Quando o pesquisador Chris Brown usou um laser para provocar pontadas de dor nos braços de voluntários, ele fez uma descoberta curiosa. Metade dos homens e das mulheres sentiu que a dor foi menos incômoda que os outros. Exames em seus cérebros também mostraram que áreas envolvidas na antecipação do medo estavam menos ativas. Os dois grupos de pessoas eram idênticos, a não ser por um detalhe: os que sentiram que a dor foi menos incômoda praticavam meditação. E quanto mais tempo de prática tinham, menor era a sensação de dor.
A pesquisa de Brown e outros especialistas em dor da Universidade de Manchester dá mais indicações de como a meditação pode servir para aliviar os sintomas de condições tão diversas como dor crônica, artrite reumática, depressão, ansiedade, insônia e síndrome do cólon irritável.
- A meditação parece funcionar reduzindo a antecipação e a visão negativa da dor e não por distrair a atenção da própria sensação de dor - diz ele. - Quando as pessoas meditam, elas se focam em sua respiração e outras sensações corporais e aprendem a experimentar essas sensações com atitudes de aceitação, abertura e curiosidade. Isso parece reduzir os pensamentos negativos sobre sensações como a dor.
As origens da meditação datam de milhares de anos, e há muitos tipos diferentes, como samadhi, mantra, zen budismo, ioga, Sahaj Marg e duas das mais praticadas no Ocidente, a meditação transcendental e de atenção plena.
Raízes no budismo e no hinduísmo
Muitas das raízes da meditação de atenção plena estão no budismo e em uma das mais difundidas formas os praticantes são ensinados a focarem a atenção na sensação de inspiração e expiração. Eles também aprendem a direcionar sua atenção no que está sendo experimentado no presente e não pensar no futuro ou no passado. Desta forma, sugere-se que os praticantes aprendem a experimentar pensamentos e sensações do dia a dia com mais equilíbrio e aceitação. Já a meditação transcendental tem suas raízes no hinduísmo, e usa mantras - palavras repetidas silenciosamente - para bloquear distrações. Seu objetivo é atingir um estado de atenção relaxada.
Centenas de estudos avaliaram os efeitos da meditação na saúde, e muitos encontraram benefícios. Mas é difícil realizar testes controlados com placebo nas terapias que envolvem a meditação. Muitas pesquisas simplesmente comparam resultados entre aqueles que praticam meditação com outros que não praticam e é um problema complexo montar experimentos que controlem tudo que possa contribuir para um efeito placebo, que é alto nestes tipos de terapias.
Outra forma de validar os efeitos da meditação seria revelar os mecanismos que a fazem funcionar, e muitos pesquisadores estão fazendo justamente isso. No Grupo de Pesquisas sobre Dor Humana da Universidade de Manchester, os cientistas estão conduzindo testes de percepção de dor em 27 homens e mulheres, metade dos quais pratica meditação. Os voluntários foram expostos a pontadas de dor causadas por um laser em períodos de cinco minutos.
- Descobrimos por meio de exames do cérebro que os praticantes de meditação tinham menos atividade nas áreas associadas com a antecipação. Eles também tinham uma redução da sensação de dor quando comparados com outras pessoas - conta Brown. - Acreditamos que na meditação o foco na respiração, por exemplo, ancora o indivíduo no presente e não no passado ou no futuro. Quando eles experimentam a dor, não a bloqueiam, mas lidam com ela de uma maneira menos negativa. Dessa forma, a meditação deve reduzir a avaliação emocional da dor ou de outros eventos estressantes por retirar a atenção da antecipação de seu sofrimento.
Ação direta no sistema nervoso.
Também foi sugerido que a meditação pode funcionar por afetar o sistema nervoso autônomo, ou involuntário, que regula o funcionamento de muitos órgãos e músculos, controlando funções como a frequência cardíaca, sudorese, respiração e digestão. Ele consiste do sistema nervoso simpático, que prepara o corpo para a ação, como respostas de "lute ou fuja" em que o batimento cardíaco acelera e os vasos sanguíneos se contraem; e o sistema nervoso parassimpático, que diminui o ritmo cardíaco e de respiração e faz os vasos sanguíneos se expandirem, aumentando a circulação. Acredita-se que a meditação reduz a atividade do sistema simpático e aumenta a do parassimpático. Mas de 50 testes clínicos estão sendo realizados para avaliar os efeitos da meditação sobre várias doenças e condições, e como ela funciona
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