se de uma questão complexa, porque exige uma mudança cultural. Para André Lázaro, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-secretário Nacional da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, "a escola, tanto a pública quanto a particular, deve ser proativa para superar os preconceitos que constrangem as liberdades das mulheres". Essa proatividade é a chave da questão. Não existem lições de igualdade eficazes se ficarem apenas no discurso. Assim como em qualquer outra área da educação, vale o exemplo.
Atitudes sexistas tidas como normais - como segregar meninos e meninas - têm a força de mil palavras. De acordo com os especialistas, as escolas devem trazer o tema à tona sempre que possível e evitar reproduzir em sala os estereótipos da sociedade. "É preciso vencer a inércia, pois os professores começam a fazer escolhas cotidianas sem questionar quanto são preconceituosas", reforça Claudia Tricate, psicóloga educacional, de São Paulo.

Atitudes sexistas tidas como normais - como segregar meninos e meninas - têm a força de mil palavras
Foto: Getty Image
Tudo começa em casa
Para os especialistas, o nó desse debate é que ela alterna duas missões conflitantes: questionar e conservar valores sociais. Afinal, quando os pais escolhem uma instituição para seus filhos, levam em conta se os valores dela batem com os da família. Por isso, mesmo quando tem como meta questionar, a escola esbarra em limites porque pai e mãe podem pensar diferente. O que não diminui, porém, a responsabilidade de quem ensina. Para Cláudia Ribeiro, os educadores devem, por obrigação de ofício, ter coragem para enfrentar esse desafio. "A escola deveria ser o lugar onde as crianças teriam possibilidade de acesso a informações claras, honestas e democráticas sobre as questões de sexualidade e relações de gênero." Nesse mundo de ambiguidades sobre o masculino e o feminino, a escola seria o lugar para mostrar que nós mesmos determinamos como homens e mulheres devem ser. E brigar por isso é missão para cada um de nós.
 Algumas dicas podem auxiliar nesse tipo de processo
· Fique sempre atento ao comportamento do seu filho, evitando que ele cometa atitudes preconceituosas;
· Conheça profundamente a instituição em que ele estuda e os métodos empregados pelos professores;
· Para os meninos, incentive a realização de tarefas simples como lavar louça, arrumar a cama e outros serviços domésticos;
· No caso das meninas, estimule a participação de atividades como jogar futebol ou outras tarefas ditas "masculinas";
· Em brincadeiras, incentive a realização de tarefas coletivas, que envolvam tanto os meninos como as meninas

2 comentários:

  1. Oi Lilian, muito bom esse artigo sobre o machismo nas escolas e em nossa sociedade. Acho que deveriam explorar muito mais esse tema, pois muitas vezes pais e professores legitimam ainda mais essas relações. Eu, por sorte, participei de muitas discussões na minha formação acadêmica e tento fazer um trabalho com meus alunos de uma maneira natural que não aconteça esse machismo na sala de aula mas assim como destacado no artigo, precisamos trabalhar isso com as famílias também, pois apesar dos inúmeros avanços e do espaço na mulher na sociedade, ainda convivemos com o machismo, e muitas vezes é perpetuado sem que percebamos.

    É isso aí Lilian, muito bom, gostei!
    Beijão

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  2. Concordo plenamente! Acredito ser uma tarefa da família, da escola, enfim, da comunidade. O preconceito está em toda parte, mas se começarmos com os pequenos acredito que poderemos transformar esta realidade. Obrigada pelo carinho! Beijos :)

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Fico muito feliz com seu comentário!!! :)

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